Por Débora Gallas
A crise da economia mundial desemprega gente e provoca falências? A solução pode ser a terapia espiritual e mística – pelo menos no bairro da moda o mercado místico está se dando bem. Sempre tem freguesia.
Liguei para a tenda Windchime Holística numa segunda-feira, só tinha consultas para quarta-feira. A tenda Cigana agenda visitas também após dois dias de espera.
Portanto, se os leitores estiverem interessados em consultas sobre a vida amorosa ou dicas para investimentos, terão de marcar horário. Mas, se quiserem conhecer um pouco sobre estas terapeutas – quer dizer, cartomantes, não precisam tentar adivinhar. Basta ler esta reportagem.
Então: após uma animada recepção, Dona Mara Teresinha Martines da Silva me conduziu à sua sala de consultas da Windchime. Ela se define como “terapeuta espiritual”. Atende há 13 anos, sempre na rua Fernandes Vieira.
Sorridente, Mara sentia-se à vontade para falar sobre suas capacidades espirituais que, segundo ela, afloraram aos cinco anos de idade.
“Estou neste mundo para ajudar as pessoas. Quando percebi, decidi fazer disso minha profissão”. Ela explica que é uma profissional porque “no momento em que cobro as consultas, torna-se uma profissão”. Seu atendimento custa 50 por uma hora.
Além dos trabalhos místicos, que consistem nas terapias espirituais e de regressão, ela promete “desmanche de trabalhos feitos para o mal”. Para aproveitar tempo e espaço, Mara dá aulas de ioga e taichichuam – basta afastar a mesa das cartas.
O estúdio é uma sala com paredes cor-de-rosa. Numa delas está uma estante cheia de imagens místicas e religiosas de amplo espectro – santos católicos, gnomos nórdicos, ciganas, Iemanjá, Buda, Jesus Cristo…
Por toda sala, centenas de velas coloridas, aparentemente essenciais para o trabalho de Mara: “De alguma forma elas ajudam para cortar a inveja, o ciúme. Também desmancho tudo aquilo que foi feito para prejudicar a pessoas. Nos tratamentos para dar paz espiritual uso as velas”.
Neste cenário, Mara explica algo que a gente já sabia, mas sempre é bom lembrar. Que todos nós, além do corpo e da mente, temos um espírito: “É o espírito que justifica as coisas que acontecem na nossa vida”.
Aí ela vai fundo no campo das contradições filosóficas: “Eu me considero católica, mas a isso se junta a minha parte espiritual, exotérica. O lado católico nos ensina a não acreditar na reencarnação, mas há várias entidades que nos orientam”.
Ela conta a sua história de forma surreal: “Eu, meu filho e a cigana Mara vivíamos na Espanha, na época da Inquisição, séculos atrás. Éramos do mesmo bando de ciganos. Eu fui queimada na fogueira. E voltei nessa vida, junto com o meu filho – que é novamente meu filho. Essa cigana, porém, foi para um nível espiritual superior. Agora, ela sempre sopra no meu ouvido. Ela fala comigo em espanhol mesmo e, às vezes, eu até preciso me concentrar pra entender o que ela me diz”.
Mara garante que em todas as consultas aquela cigana espanhola também está presente. É ela que informa dos problemas daqueles que a procuram. “Muitas vezes, nem preciso abrir as cartas; a cigana já me diz o que está acontecendo com a pessoa”.
E quem procura pelo serviço? “Tenho muitos clientes assíduos. Muitos me procuram quando o lado espiritual está mais desenvolvido do que o da maioria das pessoas. Eles vêem vultos, sonham com coisas que acontecem, têm mediunidade”. Para Mara, o fundamental para haver resultados no tratamento é a pessoa acreditar em Deus.
Ela fala também que é bastante procurada por mães: “Em alguns casos, os pais fizeram o filho sofrer em outra vida. Então, os conflitos continuam, e nem nessa vida eles se dão bem. Meu papel é fazer mãe e filho se compreenderem”.
Outro tema que leva muita gente aos cuidados de Mara nada tem de espiritual: o: “Muitas mulheres vêm aqui com um remorso enorme por terem abortado uma criança”. Mara dá uma bem moderna: “ s pessoas criam uma imagem de que abortar é pecado. Mas não é. O espírito da criança abortada volta em outra ocasião. Explico que o aborto até poder ser bom, pois muitas vezes o filho é concebido em um momento que não é propício para os pais” – aí nem precisa ser adivinha para acertar.
Quando Mara põe as cartas é para fazer um levantamento completo das necessidades do cliente. Nesta hora é que as cartas falam: “Muitas vezes o problema não é espiritual” – quando ela percebe que é coisa da cuca, manda direto prum psiquiatra. “Às vezes, as pessoas culpam o espírito pelo que está errado na vida, mas o espírito não tem culpa”, diz.
Quando longe de seu personagem, Mara leva uma vida normal. Ela, que já foi diretora do Colégio Otelo Rosa, na Avenida Independência, hoje se dedica ao marido e aos filhos – porém, não dispensa os momentos de descontração. Ela gosta bastante de dançar e de passar seu tempo livre com a família e com os amigos. Para se divertir, dança muito: a dança espanhola, a do ventre, a cigana e a de salão.
Dona Mara nunca se desvia de sua missão na Terra: “Estou aqui para mostrar o caminho para as pessoas, porque o destino quem faz somos nós mesmos. Ensino a acender a vela, que tem potência para iluminar os caminhos. Deus nem se mete nas escolhas. Deus é energia. O diabo e a maldade existem, sim. Mas quem vai atrás é o próprio ser humano”.
Na loja Windchime Holística, que fica na Osvaldo Aranha, encontrei Catarina Rosa de Souza. Ela começou a jogar cartas ciganas aos cinco anos de idade. Dos 19 anos em que se dedica à atividade, há três trabalha no local.
Catarina, uma moça bonita e simpática, é mãe-de-santo Ialorixá – seu nome religioso é Mãe Ialorixá Catarina de Oxum Epandá. Isso significa que ela é uma mãe-de-santo guiada pelo orixá Oxum, uma das divindades cultuadas nas religiões afro-brasileiras. Oxum é um orixá feminino que representa, especialmente, o amor, a prosperidade, a sensibilidade, a fecundidade e a beleza.
A mãe carnal de Catarina também é sua mãe-de-santo, e a sua preparação com ritual de sangue, pela nação, o processo de assentamento de todos os orixás em rituais de umbanda e quimbanda, demoraram oito anos para serem completos. Ela esclarece que essa demora é positiva, pois evita que pessoas desqualificadas assumam essa grande responsabilidade.
Catarina atende, em média, de sete a oito clientes por dia. Nas consultas, que duram em torno de 40 minutos e uma hora, a mãe-de-santo é acompanhada por uma entidade – uma cigana – e, através dela, recebe todas as informações fundamentais a respeito do espírito da pessoa. Segundo Catarina, a maior parte dos clientes está em busca de orientação espiritual, procurando respostas para questões como amor dinheiro e trabalho. E ela recebe todo tipo de gente: clientes assíduos, pessoas que nunca jogaram e têm curiosidade, fiéis da Igreja Universal que desejam ver como funciona e até muitos homens. “Tenho recebido quase tantos homens quanto mulheres. Eu diria que eles são 40% de meus clientes – e percebo que esse número continua aumentando”.
A consulta de Catarina consiste na presença espiritual da cigana aliada ao seu lado religioso. Ela afirma que, apesar dos cursos para jogar cartas ou búzios, quem atende alguém com problemas espirituais tem de ter o dom da mediunidade. Catarina oferece rituais de umbanda – que só podem ser feitos por mães-de-santo – e de purificação espiritual, que têm o objetivo de ajudar as pessoas para o bem. “Faço trabalhos de limpeza espiritual através do axé dos orixás e das velas. Depois, esses trabalhos são despachados em locais como rios e pedreiras”. Os rituais de umbanda, por sua vez, são de “descargo”, feitos com ervas e banhos.
Porém, nem sempre as consultas são tranqüilas para Catarina. “Os pais e mães-de-santo acumulam a carga de energia das pessoas, e são propensos a sofrer de depressão porque, muitas vezes, essa energia é negativa. Tem dias que eu saio daqui me sentindo muito mal. Tem gente que me procura pra fazer maldade, e também tem casos como eu precisar dizer para a pessoa que ela – ou alguém próximo – vai morrer, ou que ela está sendo traída. Acabo levando essa energia ruim para a vida pessoal”.
Catarina recebe mensagens espirituais diariamente, mesmo fora das consultas, e afirma que esse contato influencia seu cotidiano até mesmo nas coisas mais simples. “Eu já deixei de sair porque soube que ia acontecer algo de ruim. Mas, às vezes, apenas uso essas dicas para, por exemplo, escolher ir por determinada rua porque na outra há algum tipo de barreira”.
Na vida familiar, esse dom já causou muitos problemas entre Catarina e seu marido, que é evangélico. “Antes ele me criticava em algumas coisas, mas hoje ele aceita bem melhor”. A prova de que a paz reina no lar é que a filha de Catarina, de cinco anos de idade, já está aprendendo a jogar – fato que Catarina pontua com um belo sorriso.
Mercado da sorte em alta no Bom Fim
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Comentários
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Oi Débora.
Muito boa a sua matéria.
Moro no Bom fim e gostaria de conhecer a Tenda da Mara Teresinha, será que vc pode fornecer o telefone dela?
Obrigada e abraços. -
Olá, quero muito encontrar a Catarina. Ela não trabalha mais na Windchime. Será que tens um telefone dela?
Agradeço a atenção.
Um abraço -
olá gostaria de saber se vc conhece onde minha irmã poderia estar aprendendo como ler suas cartas ciganas!!!! Vc tem como me ajudar ou até mesmo me dar estar informação desde já lhe agradeço.
Um abraço
Fabiana -
boa noite dona Mara aqui é a Sandra se lembra e mim, eu sempre tenho a senhora na mina mente e sua familia será possivél a senhora me passar o seu fone e tambem e.mail pois estou prescisado trabalhar , eu seique a senhora conhece bastante pessoas quem sabe tenha uma vaga de emprego paa mim.esou aguardando obrigado
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adorei a materia gostaria do telefone da catarina poderia me conseguir porfavor???
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Gostaria que me mandasse o telefone e endereço da tenda da da Mara,se for possivel muito obrigado!
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