MARCIA TURCATO/ A desinformação e o ataque às mulheres jornalistas

Por Márcia Turcato*

A máxima “informação é poder” foi atualizada para “desinformação é poder”.  A desinformação é uma estratégia global e concorre com a ética na informação. A desinformação integra o arcabouço das convicções ideológicas e para combatê-la um importante passo a ser dado é deixar de chamá-la de fake news. Uma notícia, por definição, não é falsa, ela foi apurada com ética por um/uma jornalista profissional. Falsas são as narrativas publicadas em portais que, embora pareçam ser sítios de notícia, publicam conteúdo sem responsabilidade social com o objetivo de prejudicar a capacidade de avaliação da audiência.

Conhecidas como fake news, as versões distorcidas da informação se apropriam de algum traço da realidade de forma a conferir credibilidade às teses de grupos de ideologia indefensável.  A desinformação imita o jornalismo na forma, mas não nos procedimentos. São criados personagens e inventados fatos para construir mentiras estratégicas para que pareçam verídicas e ganhem impulso nas redes sociais e, com isso, conquistar a simpatia de cidadãos de boa fé.

Em alguns casos, o discurso não é alterado, mas é feita edição das imagens, modificando a velocidade dos frames, ou o áudio da gravação, para que o protagonista aparente estar alterado e perca credibilidade junto a plateia. Essa é outra face da manipulação tecnológica que precisamos enfrentar.

Embora já exista um esboço de controle, as redes sociais ainda são um mundo de penumbra, onde nem sempre é possível identificar autores e seus propagadores. É um espaço sem impressão digital. Não sabemos de fato quem está teclando e não há regras claras sobre o seu uso. No entanto, é preciso reconhecer a importância da comunicação digital na sociedade e a popularização, a baixo custo, da produção de conteúdo que ela proporciona.

Nessa terra árida que é a web, as mulheres que exercem a profissão de jornalista são as maiores vítimas de ataques de toda a natureza. Em 2021, o relatório da Abraji- Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, identificou 1.270 agressões contra veículos de imprensa, sendo que em 91,3% dos casos o ataque foi contra mulheres jornalistas que haviam assinado os artigos publicados.

O relatório da Abraji aponta uma tendência de misoginia, machismo e descalabro que cresceu a partir de 2018 com a chegada de Jair Bolsonaro à presidência da República. O ataque às jornalistas, e às mulheres de um modo geral, parece refletir uma tendência de comportamento coletivo que imita o perfil do chefe do Executivo federal.

Diante desses fatos, é urgente a formação de um grupo temático que discuta o que é informação, identifique as estratégias de desinformação em circulação no Brasil, suas conexões no mundo da web, atue para encontrar caminhos que exponham essa rede global da desinformação como uma ferramenta de manipulação ideológica e crie mecanismos de proteção para os profissionais da imprensa. Para isso é fundamental discutir os temas relacionados a desinformação, regulação do uso das redes sociais, informação e poder, desinformação e governabilidade, informação e ética e deepweb (web profunda, que não pode ser acessada por mecanismos de buscas).

*Jornalista profissional formada na UFRGS, autora do livro “Reportagem: da ditadura à pandemia”.

Um comentário em “MARCIA TURCATO/ A desinformação e o ataque às mulheres jornalistas”

  1. “…regulação do uso das redes sociais, informação e poder, desinformação e governabilidade, informação e ética e deepweb …”, ou seja, vamos CENSURAR as “mentiras” dos outros. Somente nossa “verdade” é válida.

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