Quatro mulheres e quatro homens na disputa pela prefeitura de Porto Alegre. Se as eleitoras votarem só em mulheres, uma delas vence. Acontece que entre os mais de um milhão (1.038.885) de eleitores na Capital gaúcha, as mulheres são maioria, exatos 93.501 votos a mais.
A realidade se repete no Estado, com diferença ainda mais acentuada: 293.119 eleitoras a mais, em quase oito milhões de pessoas habilitadas a votar de Aceguá à Xangrilá, nas 173 zonas eleitorais dos 496 municípios gaúchos. É o quinto maior colégio eleitoral do Brasil, com 7.925.459, o que representa 6,068% do total nacional.
Tudo indica que a eleição não vai se decidir em primeiro turno, no dia 5 de outubro. É que além do apelo feminino nas urnas, o atual prefeito concorre à reeleição e ainda há dois deputados na disputa, um federal e um estadual. Ou seja, todos têm ou deveriam ter o que mostrar à população em termos de realizações. O segundo round é dia 26 de outubro.
A campanha começou devagar, uma caminhada na Rua da Praia, panfletagem na Esquina Democrática, barraquinhas no Largo Glênio Peres, um bate-papo nos altos do Mercado Público, um debate na rádio A, outro na tevê C, alguns comitês recém inaugurados, outros, desorganizados. O clima promete esquentar mesmo daqui há um mês (19 de agosto), quando começa a propaganda eleitoral nas emissoras.
Juntas, as quatro candidatas registraram na Justiça Eleitoral estimativas de gastos na campanha que ultrapassam R$ 9 milhões. Mais da metade (R$ 4,8 milhões) foi declarado pela coligação Frente Popular, que tem na chapa Maria do Rosário e Marcelo Daneris, ambos do Partido dos Trabalhadores. Completam a Frente PSL, PTC e PRB.
Em segundo lugar na previsão de gastos ficou a coligação Porto Alegre é mais, com Manuela D’Ávila e Berfran Rosado. Prevêem gastar R$ 3,5 milhões. Manu representa o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e Berfran, o Partido Popular Socialista (PPS). Outros cinco compõe a chapa: PR, PMN, PTN, PT do B, e PSB.
A estimativa de gastos na campanha pela coligação Sol e Verde, de Luciana Genro, do Partido Socialismo e Liberdade (PSol), e Edison de Souza, do Partido Verde (PV), foi de R$ 700 mil. E a previsão da coligação Frente de Esquerda, de Vera Guasso e Humberto Carvalho, ambos do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), é de investir até R$ 50 mil.
Mais de meio milhão de reais em bens
O patrimônio das candidatas, declarado ao TSE, soma R$ 639,1 mil. Rosário declarou bens no valor de R$ 335,6 mil, uma casa na Capital gaúcha, um carro, um plano de previdência e um saldo bancário. Seu vice, o vereador Danéris, 37 anos, declarou como patrimônio um apartamento de R$ 46 mil.
Luciana tem um apartamento financiado e um carro que somam R$ 120 mil. Seu vice, o advogado porto-alegrense, de 55 anos, registrou R$ 635 mil em bens, de dois imóveis, dois carros e dois estabelecimentos comerciais. Vera também declarou possuir um apartamento e um carro, que somam R$ 71 mil, e seu companheiro na chapa, porto-alegrense, membro do Ministério Público do Estado, de 65 anos, declarou possuir quatro imóveis e dois carros no valor total de R$ 389 mil.
Já, Manuela registrou como patrimônio um carro de R$ 42,5 mil e seu vice, engenheiro de Rosário do Sul, 50 anos, registrou R$ 311 mil, divididos em um apartamento na Capital, um terreno na praia e um carro.
Entre os homens que disputam o Paço Municipal, o maior patrimônio foi apresentado por Paulo Rogowski (PHS), com R$ 1,09 milhão, seguido do deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM), com R$ 681,80 mil, e do atual prefeito, José Fogaça (PMDB), com R$ 508 mil. O deputado estadual Nelson Marchezan Júnior (PSDB) informou não possuir bens.
Marcadas pela defesa de ideais
As quatro candidatas prometem fazer desta uma eleição histórica. Todas são de esquerda, se é que ainda existe essa definição. Três são deputadas federais com altos índices de votação em pleitos anteriores.
A quarta é funcionária pública, sem experiência parlamentar, mas não menos combativa. Todas têm forte participação nos movimentos sociais. Elas negam, mas exploram a beleza física em seus materiais publicitários.
Luciana Krebs Genro, santamariense de 37 anos, casada e um filho, é professora de inglês e deputada federal. Começou a militância estudantil do colégio Júlio de Castilhos, aos 14 anos. Em 1994, foi eleita deputada estadual com 17 mil votos pelo PT, pautando seu mandato na luta contra as privatizações da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e Companhia Rio-Grandense de Telecomunicações (CRT). Foi reconduzida ao parlamento gaúcho em 1998 com o dobro dos votos, 36 mil.
Em 2002, ganhou 100 mil votos para deputada federal. Entrou em choque com a política do governo Lula ao combater a reforma da Previdência – fato que provocou seu rompimento e expulsão do PT, em dezembro de 2003. No ano seguinte, participou da formação do PSol. Em 2006, foi eleita a deputada federal mais votada em Porto Alegre, com mais de 185 mil votos.
A mais jovem das candidatas é Manuela Pinto Vieira D’Ávila. Porto-alegrense de 26 anos, jornalista e deputada federal, Manu começa a colecionar recordes. Foi a vereadora mais jovem da história da Capital gaúcha, eleita em 2004, e a deputada federal mais votada do Estado, em 2006, com 271.939 votos.
Começou a atuar no movimento estudantil em 1999, quando filiou-se à União da Juventude Socialista (UJS). Em 2001, ingressou no Partido Comunista do Brasil. Nos dois anos seguintes, integrou a direção nacional da UJS e a vice-presidência Sul da União Nacional dos Estudantes (UNES). Sua campanha tem marca registrada – “E aí, beleza?” -, que busca a identificação com o jovem, público para o qual prioriza sua atuação parlamentar.
Maria do Rosário Nunes, 41 anos, casada e um filho, é a mais experiente. A professora de Veranópolis foi vereadora de Porto Alegre por dois mandatos, deputada estadual e já está no segundo mandato na Câmara Federal.
Iniciou a militância no movimento estudantil secundarista e no Centro de professores do Rio Grande do Sul (Cpers/Sindicato). Seu trabalho envolve principalmente a proteção aos direitos humanos e de crianças e adolescentes.
Já, a presidente estadual do PSTU, Vera Justina Guasso, é a mais combatente no que diz respeito aos direitos dos trabalhadores. Natural de Santiago, 45 anos, uma filha, é técnica em informática e servidora pública federal. Trabalha no Serviço de Processamento de Dados (Serpro).
Sua luta política começou ainda na adolescência, contra a ditadura militar, e segue, hoje, através do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados do RS (Sindppd-RS) e da coordenação nacional da Conlutas. Vera já disputou eleições à Câmara Municipal de Porto Alegre, Assembléia Legislativa, Prefeitura de Porto Alegre e Senado, não vencendo nenhum dos pleitos.