Mino Carta: "No Brasil ainda temos muito medo"

Ao cair da tarde de domingo (10/11) no coração da Feira do Livro de Porto Alegre o jornalista Mino Carta foi entrevistado pelo radialista Ruy Carlos Ostermann diante de uma platéia de 100 pessoas reunidas no salão oeste do Santander Cultural.
O gancho do papo era o livro O Brasil (Record, 2012) no qual o genovês Mino, nascido em 1933, repassa sua visão do país ao qual chegou às vésperas da Copa de 1950 como aprendiz de repórter esportivo. “Não é um livro de memórias, pois não me acho com nível para tanto – memórias são para Churchill ou De Gaulle”, disse o autor, do alto dos seus mais de 60 anos de atuação na mídia nativa.
Inovador e combativo, ele fundou a revista Veja, criou a Istoé e mantém o semanário Carta Capital. Marcados por fina ironia – inclusive em relação a si mesmo, como quando se gaba de ter dirigido a revista Quatro Rodas mesmo sem saber guiar um carro –, seus comentários e observações podem ser assim resumidos:
“Diz-se que a mídia impressa está em xeque. Discordo. A internet apenas aumentou a avalanche de informação a que já estávamos submetidos pelo rádio, a TV e a imprensa. O que falta é qualidade.
“A mídia nativa sempre serviu ao poder mas antigamente tinha mais qualidade.
“Nossa imprensa aposentou o jornalismo investigativo.
“Os 350 anos de escravidão pesam muito na cultura brasileira”
“É um equívoco dizer que a ditadura de 64 foi militar. Foi civil-militar.
“O golpe de 64 veio para interromper um processo que teria sido muito bom. Estava em vias de se criar uma indústria que daria origem a um proletariado que poderia ter criado o Brasil moderno. Quando digo moderno, não quero dizer socialista. Moderno é ser equânime, igualitário.
“As elites falam do Bolsa Família como se fosse uma esmola, mas esse projeto de inclusão social é admirado na Europa e começa a ser imitado em muitos países”
“Getulio Vargas é a maior figura política do Brasil. Ele tinha um projeto nacional que expressou através da criação das leis trabalhistas (1934), do salário mínimo (1940), da CSN em Volta Redonda (1942) e da Petrobras (1953).
“JK entregou o país ao carro”.
“O verdadeiro partido de oposição no Brasil é a mídia nativa“
(Respondendo a uma pergunta sobre o comportamento cauteloso da Comissão da Verdade): “No Brasil ainda temos muito medo” (dos arapongas, dos policiais e dos militares).
“A mídia nativa torce para que as manifestações populares atrapalhem a reeleição de Dilma.
“Não arrisco um palpite sobre a reeleição de Dilma, mas se Lula concorrer no lugar dela, ganha. Lula é imbatível.
“No Brasil faltam lideranças nítidas.
(Respondendo a uma pergunta sobre o que acha de Tarso Genro): “Nós o apoiamos em vários momentos, mas ele fez uma besteira inominável que interrompeu nossa relação: foi quando, como ministro da Justiça, junto com o senador Suplicy, cuja sanidade mental é discutível, resolveu dar asilo político a um ladrãozinho e estuprador” (refere-se ao italiano Ricardo Battisti)
(Sobre a bancada ruralista): “Estamos cansados de saber que a casa grande gosta de trabalho escravo”

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