O senso comum acredita que o jornal e a revista impressos morreram (ou vão morrer) por causa da internet e dos meios digitais.
Não se leva em conta que esse é (também e principalmente) o discurso dos “donos da tecnologia digital”, com seu viés de dominação e colonização cultural.
Na história da evolução (ou involução?) humana, não há o caso de uma tecnologia que tenha eliminado a outra.
Assim como a sofisticada tecnologia do radar não extinguiu os balões de investigações atmosféricas e o telefone não extinguiu o telégrafo, é improvável que o digital extinga o impresso.
O uso do papel como plataforma para difusão de informações remonta a 1.500 anos, pelo menos 300 anos na forma de jornais e revistas.
O papel impresso chegou a ser o principal meio de difusão de informações, as ideias veiculadas nas primitivas gazetas revolucionaram o mundo.
Foi superado pelos meios eletrônicos do Século XX, mas não perdeu sua relevância, básicamente por suas faculdades de síntese, de portabilidade, de documento.
Será totalmente descartado, agora, com a emergência das novas tecnologias digitais do século XXI, que além de plataformas ilimitadas oferecem a difusão instantânea, sem limites de informações?
“O novo transforma o antecessor em forma de arte, “, dizia Marshall Mcluhan, E exemplificava: “Quando escrever era novo, Platão transformou o velho diálogo oral em forma artística”.
O impresso terá, portanto, que se adaptar à nova realidade e, quem sabe, tirar proveito dela. O papel e o digital podem ser plataformas complementares, com alta sinergia.
Para ficar no local:
A Zero Hora “print’, como diz Nelson Sirotsky, tem 40 mil assinantes, contrariando até as expectativas da Casa. Não é indicativo que existe um mercado?
Considere-se que a ZH é um caso exemplar de uso inadequado do papel como plataforma para difusão de informações.
O papel não tem mais como dar conta do “noticiário”, os fatos estão na internet em tempo real, ao vivo, a cores e com imagens, assim como as opiniões e os pitacos dos “influencers”.
O impresso vai sobreviver na medida em que ganhar um novo conteúdo, capaz de identificar e fixar as conexões que são voláteis e dispersas na internet. Tem que tirar proveito de suas qualidades, da permanência e da prova.
Teremos nós, jornalistas, que aprender a produzir esse novo conteúdo na prática, porque ainda não há uma teoria. Isso é o que intimida.
É mais fácil (ou cômodo) acreditar que o dono da tecnologia está certo.