Adriana Lampert
A temporada gratuita de Aos que virão depois de nós – Kassandra in Process foi prorrogada. O espetáculo está em cartaz no teatro Elis Regina (Usina do Gasômetro – somente às sextas-feiras, às 21 horas), dentro do Projeto Gestação Cultural. Este seria o último final de semana da peça, mas devido ao sucesso, a Tribo de Atuadores Oi Nóis Aqui Traveis resolveu aumentar o número de apresentações e mantém a montagem até o início de dezembro no mesmo horário e local.
Os interessados devem chegar antes das 20h, porque a fila para distribuição de senhas tem sido concorrida e há somente 25 lugares por apresentação. “Já chegamos a mandar umas 100 pessoas para casa”, explica Pedro De Camillis, que inicia a entrevista ressaltando que tudo que for dito é “em nome de todos os 20 integrantes da Tribo de Atuadores Oi Nóis Aqui Traveis”.
Aos que virão depois de nós … recebeu patrocínio da Petrobras, através da Lei Rouanet e ganhou quatro troféus do Prêmio Açorianos em 2003: melhor espetáculo, produção, trilha sonora e atriz coadjuvante. O espetáculo se tornou livro: Aos que virão depois de nós Kassandra in Process – O Desassombro da Utopia, organizado pelo jornalista paulista Valmir Santos (à venda na bilheteria do teatro por R$ 30,00) e ganhou versão em DVD: Aos que virão depois de nós Kassandra in Process – A Criação do Horror, que deverá ser lançado antes do final do ano. O livro e DVD fazem parte do Projeto Ói Nóis na Memória que tem por objetivo registrar os 27 anos de história do Ói Nóis Aqui Traveiz.
“No DVD é possível perceber – através das intenções dos atores e das relações com o público – que em cada apresentação o sentido da cena modifica. Atuadores e público ditam o sentido da cena”, explica Camillis. O DVD duplo é uma co-produção do grupo com a Catarse Coletivo de Comunicação. Em um CD está o espetáculo na íntegra e, no segundo, fotos, músicas, depoimentos, entrevistas com os atuadores e projetos da turma da Terreira da Tribo.
O livro publicado no final de 2004 está na sua segunda edição, lançada em setembro. Quem distribui em todo o Brasil é a Tomo Editorial. A nova edição foi toda revisada, e foram acrescentadas fotos, além da nova capa. O conteúdo é basicamente todo sobre o espetáculo, seu roteiro, e textos de Valmir Santos e outros críticos e diretores de teatro de outros estados brasileiros comentando a montagem. Além disso, traz fotos e conta um pouco do início do grupo. Complementa a cronologia dos 18 aos 26 anos do Oi Nóis… sendo uma continuação do livro Atuadores da Paixão.
O espetáculo Aos que virão depois de nós – Kassandra in Process estreou pela primeira vez em setembro de 2002. A montagem é uma livre inspiração da novela Cassandra de Christa Wolf e reescreve o mito da queda de Tróia dentro de uma visão feminina, invertendo a lógica sexista antiga. A novela de Christa Wolf foi recortada e comprimida através de um processo de colagem com autores como Eurípedes, Albert Camus, George Orwell e Beckett. “Fala de uma guerra que foi paradigmática para a construção do imaginário do Ocidente, para todas as outras guerras, e serviu de modelo para um ideal heróico masculino baseado no desejo de poder e destruição da alteridade”, resume Carla Moura, que integra o elenco, ao lado de Tânia Farias (intérprete de Kassandra). “Fizemos este espetáculo porque queríamos falar sobre a barbárie da guerra e sobre a importância da vida acima de tudo”, completa Camillis.
Ele conta que a montagem do cenário no Teatro Elis Regina precisou de adaptação, em função do espaço. “O que seria uma visão de fábricas nos fundos da Terreira, é agora uma vista para o Rio Guaíba. Isto por si só já muda a leitura que o público faz de uma das cenas do espetáculo”, diz o atuador. Segundo ele, para o grupo reproduzir a estrutura do cenário criado para dentro da sede da Terreira da Tribo, precisou forjar caminhos dentro do Teatro Elis Regina, através de um pesado trabalho de dois meses de carpintaria, feito passo a passo. “Mas o principal em Kassandra…e de outras montagens do Oi Nóis é a idéia do teatro de vivência, da relação que o ator precisa travar com o público. Durante as três horas do espetáculo o ator vai estar procurando o público para se tornar próximo do espectador”, resume.

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