Sede própria e renovação, os desafios da Agapan

FELIPE UHR
“No principio, eram poucas pessoas imbuídas de um sincero desejo de preservar a natureza. Sentiam a necessidade urgente de agir, mas não tinham recursos nem patrocinadores”.
“Não tinham nem onde se reunir e alguns, vistos como subversivos, tinham até ficha nos órgãos de segurança do regime militar. Mas seu maior desafio foi afrontar o medo e a indiferença da maioria dos seus contemporâneos”.*
Algumas dezenas de pessoas, reunidas no auditório do INPS, no centro de Porto Alegre, assinaram a ata de fundação da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, Agapan, na noite de 27 de abril de 1971.
Só um mes depois a imprensa registrou o fato e isso porque os líderes do grupo – José Lutzenberger e Augusto Carneiro – foram à redação do Correio do Povo  levar a notícia e ainda tiveram que redigir a pequena nota para ser publicada.
“Éramos considerados loucos” lembra o ex-presidente, dirigente e associado desde aquela época, Celso Marques.
O advogado Caio Lustosa, outro entusiasta  da causa ecológica, entrou na Agapan um ano depois da fundação lembra dos empecilhos e das barreiras dos primeiros anos:
“Era um momento difícil, enfrentar o chamado desenvolvimento a qualquer preço, aquela história de criação de indústrias para gerar emprego, sem olhar os impactos”.
A primeira campanha foi pela arborização de Porto Alegre e a imagem símbolo é a do estudante trepado numa tipuana para impedir sua derrubada para dar passagem a uma elevada.
Mas o discurso ambientalista só ganhou audiência quando começou a funcionar em Guaiba a Celulose Borregaard.
O mau cheiro exalado das chaminés atingia a capital e tornou-se prova concreta do que os ecologistas diziam quando falavam em poluição industrial.
A associação não parou mais: desmatamentos, grandes empreendimentos, poluição dos rios e do ar. Onde houvesse uma ameaça ou agressão ao ambiente, a Agapan estava presente.
Chegou ao ponto de influir na formulação de leis, como foi o caso da Lei dos Agrotóxicos, restringindo o uso agrícola de veneno, na época chamados de defensivos agrícolas.
Pouco tempo depois, nove estados apresentaram leis semelhantes, baseadas na aprovada na Assembléia gaúcha.
“Não somo contra o desenvolvimento, somos contra projeto sem discussão, sem o entendimento dos impactos ambientais” destaca o vice-presidente da entidade Roberto Abreu.
Aos 45 anos, a Agapan vive uma outra realidade, assistindo inclusive um retrocesso na legislação ambiental que ela ajudou a criar.
Internamente, as dificuldades começam na de idade de seus integrantes. A instituição está ficando velha e renovação ao longo dos anos praticamente não aconteceu.
Seus atuais e ativos integrantes continuam sendo os mesmos de 45 anos atrás. “A juventude se identifica com a nossa causa, mas é menos regrada com essas coisas de normas de uma instituição o que dificulta a adesão” avalia um dos sócios fundadores e ex-presidente, Alfredo Gui Ferreira.
Poucos sócios, que participam das ações da entidade, são jovens.
Apesar disso o vice-presidente Roberto destaca os pontos positivos perante aos jovens: “Tentamos e estamos conseguindo uma aproximação e integração com outros movimentos que de uma certa forma estão do mesmo lado” apontou.
Ele se refere a grupos como o coletivo “A Cidade Que Queremos” e ao “Movimento Cais Mauá de Todos” que hoje luta contra a construção de um shopping, com estacionamento, dois prédios comerciais e um residencial a beira do Rio Guaíba.
O outro problema é uma sede. Sete meses sem um lugar para seus arquivos e reuniões, esse é um dos maiores desafios que a entidade tem no ano de 2016. “A necessidade de uma sede é imperiosa” avalia o presidente Leonardo Melgarejo.
A entidade recebeu uma promessa de um espaço, cedido pela Prefeitura, mas a casa que foi concedida, no Bairro Petrópolis, não apresenta condições de habitação e necessitaria de uma reforma de valores altos. “É uma casa bem ampla, até mais do que precisamos, mas não há condições” argumenta Roberto.
Mesmo com as dificuldades a Agapan continua pregando e agindo efetivamente naquilo que sempre se propôs a fazer: discutir e conscientizar sobre os efeitos que certas atividades podem produzir para o meio ambiente e na sociedade.
*Do livro “Pioneiros de Ecologia”, de Elmar Bones e Geraldo Hasse, JÁ Editores, 2001.

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