A experiência de tamboralitura voltada para crianças, que visa contribuir na educação para as relações étnico-raciais, está em temporada de estreia no mês de novembro, em Porto Alegre
Com a ideia de democratizar o acesso ao sopapo, levando-o também para as crianças, Richard Serraria lança o projeto GIRAFA DA CERQUINHA, que consiste no reconto de uma história entoada originalmente pela mestra griô Sirley Amaro.
Conta a fábula da girafa que teria vindo da África num navio e aportando em Pelotas – mais especificamente no bairro da Cerquinha, onde havia um carnaval burlesco com nomes de bichos. Uma contação de história infantil com o tambor sopapo sendo tocado de maneira continuada envolvendo a criançada numa vivência lúdica com as batidas características do grande tambor negro gaúcho (Ijexá, Adarun, Aré do Bará, Congadas RS, Samba Cabobu, Candombe uruguaio gaúcho e Milongón). Cada batida negra sonoriza um nome de bicho, personagens da narrativa.

Serraria, artista porto-alegrense com 30 anos de trajetória musical e poética, vencedor de 8 prêmios Açorianos de Música, Doutor em Literatura Brasileira e com trabalho reconhecido também na dimensão da performance com sopapo, acredita na potência da tamboralitura, baseada na “constatação de que toda roda de tambor traz em si uma poética de natureza oral portanto da ordem da oralitura devendo todavia ser incluída no âmbito da historiografia literária brasileira”.
Com direção cênica de Leandro Silva, a montagem envolve, ainda, Tuti Rodrigues e Angelo Primon na assessoria técnico musical e Paola Kirst e Indira Castro na preparação vocal. O espetáculo contará com cenografia de Anderson Gonçalves e figurino de Mari Falcão.

A temporada de estreia está em curso em Porto Alegre (RS) com seis apresentações que contarão com medidas de acessibilidade, como intérprete de Libras e áudio descrição, além de bate-papo e debate para professores e extensionistas universitários. As primeiras datas foram voltadas às comunidades escolares e ao público da Biblioteca Mestra Griô Sirley Amaro/ Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo. No dia 16 serão realizadas duas apresentações abertas na Casa de Espetáculos (Rua Visconde do Rio Branco, 691 – Moinhos de Vento), às 15h e às 16h, com retirada de ingressos pelo Sympla (https://www.sympla.com.br/evento/espetaculo-girafa-da-cerquinha-contacao-de-historia/2621223).
E, no dia 20 de novembro, haverá uma apresentação extra, integrando a programação da 70ª Feira do Livro de Porto Alegre. Será aberta ao público, às 15h, no Teatro Petrobras Carlos Urbim.

O projeto, financiado pela Lei Complementar nº195/22-Lei Paulo Gustavo (LPG), através do Edital Criação Artística da SEDAC RS, também pretende contribuir para que professores e alunos se sensibilizem para a importância das temáticas negras na sala de aula. Por isso, serão realizados três bate-papos após as apresentações da obra, destinados especialmente ao público de professores e alunos de escolas públicas, com debate acerca da obra e da importância das leis 10.639/2003 e 11.645/2008 que tornam obrigatório o ensino da História e cultura africana, afro-brasileira e de cultura indígena no currículo escolar com ênfase nas disciplinas de História, Arte e Literatura, objetivando a educação para as relações étnico-raciais.
Sirley da Silva Amaro nasceu em Pelotas em 12 de janeiro de 1936 e faleceu na mesma cidade em 28 de outubro de 2020. Filha de um pai cozinheiro e folião e de uma mãe que inventava pomadas e unguentos com ervas e temperos, teve uma infância muito rica e viveu intensamente os conhecimentos tradicionais transmitidos em família.
Mestra griô reconhecida pelo Ministério da Cultura dentro do Programa Cultura Viva, Dona Sirley foi homenageada pelo Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo em Porto Alegre nomeando a Biblioteca comunitária do local, já que sempre que visitava esse espaço era ali que a mestra griô preferia ficar, no território sagrado da contação de histórias.