Matheus Chaparini
Quem passa pela esquina da avenida Borges de Medeiros com a rua Demétrio Ribeiro percebe uma novidade na fachada da tradicional Cinemateca Capitólio: o letreiro Petrobras.
A inclusão do nome da empresa é uma exigência do projeto de modernização, financiado pela Petrobras através de Lei de Incentivo à Cultura.
O preço dos ingressos também mudou recentemente, de R$ 10 para R$ 16. Sessões especiais, mostras e festivais seguem com o valor antigo.
As novidades vão além. A parceria permitiu a aquisição de um novo projetor digital, uma programação intensa para 2017 e a digitalização do acervo do Capitólio.

O diretor do Capitólio, Cristiano Trein, reconhece que a mudança do nome de um local tão tradicional da cidade gera polêmica. “A Prefeitura questionou, o governo do Estado questionou, a Fundacine questionou.” Trein afirma que a mudança do nome está prevista no acordo com a empresa. “A Petrobras entrou por causa dos naming rights. Faz parte da estratégia de marketing cultural deles.”
Na opinião do diretor, a marca da empresa não foi colocada de forma invasiva e não descaracterizou o Capitólio. Em relação ao debate sobre se o valor investido pela petroquímica justificaria a contrapartida, ele é taxativo: “Não tem muito o que discutir. É procurar pêlo em ovo.”
Petrobras participou também da reforma
O Cine-Theatro Capitólio foi inaugurado em 1928. O prédio foi projetado e construído pelo engenheiro Domingos Rocco e seu primeiro proprietário foi Luís Fallace. O Capitólio possuía um equipamento moderno para a época, com 1.295 lugares para espetáculos variados. Além de filmes, a casa recebeu apresentações de ballet e teatro, e até concursos de misses.
O cinema viveu momentos de apogeu e decadência e passou por um incêndio. Na década de 1990 a construção foi tombada pela Prefeitura.
Em 2004, teve início uma ampla reforma que durou mais de dez anos. O custo total da reforma chegou a R$ 6,2 milhões. A Petrobras arcou com cerca de R$ 4 milhões, através da Lei Rouanet. O restante foi pago por BNDES, Ministério da Cultura e Prefeitura de Porto Alegre.

Para 2017, o recurso investido pela empresa foi de R$ 738.659,80. Deste valor, aproximadamente a metade foi destinada para a aquisição do projetor. O restante será investido na programação e na digitalização do acervo. O projeto foi aprovado pela Fundacine.
O diretor da cinemateca explica que o sistema de parcerias é uma estratégia da atual gestão. “Essa gestão Marchezan-Alabarse aposta no sistema de OS. Essas fundações sem fins lucrativos são muitos funcionais para os aparelhos públicos de cultura e podem ajudar na operação”, defende.
A programação prevista para o ano inclui seis mostras de cinema e seis workshops. Duas destas mostras acontecem no mês de maio. Entre os dias 4 e 7 de maio, a cinemateca recebe o festival É Tudo Verdade, principal mostra de documentários do país. É a primeira vez que Porto Alegre sedia o festival, que passa também por Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.
De 19 de maio a 4 de junho, acontece o festival Fantaspoa, de cinema fantástico, que inclui fantasia, ficção científica, horror e thriller.
Acervo terá mais de 50 mil peças digitalizadas
A terceira parte do projeto é a digitalização do acervo da cinemateca. São mais de 50 mil itens, entre filmes, cartazes, livros, matérias publicadas em jornais, entre outros. Somente filmes, são aproximadamente dez mil. A biblioteca do Capitólio possui cerca de mil livros sobre cinema. O acervo da Usina do Gasômetro foi incorporado ao Capitólio.
Segundo o coordenador de cinema Marcus Mello, o grosso do acervo é a produção de longas e curtas do Rio Grande do Sul desde o final da década de 1980.

O acervo do capitólio guarda alguns dos mais conhecidos filmes gaúchos, como Anahy de las Missiones, de Sérgio Silva, O Homem que Copiava, de Jorge Furtado, e o clássico dos anos 80 Verdes Anos, de Carlos Gerbase e Giba Assis Brasil.
Há também filmes mais antigos. Os formatos são os mais diversos, 35mm, VHS, DVD, Blue Ray. “São filmes que se não forem digitalizados podem se perder para sempre”, defende o diretor Cristiano Trein.
Não estão contabilizadas aí peças que estão em processo de catalogação. “Nós recebemos muitas doações. Todo dia chega coisa nova”, afirma o coordenador de cinema, Marcus Mello.
Recentemente, o Capitólio recebeu em uma única doação, mais de 15 mil peças. Trata-se da coleção pessoal de Telmo Kersting, doada pela família. São mini-cartazes de divulgação de filmes. “Eram cartazes iguais aos da porta do cinema, porém menores. No verso, vinham informações como sinopse e críticas. Eram muito usados no tempo que não havia internet”, explica Mello. Segundo ele, Kersting foi uma dos maiores colecionadores deste tipo de cartazes do Brasil.

Atualmente, a equipe da cinemateca realiza um levantamento de todos os longas-metragens já produzidos no Estado. Mello estima que sejam aproximadamente 200. Entre os filmes buscados está Crime dos Banhados, lançado em 1914, em Pelotas, considerado o primeiro longa metragem produzido no Rio Grande do Sul.
Parte deste trabalho inclui pesquisa em jornais por matérias sobre exibição de filmes antigos dos quais não se conhece o paradeiro.
Após a digitalização, o objetivo é começar a prospectar, ou seja, ir atrás de mais material para ampliar o acervo. Neste processes, devem se envolver universidades que oferecem cursos de cinema.

Ainda neste semestre, o Capitólio vai adquirir um banco de dados para organizar as informações relativas ao acervo e facilitar o acesso a elas. O banco de dados também é parte do projeto em parceria com a Petrobras.
A equipe da cinemateca já projeta uma renovação da parceria para 2018. Para a próxima etapa, o diretor Cristiano Trein quer incluir a restauração de películas. O processo é complexo e é realizado pela cinemateca brasileira, localizada em São Paulo.
O conteúdo da película é passado para o formato de vídeo em alta qualidade. A próxima etapa é a correção das imperfeições. Em seguida, o material é digitalizado. O arquivo digital pode inclusive ser passado novamente para película. “Tem muita coisa espalhada, nossa ideia é reunir tudo aqui, mas sem retirar dos locais onde hoje estão. Vamos fazer cópias”, defende Marcus Mello.
Novos tempos na Cinemateca Capitólio
Escrito por
em
Adquira nossas publicações
texto asjjsa akskalsa

Deixe um comentário