Christa Berger em publicação não acadêmica com “Jurema Finamour: a jornalista silenciada”

Jurema Finamour com Jorge Amado e Carlos Marighella/ Reproduçãoo

O que apaga a história de uma escritora, repórter, engajada, inteligente, corajosa, próxima à elite intelectual brasileira nas décadas de 1950 e 1960? Por que teria sido esquecida? Por quem teria sido silenciada?

Instigada por essas questões, a professora acadêmica Christa Berger dedicou-se, ao longo de quatro anos, na pesquisa e na escrita de  Jurema Finamour, a jornalista silenciada (Libretos Editora, 300 páginas, ISBN 978-65-86264-48-7, R$55. Na Feira: R$44). No livro, ela nos apresenta Jurema, a jornalista, romancista, escritora, viajante, feminista, cozinheira de mão cheia. Uma figura interessantíssima: foi retratada por Di Cavalcanti e por Dimitri Ismailovitch, viajou pelo mundo, tendo realizado os primeiros livro-reportagem no Brasil sobre a União Soviética, a China, a Coreia e Cuba. Entrevistou o filósofo francês Jean-Paul Sartre, a escritora alemã Anna Seghers, o cineasta italiano Roberto Rossellini e foi secretária de Pablo Neruda por três ocasiões.  “Mas para a memorialística brasileira, ela não existe: seus livros não foram reeditados e não é mencionada nas biografias dos que conviveram intensamente, como Jorge Amado, Graciliano Ramos, Candido Portinari, Carolina Maria de Jesus, Carlos Drummond de Andrade, entre outros”, coloca Christa.

A professora aposentada da UFRGS Christa Berger. Foto: Marco Nedeff/ Divulgação

Christa revela as possíveis causas do apagamento histórico de uma mulher presente e atuante na vanguarda do mercado editorial. Uma vida que “compõe o arquivo das histórias de mulheres cujas proezas, infortúnios e escritos não encontraram guarida no seu tempo”, observa a autora.

A escritora Lélia Almeida exalta a iniciativa de resgate, escuta e testemunho da autora: “Christa Berger, jornalista, pesquisadora e biógrafa, com as mãos ungidas no buquê com os óleos do alecrim, do manjericão, da espada-de-são-jorge, da arruda, da guiné, da pimenta e da comigo-ninguém-pode, traz a público uma história emudecida e silente, como são as histórias das grandes mulheres que constroem os momentos mais desafiadores das histórias de seus países e que sempre são ignoradas pelo cânone intelectual e literário masculino, que lhes destina o lugar de uma ausência contundente ou de mera coadjuvante”.

Óleo sobre tela. Retrato de Jurema Finamore por Di Cavalcanti (1945)/ Reprodução

E conclui: “(…) convocada pela interlocução teimosa de Christa Berger, que se dedicou exaustivamente à construção deste diálogo além do tempo, podemos conhecer com mais justeza esta (Jurema) – que foi, como outras contemporâneas suas e também deslembradas – Carmen da Silva, Dinah Silveira de Queiroz, entre outras –, uma mulher que anunciava e participava da construção de um novo tempo, em que as mulheres não seriam mais cidadãs de segunda categoria.”

Jurema com Pablo Neruda./Reprodução

O livro tem lançamento na 68ª Feira do Livro de Porto Alegre no dia 04 de novembro (sexta-feira). Às 16h30, acontece o Painel Jurema Finamour, a jornalista silenciada, com Christa Berger, Beatriz Marocco e Lélia Almeida, na Sala Noé – Espaço Força e Luz (Rua dos Andradas, 1223). Em seguida, às 18h ocorre a sessão de autógrafos na Praça Central. O livro já está disponível no site da www.libretos.com.br

Christa Berger. Foto: Marco Nedeff/ Divulgação

Christa Berger

Nasceu em Ijuí, no Rio Grande do Sul, em 1950, e vive em Porto Alegre desde 1968, com intervalos em outros lugares. Nos anos 1970, morou na Cidade do México, onde participou do movimento feminista latino-americano. Jornalista, trabalhou no Diário de Notícias e na Folha da Manhã. Mestre em Ciências Políticas (Unam/México), doutora em Ciências da Comunicação (USP/São Paulo), foi professora-pesquisadora nas faculdades de Comunicação da PUCRS, UFRGS e Unisinos. Autora do livro A terra e o texto: campos em confronto; organizadora de O jornalismo no cinema, tem artigos em coletâneas e revistas. Jurema Finamour – a jornalista silenciada é sua primeira publicação não acadêmica.

Jurema Finamour por Dimitri Ismailovitch (1961)/ reprodução

 

 

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