O lírico e o onírico da obra de Zoravia Bettiol está no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs). É um acontecimento raro no cenário das artes plásticas do Brasil. E uma oportunidade para os gaúchos homenagearem em vida, com a forma mais correta – uma grande exposição – sua artista mais representativa.
Abertura ao público a partir desta quarta-feira (26), a exposição tem curadoria dos historiadores e críticos de arte Paula Ramos e Paulo Gomes. Eles trabalharam com obras efeitas ao longo de seis décadas, e deram à mostra o nome de “Zoravia Bettiol- o lírico e o onírico” para assinalar os 80 anos de vida da artista e 60 de profissão. Os curadores definem a empreitada como “um exercício de síntese de sua numerosa e prolífica produção”.

A exposição é composta por desenhos, pinturas, gravuras, arte têxtil, objetos, ornatos e joias, além de registros de performances. Entre os destaques, a série Sentar, sentir, ser, iniciada em 2005 e concluída em 2016. Surgida a partir da reflexão do grande tempo que as pessoas permanecem sentadas, diariamente, a série exibe a própria artista em poses e situações engraçadas, realizando distintas ações que podem ser feitas enquanto se está, justamente, sentado, tais como: comer, legislar, celebrar, fofocar, magicar etc. Solta no espaço, em meio à representação de elementos e adereços que identificam as atividades empreendidas, a artista desponta em composições de cores cítricas e ridentes, que articulam fotografia, desenho, pintura e colagem.
Outro destaque está no conjunto completo de xilogravuras para a lenda A salamanca do Jarau, publicada por Simões Lopes Neto (1856–1916) em seu livro Lendas do Sul (1913). Zoravia ilustrou o texto no final dos anos 1950, produzindo 27 imagens que serão expostas pela primeira vez em sua totalidade, acompanhadas por vários estudos preparatórios.
Trajetória da artista
Zoravia Bettiol (Porto Alegre, RS, 1935) iniciou sua trajetória no campo das artes visuais em 1952, quando ingressou no Instituto de Belas Artes (IBA), atual Instituto de Artes da UFRGS. Esse é o marco da carreira de uma artista que transita por diversos gêneros e suportes: pintura (sua ênfase acadêmica), gravura, desenho, arte têxtil, criação de joias e de objetos, design de superfície, performances e instalações. Com obras em acervos de alguns dos mais importantes museus de arte do mundo, Zoravia já realizou 136 exposições individuais, tendo apresentado o seu trabalho em pelo menos 21 países.

Em 1956, ela começou o seu percurso na gravura, quando passou a frequentar o ateliê do escultor e gravador Vasco Prado (Uruguaiana, RS, 1914 – Porto Alegre, RS, 1998), com quem dividiu grande parte da sua vida artística e afetiva. Casou-se com Vasco em 1959, construindo com ele uma família que originou três filhos, em uma relação que perdurou por 24 anos. Administrou a carreira de ambos. Sua produção em gravura e, em especial, em xilogravura, valeu-lhe diversos prêmios e o reconhecimento nacional e internacional.
Linguagem de uma geração
No final dos anos 1960, encantada com as possibilidades da arte têxtil, lançou-se a essa técnica, instaurando uma linguagem que pautaria a produção de toda uma geração. O têxtil, por sua vez, a conduziria às joias e essas aos headdresses, costumes e performances. Apesar da pluralidade, há uma inconteste unidade, manifestada nos temas e nas linguagens, bem como no aspecto narrativo de suas obras.
Ao lado de suas pesquisas formais e de sua intensa produção artística, impossível esquecer o ativismo. Os interesses ecológicos, sociais e a crença em um mundo mais justo e fraterno movem-na incansavelmente. Revelar toda essa energia, esse modo de ser, pensar e criar está na base conceitual da exposição, Zoravia Bettiol – o lírico e o onírico.

Serviço
Exposição ZORAVIA BETTIOL – O lírico e o onírico
Curadoria de Paula Ramos e Paulo Gomes
Visitação de 26 de outubro a 11 de dezembro de 2016
Terça a domingo, das 10h às 19h
MARGS Ado Malagoli www.margs.rs.gov.br
Praça da Alfândega, Porto Alegre/RS
Retrospectiva de 60 anos da arte de Zoravia Bettiol no Margs
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