O silêncio dos inocentes

A sociedade precisa de um gigantesco tratamento psicológico.
O aterramento de um poço com 15 metros de profundidade exige uma mão de obra que nunca deixará de chamar a atenção de pessoas que vizinham com o local. No entanto, um casal, assassinado por traficantes de drogas, foi sepultado nesse local no início deste mês. Houve o aterramento e as pessoas que notaram o movimento ficaram silenciosas. Isso aconteceu em Gravataí, numa área sabidamente usada por bandidos. Somente quarta-feira última houve o resgate que, evidentemente, foi possível através de informantes cuja identidade deve permanecer no mais absoluto sigilo. Foram necessárias duas escavadeiras num trabalho desenvolvido por mais de três horas até que aparecessem os corpos de José Oscar dos Santos, 41 anos, e de Sandra Naira dos Anjos da Silva, 41 anos. Sandra era viúva de um traficante e, José, trabalhava para ela. Ambos estavam algemados, amordaçados e com os rostos cobertos com sacos plásticos, nos estilo que foi ensinado pelo melhor filme brasileiro do ano, Tropa de Elite. Sigam-me.
Tratamento
O retardamento da denúncia sobre o local onde os corpos foram enterrados pode ser considerado normal. A população, de um modo geral, está com medo. E esta sensação se agrava nos locais em que a bandidagem se instala para gerir o tráfico de drogas e de armas. Envolver-se num episódio como o que ocorreu em Gravataí corresponde a colocar a vida em jogo. Há quem defenda que a criminalidade indica que a sociedade está doente. O criminoso, segundo este raciocínio, é um enfermo e assim deve ser tratado. Mas há o outro lado. As vítimas da violência e da criminalidade, reféns de traficantes, de assaltantes, de vândalos, de ladrões de casaca, também estão doentes. O medo de denunciar se espalha como um veneno em todas as classes sociais que terminam se omitindo quando não se tornam cúmplices do flagelo. A sociedade precisa de um gigantesco tratamento psicológico paralelamente ao que possa ser feito na área policial.
Errata
Ontem, equivocadamente, citei como Marco Aurélio, o ex-presidente do Tribunal de Justiça do RS, desembargador aposentado e, hoje, advogado e comunicador Marco Antonio Barbosa Leal, chamado de Marcão por seus amigos mais próximos. Trata-se de um tropeço imperdoável que, vez por outra, cometo ao referir-me a celebridades.
Brigada
A governadora Yeda Crusius prestigiou, ontem, a cerimônia de posse do coronel João Carlos Trindade no comando geral da Brigada Militar. Trindade sucede no posto ao coronel Paulo Roberto Mendes, alçado a juiz do Tribunal de Justiça Militar do Estado.
Agulha
O sigilo em torno das investigações o assassinato do médico Marco Antonio Becker, crime ocorrido no dia 4 deste mês, foi solicitado pela própria polícia e referendado pelo judiciário. Esse sigilo deveria ocorrer a partir do primeiro momento da investigação, sem a bengala da Justiça. Parece-me que a própria policia fez o palheiro para procurar a agulha.
Homicídio
Em Caxias do Sul, no bairro Nossa Senhora das Graças, durante uma discussão, um homem ainda não identificado atirou 5 vezes contra Maurício Maciel dos Santos, de 21 anos. A vítima ainda gritou por socorro, mas morreu momentos depois. O criminoso fugiu em uma moto.
Meninos
Policiais encontraram o rifle, calibre 38, usado para balear a menina Kerem Apucci Niches Braga, de 11 anos, em Canoas. A arma estava na casa de um adolescente de 13 anos, amigo dos outros quatro adolescentes envolvidos no crime. A criança foi atingida na cabeça e está internada no HPS do município.
Bancos
O total de ataques a banco no estado, em dezembro, já superou o acumulado no período em 2007. Foram 10 casos em 19 dias, três em Porto Alegre e sete no interior. Nos 31 dias de dezembro de 2007, foram oito registros, sete no interior e um na capital, conforme o Sindicato dos Bancários. O décimo ataque ocorreu ontem em uma agência do Bradesco em Gravataí. Quatro homens levaram 15 mil reais e fugiram em um Astra preto.
Presídios
O Tribunal de Justiça mandou interditar o alojamento anexo do Presídio de Bagé, devido a superlotação. Mais de 100 presos estavam em situação ilegal dividindo cela com detentos de outros regimes. Além disso, havia mulheres cumprindo pena em selas masculinas. Das 92 unidades prisionais gaúchas 19 já foram interditadas ou semi-interditadas.

Dança de comando na área da segurança

Com a aproximação do Natal, sempre há os que esperam pelos melhores presentes.
Com a aproximação do fim do ano, são tidas como certas algumas alterações tanto na Brigada Militar como na Polícia Civil. Na Brigada, é discutida a possível indicação do atual comandante geral, coronel Paulo Roberto Mendes para o Tribunal Mili-tar do Estado, sendo seu substituto natural o subcomandante geral, coronel João Carlos Trindade, embora sejam ligeiros os que correm por fora.
Na Polícia Civil, as coisas começam a desanuviar. Caso houver a decisão de ser substituído o chefe da instituição, delegado Pedro Rodrigues, embora pouco mais de 50 delegados de 4ª classe tenham condições de postular o posto, há pressões na área política, junto ao Piratini, o que faz parte do jogo, em favor do titular do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), delegado Ranolfo Vieira Júnior, de vertiginosa carreira, que é filho do desembargador do Tribunal de Justiça do Estado Ranolfo Vieira.
Ranolfo, o delegado, fez concurso em 1998 e, em 2000, no governo do PT, ainda em estágio probatório, foi promovido a 2ª classe. Em dezembro de 2003, chegou a 3ª classe por merecimento e, também por merecimento, em setembro de 2007, com menos de dez anos de carreira, chegou a 4ª classe, superando dezenas de colegas mais antigos.
Sem dúvida, uma invejável trajetória realizada, com certeza, passando muitas delegacias dos confins do Rio Grande. Nenhuma promoção mais poderá ser concedida a Ranolfo a não ser a Chefia de Polícia. Como diria a mamãe deste humilde marquês, ao que parece, são favas contadas.
Traficantes
Agentes da 4ª DP da capital prenderam, nesta quinta, 20, um traficante de 23 anos de idade, conhecido pelo apelido de Novinho. Segundo o delegado o delegado Nedson Ramos de Oliveira, que comandou a operação, Novinho, que já incendiou a casa de um de seus inimigos, encontrava-se foragido do regime semi-aberto desde outubro de 2006 e foi encontrado na rua 698 da Vila Mário Quintana, bairro Navegan-tes.
Em Cruz Alta, policiais civis em conjunto com a Brigada Militar, prenderam na rua Argentina, Vila Machado, o traficante conhecido como Pedro Bala, de 44 anos. Além de mais de 9kg de maconha, o bandido tinha em seu poder um revólver de calibre 38 com numeração raspada.
Artesanato
No presídio de Osório, agentes penitenciários encontraram quatro celulares escondidos numa correspondência enviada a um apenado. Os aparelhos chegaram por sedex e estavam entre duas tábuas coladas. A madeira costuma ser usada pelos detentos para trabalhos de artesanato.
Crime e castigo
Dez pessoas foram mantidas reféns durante assalto à residência, na madrugada de quinta, 20, no bairro Mato Grande, em Canoas. Três homens armados executaram a invasão e mantiveram as vítimas sob a mira de armas por cerca de uma hora.
O dono da casa foi levado pelos bandidos e libertado minutos depois. O trio fugiu com carro, equipamentos eletrônicos e jóias. A Brigada Militar foi acionada e localizou os assaltantes no bairro Matias Velho, com o auxílio do sistema de monitoramento do veículo. Houve tiroteio e os três bandidos foram presos, sendo que um deles foi ferido.
Greve
Dirigentes da Ugeirm/Sindicato, entidade de classe dos escrivães, inspetores e investigadores da Polícia Civil, deverão ser recebidos, hoje, no Piratini, pela equipe econômica do governo Yeda Crusius. Na pauta de reivindicações, entre outros pontos, consta aumento salarial, aposentadoria, plano de carreira e pagamento de horas-extras atrasadas.
Os sindicalistas irão para a reunião com a pré-disposição de dar continuidade à preparação de um movimento grevista caso não um avanço nas negociações.
Carro-forte
Um carro-forte da STV foi atacado por assaltantes no Shopping Lindóia, Zona Norte da capital no fim da tarde de quinta. O veiculo seria abastecido quando funcionários da empresa foram abordados pó por quatro bandidos que estavam em um carro Fiat Palio, roubado. Um malote com dinheiro foi levado e ninguém teria se ferido.
Criança
Na tarde de quinta, 20, na Escola Municipal José Loureiro da Silva, avenida Capivari, bairro Cristal, um menino de 8 anos de idade, aluno da escola, estava em sala de aula com um revólver de calibre 38 em sua mochila. A arma estava com a numeração raspada.
Wander.cs@terra.com.br

Mendigos na frente das prefeituras municipais

Homenagem aos invisíveis serviços de inteligência da segurança pública: “Para além da curva da estrada/ Talvez haja um poço, e talvez um castelo,/ E talvez apenas a continuação da estrada./ Não sei nem pergunto./ Enquanto vou na estrada antes da curva/ Só olho para a estrada antes da curva,/ Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.” De Fernando Pessoa em “Poemas inconjuntos” de Alberto Caeiro.

As lideranças das organizações policiais do RS não escondem as frustrações que se somam a cada encontro mantido no Piratini para a discussão das questões salariais. Este é um lado das rachaduras da estrutura da segurança pública que motivou um casamento inédito e, por isso, histórico, entre a Brigada Militar e a Polícia Civil cujos representantes deixaram de lado as arestas envolvendo rivalidades no campo operacional, para, juntos, lutarem por remuneração digna. No entanto, no âmbito da so-ciedade, que apóia os movimentos pacíficos e reivindicatórios dos policiais, o clamor maior é por uma polícia forte, coesa, atenta nas ruas e nas delegacias nas 24 horas do dia. Essa sociedade, hoje, apóia e, mais do que isso, ampara uma polícia falida e daria uma cobertura maior para uma polícia forte que não mendigasse nas portas das prefeituras. E o que causa espanto, dentro deste quadro, é que os governos, de Brasília aos municípios, estão absolutamente despreparados para a montagem sequer do embrião dessa polícia forte. Os policiais, por sua conta e risco, ainda que de uma forma desatrelada, discutem em suas corporações e entidades de classe essas questões, mas os governantes fogem das raízes do problema e trabalham com remendos sobre remendos. Como mero observador desse campo, por vezes, de forma equivocada, interpretado como especialista, continuarei a cultivá-lo.
Algemas
A posição da Polícia Federal gaúcha, que continuará a usar algemas – o que corresponde a uma proteção para os políciais como também para as pessoas eventualmente presas – é em favor da sociedade e contra a hipocrisia de uma elite que compõe uma minoria da magistratura que não ad-mite qualquer mágoa em pulsos que fedem a perfume francês.
Peritos
Com o apoio do IGP (Instituto-Geral de Perícias) começará. nesta segunda-feira, o 10º Seminário Nacional de Documentoscopia, o 2º Seminário Nacional de Perícia Contábil e o 5º Congreso De La Sipdo (Sociedad Internacional de Peritos en Documentoscopia), que acontecerão no Hotel Embaixador, em Porto Alegre. Os eventos ocorrem até o próximo dia 14 e são promovidos pela Acrigs (Associação Brasileira de Criminalística), Sociedad Internacional de Peritos em Documentoscopia e Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública).
Herança
O Grupo de Estudos de Direito de Família do Iargs (Instituto dos Advogados do RS), coordenado por Helena Raya Ibañez, promoverá nesta terça-feira, dia 11, às 12h, a palestra “Renúncia e Cessão da Herança, que será proferida por Aldo Ayres Torres. O evento, com entrada franca, ocorrerá na sede do Iargs, na travessa Acelino de Carvalho, 21.
Política
O delegado Cleiton Freitas, da DP de Cachoeirinha, com quase três mil votos como candidato a vereador pelo PDT, em Porto Alegre, aparece como cotado para assumir uma função na próxima gestão de José Fogaça na prefeitura da Capital.
Sufoco
Uma informação que pode conservar acesas as luzes do Piratini além de manter ativa a ubiqüidade do comandante-geral da Brigada Militar, o indormido coronel Paulo Roberto Mendes, além de preocupar o deputado Cássia Carpes (PTB), idealizador legítimo do ainda não realizado projeto do manifestrónomo: as entidades das organizações policiais estão mantendo contatos com o Cepers-Sindicato. O objetivo é de que policiais e professores passem a realizar manifestações conjuntas por salários dignos. Esta união sempre pareceu impossível para professores e professoras que enfrentaram todo o tipo de repressão policial durante seus históricos movimentos classistas por salários e melhores condições de trabalho.
Azar
Foi aprovado pela Comissão de Justiça da Câmara Federal o projeto de lei que criminaliza a exploração dos jogos de azar, apresentado pela CPI que investigou de 2004 a 2005 as relações do jogo com o crime organizado (a CPI dos Bingos). Transformado este projeto em lei, a Caixa Federal, mais do que nunca, será a austera incentivadora e mantenedora dos jogos de azar no país, pois seus eventuais concorrentes terão a cadeia como primeiro prêmio.
Wander.cs@terra.com.br

A impossível unificação das polícias

A falência da segurança pública do país exige a tomada de novos rumos, mas as utopias devem ser evitadas.
Em todos os congressos, seminários e eventos assemelhados de estudiosos ou profissionais da segurança pública, invariavelmente, figura na pauta de discussões a unificação das organizações policiais – que é impossível – e o ciclo completo do poder de polícia para as policias civis e militares estaduais – ora em pleno processo de maturação e que, em alguns casos, está sendo implantado na marra, especialmente no Rio Grande do Sul. Isso não foi diferente no 2º Congresso Nacional de Oficiais Militares Estaduais, realizado em Brasília, na semana que passou. Sigam-me
Atraso
O titular da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), professor Ricardo Brisolla Balestreri, ao descartar de forma absoluta as probabilidades de unificar as organizações policiais, aponta o ciclo completo (da investigação a lavratura de flagrante) para as policias militares e civis como um avanço inevitável. Mais do que defender este processo, Balestreri entende que esta é uma das principais, se não a principal providência para tirar a segurança pública do país do estado de falência em que se encontra. A estereotipada divisão das atribuições das organizações policiais, se não for quebrada agora, ontem, provocará um atraso de, pelo menos, 30 anos na evolução do sistema de segurança do país, segundo o entendimento de Balestreri. A gravidade do tema, fará com que eu volte a ele durante alguns dias.
Ensaio
Pareceu-me inédito o ensaio e/ou treinamento realizado pela Brigada Militar, que mobilizou centenas de PMs, no parque Saint-Hilaire, muito utilizado para atividades de escoteiros, precedendo uma mega operação detonada ontem em Porto Alegre. Com certeza, num primeiro plano, a preservação do parque foi garantida.
Assalto
Dois caminhões roubados do depósito de uma rede de farmácias de Canoas foram encontrados vazios, na manhã de ontem, em Campo Bom, no Vale dos Sinos. O assalto ocorreu no fim da noite de terça-feira. Um grupo fortemente armado invadiu empresa, no bairro Matias Velho e levou uma carga avaliada em mais de 1 milhão de reais.
Assassinatos
Um jovem de 20 anos foi encontrado morto, na madrugada de ontem, no bairro Mathias Velho em Canoas. Ronilson Francisco Paula de Lima, baleado na cabeça, estava caído na rua do Sindicato esquina com a rua Zumbi. Em Novo Hamburgo, na vila Quefas, Paulo Cesar Meri Meneses, de 25 anos, foi morto com dois tiros. Em Bagé, o presidiário João Carlos Faria da Silva, 46 anos, matou a sua companheira, Rosane Godói Costa, de 18 anos, no bairro Floresta. Segundo a Brigada Militar, o apenado cumpria pena no regime semi-aberto. Ele matou a vítima com três tiros nas costas. A mulher estava com o filho de um ano e seis meses no colo. João entregou a criança para a mãe da vítima e fugiu. Em Cruz Alta, a polícia apura o assassinato de mãe e filha, ocorrido na manhã de ontem, no bairro São Francisco. Dalva Martins da Silva, e a filha adolescente, Camila Tomás da Silva, foram mortas a tiros. Celso, também filho de Dalva, sofreu um fe-rimento superficial a bala.
Moleza
A Polícia Civil de Esteio liberou um homem que fora preso por PMS ao praticar um assalto contra um posto de combustível. O crime, ocorrido terça-feira, foi registrado pelas câmeras de segurança, mas o delegado Paulo Florentino Machado avaliou que assaltante deveria ser libertado por considerar pequena a quantia de dinheiro roubada, que não passava de R$ 300,00 e providenciou apenas na abertura do inquérito. O ladrão, que saiu caminhando da delegacia de Esteio, segundo os brigadianos, estava em liberdade provisória e possui antecedentes por homicídio.
Fazedor de leis
A criação do manifestódomo, proposto pelo comandante-geral da Brigada Militar, o indormido coronel Paulo Roberto Mendes, trouxe à tona mais um dos talentos desse homem que, pela sua ubiqüidade, provoca sonhos e pesadelos na socie-dade gaúcha. Ele se mostra um legislador, ainda que à moda antiga, mas um legislador. É preocupante isso, pois Mendes é o coronel que desponta como principal candidato a cadeira de juiz da Justiça Militar do Estado que se encontra vazia naquela corte. Com a toga, através de jurisprudências, Mendes poderá tentar desenvolver seu talento de fazedor de leis antigas.
Wander.cs@terra.com.br

Delegado denuncia tentativa de intimidação dos policiais em greve

O labirinto em que se encontra a segurança pública do país tem uma saída que poderá ser bloqueada pelos líderes corporativistas.
Quando abordei, ontem, a falência do sistema de segurança pública do país, denunciada, na semana que passou, em Brasília, pelo próprio titular da Senasp (Secretaria Nacional da Segurança), órgão do Ministério da Justiça, o professor gaúcho Ricardo Brisolla Balestreri, que há 20 anos trabalha em pesquisas e ações de campo sobre o tema, não esperava qualquer tipo de reação ou tentativa de resposta de nenhuma autoridade de nosso estado sobre tal escândalo. De um lado, não há tempo para esboçar qualquer depoimento quando o RS está enfretando uma paralisação dos agentes da Polícia Civil e do sistema penitenciário por melhores salários, que será encerrada amanhã. De outra banda, este silêncio não significa insensibilidade hanseaniana e, sim, a dolorosa angústia de não ter e de não saber o que dizer. O sistema está falido e deve ser, pelos recursos existentes, remendado. E os lançamentos de remendos, invariavelmente acompanhados de discurseiras palacianas e, mais recentemente, com banda de música, estão levando ao estresse uma sociedade que dorme ao som de balas perdidas. Sigam-me.
Labirinto
Terá o professor Balestreri um projeto que possa conter esse flagelo, além de sua consciência do processo decadente da segurança pública do país e dos porosos recursos de sua secretaria para enfrentar os incêndios de primeira grandeza que assustam os nossos principais centros urbanos?
Balestreri tem um projeto que será inviável se partir da iniciativa de cada estado, ou seja, de baixo para cima. No entanto, poderá ser implantado de cima para baixo – do governo federal para os estados – com inevitáveis enfrentamentos com lideranças de corporativismos arcaicos, mas poderosos. O professor acredita que há apenas uma saída deste labirinto e, se não for encontrada agora, a segurança pública sofrerá um atraso de, pelo menos 30 anos. O tema é vasto e estará nesta coluna durante os próximos dias.
Força
O presidente da Asdep (Associação dos Delegados de Polícia do RS), delegado Wilson Müller, em nome de sua categoria, reafirmou para este humilde marquês o apoio à paralisação em desenvolvimento pelos agentes da Polícia Civil e do sistema penitenciário, mas entende que o diálogo com o Piratini nunca deixou de acontecer e que não será interrompido. Dentro desse imbróglio, a indignação de Müller é contra o aquartelamento em Porto Alegre de um enorme contingente de policiais militares do interior numa “indisfarçável e inútil”, sic, tentativa de intimidar a manifestação pacífica da Polícia Civil. O presidente da Asdep também manifestou sua certeza de que a quase totalidade dos PMs, silenciosa e solidariamente, repudia esta forma de demonstração de força.
Brigadianos
A Associação dos Cabos e Soldados da Brigada Militar, segundo seu presidente, Leonel Lucas, está apoiando a greve dos servidores da Polícia Civil. Segundo Lucas, “essa é uma atitude que reafirma a união das categorias da segurança pública em busca de salário digno.”
Vales
Um homem de 37 anos foi detido, ontem, no aeroporto Salgado Filho com 40 mil vales-transporte falsificados. O criminoso foi capturado durante ação do Deic. Ele viajava em avião da TAM procedente de São Paulo.
Carro-forte
Uma quadrilha assaltou um carro-forte da empresa Brinks, ontem, no km 348 da BR-116, em Tapes. Os criminosos utilizaram quatro automóveis e interceptaram o carro-forte com tiros de fuzil e explosivos. Após retirar três funcionários do veiculo, levaram dois malotes de dinheiro que seriam transportados a Camaquã. Ninguém ficou ferido.
Execução
Um homem morreu baleado e três ficaram feridos num casebre em Guaíba. Segundo testemunhas, três desconhecidos chegaram atirando e fugiram num carro. O morto foi identificado como Giovani Henrique da Silva Romeira, 37 anos. Os feridos foram levados a um hospital de Guaíba.
PMs temporários
A Brigada Militar registra baixa procura pelas vagas de PMs temporários. Apenas 261 candidatos se inscreveram, até o dia de ontem, para as 306 vagas. O prazo de inscrição termina na quinta-feira, mas será prorrogado.
Wander.cs@terra.com.br

A falência da segurança pública do país

Os órgãos policiais estão cercados pelo clamor da sociedade, pelas suas próprias contradições internas, pela indolência dos governos e pelo poder do banditismo rico e organizado.
Distante da minha torre, em Brasília, mas nunca longe das questões mais graves vividas e discutidas pela sociedade, ouvi um pronunciamento que poderia ser considerado como repetitivo e atirado no Guaíba como palavras perecíveis e não poluidoras, tivesse ele somente a assinatura deste humilde marquês e não a do titular da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), professor Ricardo Brisolla Balestreri. “O sistema de segurança pública do país está falido”, disse Balestreri no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, quinta-feira última, 30 de outubro, no 2º Coname (Congresso Nacional de Oficiais Militares Estaduais) diante de, pelos menos, 800 oficiais das polícias militares do país, além de personalidades convidadas.
Não se tratava de uma platéia passiva, pois ali estavam lideranças de entidades que representavam 800 mil policiais militares brasileiros entre ativos e inativos. Um dia antes, no mesmo local, abrindo o evento, esteve o ministro da Justiça, Tarso Genro, cujo discurso não teve o mesmo descortínio, pois a sociedade, em termos de segurança, não aceita mais teses que fujam da realidade crua vivida por todos os cidadãos e que, ao invés disso, escorregam para a retórica puramente oficialista prenhe de roteiros corretos dirigidos a um destino perfeito, porém com estacas postas em areias movediças. Sigam-me.
Paralelos
O professor Balestreri não contestou o ministro Tarso, até porque a Senasp é órgão do Ministério da Justiça. No entanto, são discursos paralelos. Tarso fala do Planalto para as massas – no caso específico da segurança – e, nesse plano, traçado de cima para baixo, o contraditório é praticamente inviável. Balestreri fala das massas para o Planalto, aceita debater o contraditório e faz questão de dizer que não tem e nunca teve nenhum compromisso político partidário. Isso vai dar certo?
Diálogo
Os agentes Polícia Civil e os agentes penitenciários, a partir de hoje e até quinta-feira entram num processo de paralisação cumprindo apenas o serviços absolutamente essênciais em suas áreas. O movimento tem o apoio dos profissionais do IGP (Instituto-Geral de Perícias) e da Asdep (Associação dos Delegados de Polícia do RS). O delegado Wilson Müller, presidente da Asdep, em contato com o titular da pasta da Segurança, Edson de Oliveira Goularte, não descartou a possibilidade da sua categoria também aderir à paralisação. Segundo as lideranças dos policiais, a impossibilidade de diálogo com o Piratini, repetidas vezes tentado, terminou sendo o estopim para a tomada de medidas extremas.
Enfrentamento
A presença em Porto Alegre de mil PMs, convocados de unidades do interior pelo comandante geral da Brigada Militar, coronel Paulo Roberto Mendes, está sendo interpretada pelo presidente da Ugeirm-Sindicato, Isaac Ortiz, e pelo delegado Wilson Müller como uma tentativa de intimidação e, até mesmo, de criar um clima de enfrentamento semelhante ao ocorrido em São Paulo entre policiais militares e civis. Este enfrentamento, no entanto, é considerado fora de cogitação, pois os PMs, segundo Isaac e Müller, estão conscientes de que são iguais as reivindicações de todos os profissionais da segurança.
Falência
Quando o próprio secretário nacional da Segurança Pública entende que o “sistema de segurança do país está falido”, o quadro que se estabelece hoje no RS está absolutamente dentro da realidade. Nele nada há de artificial, a partir, inclusive, da falta de visão do governo para buscar o simplismo do caminho das pedras, que é o diálogo. Quem está se apresentando como voluntário para mediar o episódio é o ouvidor-geral da Segurança Pública do RS, Adão Paiani. É certo que o ouvidor ouve. Ouvirá o Piratini?
Wander.cs@terra.com.br

Uma nova fase no sistema penitenciário

Escolha longamente pensada indica mudanças na administração das casas prisionais do Estado.
Poucos dias antes de completar seu terceiro mês como titular da pasta da Secretaria de Segurança Pública do RS – cargo que assumiu na manhã tempestuosa de 27 de julho, um domingo – Edson de Oliveira Goularte escolheu, com o devido aval da governadora Yeda Crusius, o homem que deverá administrar a Susepe (Superintendência dos Serviços Penitenciários). A escolha recaiu sobre o procurador do Estado Paulo Roberto Zietlow, 43 anos que terá a responsabilidade de administrar a conduta funcional de três mil profissionais que mantém sob controle uma média aproximada de 27 mil apenados. Trata-se da primeira decisão concreta do silencioso secretário Goulart que mantém, por ora, nos principais postos da Segurança a mesma equipe montada por seu antecessor, José Francisco Mallmann. Sigam-me.
Cabeças
Zietlow, do alto de sua jovialidade de 43 anos, chega pleno de entusiasmo. Ele promete implantar um choque de gestão – cujos detalhes não chegou a definir – e, simultaneamente, fará uma racionalização administrativa, o que significa, pelo senso comum, que poderão rolar cabeças. Com relação ao déficit de servidores, o novo superintendente vai conduzir, pessoalmente, uma comissão que terá como objetivo maior a solução do problema. Em princípio, portanto, tudo está encaminhado para que o sistema penitenciário gaúcho ingresse num patamar superior de administração. Ressalto, no en-tanto, que sobre salários, Zietlow não falou.
Interdições
Dos 91 presídios existente no Estado, 15 estão interditados devido a superlotação e problemas de infra-estrutura . Em São Jerônimo , Passo Fundo e Camaquã a interdição é total. Ontem a justiça determinou a interdição parcial da penitenciária de Rio Grande. A Susepe terá dez dias para resolver o problema na rede de esgoto. O governo pretende amenizar a questão da superlotação, com a inauguração – meio apressada, meio atrasada – da penitenciária regional de Caxias do Sul, nesta terça-feira.
Super
Oito homens encapuzados e armados com pistolas e revólveres assalta-ram, na noite de quinta-feira, o Supermercado Max, na avenida A.J Renner. A quadrilha rendeu funcionários e clientes. Os criminosos roubaram equi-pamentos eletrônicos, televisores de LCD, pacotes de cigarros e dinheiro dos caixas.
Trafico
Operação do Denarc realizada, ontem, em Viamão, resultou na apreensão de 240 pedras de crack e na detenção de quatro pessoas. Entre os presos, foram identificados Luis Paulo dos Santos Rosa, que além das drogas por-tava ilegalmente uma arma, e Giovani Cordeiro Pacheco, acusado de ser olheiro do ponto de tráfico. Em Estrela, em operação conjunta da Polícia Civil e da Brigada Militar foram apreendidas 149 pedras de crack. A droga estava acondicionada em sacos plásticos e enterrada em uma área verde na rua Frederico Helfeinstein, no bairro Imigrantes. Também foi apreendido um Taurus de calibre 32.
Sufoco (1)
Todas as entidades de classe da Polícia Civil e da Brigada Militar vão participar, na próxima terça-feira, dia 23 de setembro, de coletiva à impren-sa. Considerando o encaminhamento ao Legislativo da peça orçamentária, que prevê reajuste zero ao funcionalismo público em 2009, os policiais de-vem apresentar proposta de implantação de subsídio para remunerar as ca-tegorias, conforme dispõe o § 9° do artigo 144 da Constituição Federal. Sobre o tema, os líderes da entidades representativas dos policiais já manti-veram contato com todas as bancadas partidárias na Assembléia Legislati-va, menos com a do PSDB, que preferiu ficar fora do debate inicial.
Sufoco (2)
A união inédita e, por isso, histórica, de todas as entidades representativas dos profissionais da Brigada Militar e da Polícia Civil, que resultou em pro-jetos paralelos para buscar estabelecer um nível de dignidade de remunera-ção, inexistente há mais de dez anos, foi tratada de forma burocrática tanto pela chefia da Polícia Civil como pelo comando-geral da Brigada Militar. Os projetos foram envelopados na Secretaria da Segurança e encaminhados silenciosamente para a Casa Civil do Piratini, onde já começam a adorme-cer.

Brigada Militar quer assumir policiamento completo

Brigada Militar promove seminário polêmico
Wanderley Soares*
Hoje, a partir das 8h com encerramento previsto para as 17h30min, promovido pelo CPC (Comando de Policiamento da Capital) da Brigada Militar, estará em desenvolvimento o I Simpósio de Segurança Pública.
O evento será realizado no auditório das torres gêmeas do Ministério Público, na avenida Aureliano de Figueiredo Pinto n° 50, bairro Cidade Baixa, na Capital.
Poderão participar acadêmicos da área do direito e demais profissionais que atuam na área de Segurança Pública. As inscrições são gratuitas e poderão ser efetuadas no local.
Registro que os membros da Polícia Civil, pelo menos os delegados, não foram convidados oficialmente, mas poderão, como qualquer cidadão, acompanhar os trabalhos inscrevendo-se como avulsos.
No evento, as palestras serão ministradas por oficiais da Brigada Militar e membros do Ministério Público com dois temas principais:
1°) Atribuições da Polícia Judiciária Militar;
2°) Lavratura de auto de flagrante para crimes comuns pela Polícia Militar.

Este simpósio promovido pelo CPC, que é um dos principais braços do policiamento ostensivo do RS, visa a debater e defender, explicitamente, o chamado ciclo completo de polícia para as policias militares do país, pois um tal patamar não poderia ser privilégio de uma única corporação, no caso, a Brigada Militar.
Em síntese, as policias militares buscam assumir, além das tarefas ostensivas, também as ações de polícia judiciária em igualdade de condições com as policias civis. Esta discussão divide, radicalmente, as duas instituições da segurança pública e, daqui da minha torre, estarei observando o que será falado no simpósio de hoje.
Jurisdição
O titular da SSP-RS (Secretaria da Segurança Pública do RS), Edson de Oliveira Goularte, ainda não apresentou detalhes sobre o seu pensamento sobre as questões internas e externas que envolvem a violência e a criminalidade. É possível, portanto, que o simpósio instalado hoje pelo CPC tenha sido projetado à revelia de Goularte, até porque estará sendo desenvolvido no Ministério Público, ou seja, fora da jurisdição da pasta da segurança.
Falso policial
Em Alvorada, na rua Noruega, bairro Passo do Feijó, PMs prenderam um homem que se apresentava como inspetor de policia. A detenção aconteceu quando os policiais foram chamados pelo vigilante de um estabelecimento comercial onde o rapaz, de 30 anos, fazia perguntas sobre o funcionamento do sistema de segurança da casa. O falso policial é suspeito de estar fazendo levantamentos para posterior prática de assalto.
Tiroteio
Um viatura do 20º BPM foi atingida por dois disparos, na noite de segunda-feira, num enfrentamento que os PMs tiveram com bandidos na esquina entre as ruas Alfazema e Vereador Daniel, no Morro Santana em, em Porto Alegre. Um dos disparos se alojou no banco do motorista e o outro quebrou um dos faróis do veiculo. O confronto ocorreu quando os PMs tentaram abordar dois homens na saída de um beco e eles reagiram com tiros de pistola.
Cadáveres
A polícia localizou dois corpos na madrugada de ontem. Na vila Bom Jesus, um adolescente não identificado foi executado com tiro no rosto. Na vila Cruzeiro, corpo de homem, também não identificado, foi achado na avenida Tronco, em frente ao Postão.
Vizinhança
Desentendimento entre vizinhos terminou em duplo homicídio no interior de Monte Alegre dos Campos. Antonio Cesar Ferreira, 56 anos, e o filho dele, Messias dos Santos, 26 anos, foram mortos a tiros em uma estrada vicinal. Segundo a policia, eles discutiram com vizinho devido ao acesso a propriedade do autor do crime, que fica dentro da área que pertencia às vitimas.
Homens invisíveis
A governadora Yeda Crusius nunca escondeu a sua orientação no sentido de que da invisibilidade do seu segundo titular da Segurança Pública, José Francisco Mallmann fosse a marca de sua liderança. Ocorre que o primeiro titular da pasta, escolhido por Yeda, deputado federal Enio Bacci (PDT), nos três meses que durou a sua gestão, luziu como um sol no novo jeito de governar e sumiu como uma estrela cadente. Mallmann deveria ser discreto tanto quanto possível, mas acabou também tendo seu brilho como arauto da lei seca. Agora, é a vez de Edson de Oliveira Goularte que, chegando, hoje, ao seu 11° dia de trabalho, ainda não montou a equipe de seu gabinete. Goularte está em pleno processo de invisibilidade.
Publicado no jornal O Sul, reproduzido com autorização*