Sebastião Salgado deixou pronta exposição sobre a Amazônia para a COP 30 em novembro

Sebastião Salgado em Porto Alegre, na abertura da exposição Gênesis, durante o 7º FestFotoPoA, na Usina do Gasômetro em 2014. Foto: Ramiro Sanchez

Ele não fotografava mais, mas seguia trabalhando em seus projetos. O útimo foi a seleção das fotos para  exposição sobre a Amazônia, que será montada em Belém para a Conferência do Clima (COP30), em novembro deste ano.

Sebastião Salgado morreu na sexta-feira, 23, aos 81 anos, devido a complicações da malária que contraiu na Indonésia em 2010.

Nascido em Aymorés, no interior Minas Gerais, formou-se em economia em São Paulo e nos anos de 1970, com a repressão da ditadura brasileira, mudou-se para Paris, onde começou sua carreira.

Sua fama iniciou com as fotos do garimpo de Serra Pelada nos anos 80. Fotos em preto e branco, com um tratamento diferenciado que dava um clima dramático aos seus registros.

A partir dali ele ampliou seus projetos com financiamentos internacionais, contando com a sagacidade comercial de sua mulher, Lélia Wanick Salgado, considerada a responsável pela transformação do nome de Salgado numa grife global não vinculada diretamente a um veículo de imprensa em particular ou ao jornalismo em geral. Viajou por mais de 130 países.

Trinta anos depois, voltou à terra natal na divisa de Minas Gerais com o Espirito Santo, e encontrou a fazenda onde morou na infância totalmente devastada. Os belos morros estavam pelados, a floresta havia sido derrubada para extração de madeira para a construção civil do Rio, de Belo Horizonte e Brasília; e também para a exportação.

Criou o Instituto Terra e iniciou um projeto de reflorestamento sob a direção do engenheiro florestal Renato Moraes de Jesus. Sete milhões de mudas foram plantadas para recuperar uma área de dois mil hectares.

Seguiu vivendo em Paris, sua base operacional para os últimos trabalhos fotográficos principalmente na Africa, onde documentou o estágio de pobreza de populações nativas.

A Academia Francesa, da qual era membro, definiu-o como “grande testemunha da condição humana e do estado do planeta”.

De vez em quando ele voltava para ver a incrível recuperação florestal da fazenda da família. Ao lado de seu excepcional acervo fotográfico, o que ele deixa em Aymores é um exemplo de que é possível recuperar os estragos no meio ambiente.

Via a floresta como um organismo vivo, no que ecoava o saber de Carl Sagan, o astrônomo da série Cosmos: “As árvores são nossas tias biológicas”.

Num longo e detalhado necrológico, o jornal britânico The Guardian disse que “suas dramáticas fotografias em preto e branco destacaram a injustiça e apresentaram a floresta amazônica ao mundo”.