Maffesoli ataca: “Opinião virou pensamento”

Naira Hofmeister

A raça humana está perdendo a capacidade de dar sentido às coisas passando pela palavra. A produção contemporânea da inteligetsia não corresponde mais ao que é vivido: esse é atualmente o maior problema da sociedade na visão do cientista social Michel Maffesoli. “Estão mais preocupados com a forma, a moldura, do que valorizar o conteúdo”, atacou o francês.

Maffesoli falou no Fronteiras do Pensamento na noite da terça-feira, 20 de novembro e criticou a obrigatoriedade de a filosofia abordar o que é politicamente, teoricamente e sociologicamente correto. “Desde os tempos greco-romanos, a filosofia se opôs à opinião comum. Hoje, a maioria do que se apresenta como pensamento não passa de um conjunto encantado de palavras”, desabafou. E sentenciou: “Opinião virou pensamento”.

Maffesoli explicou à platéia presente no Salão de Atos da UFRGS que é essa a fronteira que o pensamento contemporâneo deve ousar ultrapassar. “A fronteira, o limite, são maneiras de acessarmos uma outra coisa”, sugeriu.

A mudança de paradigma na produção acadêmica só vai acontecer quando o pensamento deixar de ser crítico para tornar-se radical, acredita o francês. “O verdadeiro pensamento questiona sempre, não traz necessariamente respostas, mas sabe colocar os problemas”, disse, citando Hannah Arendt e Aristóteles.

“Os grandes pensadores da humanidade foram radicais: Marx, Jung, Freud e recentemente, meu amigo falecido Jean Baudrillard”, observou Maffesoli, que acrescentou que o pensamento crítico é conveniente. “A nova maneira de pensar o mundo, é dizer não ao mundo”.

Utilizando-se freqüentes análises etimológicas das palavras que utilizava, o francês entrou no assunto que a platéia esperava ver abordado: a memória. Não sem antes desculpar-se pela longa – e instigante – introdução. “É preciso levar o pensamento à palavra”.

Radicalismo e memória

Analisando a etimologia da palavra radicalismo, Michel Maffesoli chegou ao termo raízes, o que garante a existência de qualquer coisa, acredita o francês. “Uma sociedade só existe por suas histórias, tradições” Ou seja, por sua memória.

A sociedade atual se opõe à tradição judaico-cristã de procurar no além, no longínquo, o objetivo da vida, a perfeição. “Hoje, nosso ideal é próprio da Terra e não do céu”. Segundo Maffesoli, o que está em jogo é a busca voltada para gozar o presente. “Não tente ir além, realize-se aqui e agora”.

O mito da sociedade moderna, na opinião de Maffesoli, foi o progresso. “A característica da modernidade foi o processo de desenraizamento das pessoas e das coisas”. Por vivermos o pós-modernismo, experenciamos uma nova situação, da busca desses extratos renegados no passado.

“Aprendemos a opor progresso e regresso, por isso, não utilizo essa palavra, que possui conotação negativa”, observou, para em seguida, anunciar o termo que prefere: ingresso. “A energia de dentro, interna”, complementou.

“Temos que ter a audácia de pensar, de sermos claros”, desafiou. E disse que um dos sintomas da contemporaneidade pouco difundidos é um retorno ao arcaísmo. “Ao dionisíaco, ao nomadismo, às tribos”.

O que une pessoas em torno de um grupo são suas preferências sexuais, espirituais e culturais. Na opinião do francês, o mundo atual não possui mais lugar para subjetividades. “Não é mais o sujeito agindo sobre o objeto, mas sim, um movimento de vai e vem entre natureza e homem, por exemplo”.

Filosoficamente, essa é uma questão difícil de ser pensada, explicou, pois nossa sociedade aprendeu a consagrar o sujeito como centro do mundo. “Mas assim como aceitamos a morte de Deus, devemos aceitar a morte do sujeito”, concluiu.

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