Duas apresentações marcam estreia de”Teatro para Pássaros”, no CHC Santa Casa

Ensaio Teatro Para Pássaros-Foto Fernanda Chemale Divulgação

 

A estreia do espetáculo “Teatro para pássaros”, dirigido por Breno Ketzer Saul, será marcada por duas apresentações, que ocorrem nos dias 22 e 23 de julho (sexta e sábado), às 20h, no teatro do Centro Histórico Cultural Santa Casa (CHC Santa Casa – av. Independência, 75), em Porto Alegre.
Escrita pelo argentino Daniel Veronese, mais do que propor uma reflexão sobre as dificuldades que enfrentam determinadas produções teatrais, onde o fazer artístico de linguagem alternativa entra em conflito com a necessidade de se apresentar um produto comercial; a peça amplia o foco para a complexidade das relações humanas em que poder e dinheiro animam um mundo em que pequenas violências parecem brotar inesperadamente do subsolo da civilidade. Tudo isso com muita ironia e uma nota do ridículo que habita o universo teatral e os demais projetos humanos.

O elenco de Teatro Para Pássaros – foto Fernanda Chemale- Divulgação

Em cena, o elenco interpreta seis atores que se reúnem em um apartamento, durante uma madrugada, para discutirem sobre um projeto artístico. A anfitriã Teresa, que assina a dramaturgia de sua primeira peça teatral, revela o interesse de vender o trabalho para seu ex-namorado, agora um renomado e bem-sucedido produtor de TV (Toni). A partir daí as coisas começam a se misturar, uma vez que a peça escrita por Teresa é o próprio espetáculo (Teatro para Pássaros) que estamos assistindo.

Narrada, portanto, através de um exercício de metalinguagem (o teatro dentro do teatro), a trama passa por diversos pontos de tensão: um deles é de que Toni, que não gosta de teatro e ganha muito dinheiro na TV, não tem o menor interesse em abraçar o projeto de Teresa. Para agradá-lo e convencê-lo a mudar de ideia, ela acaba por se submeter, abrindo mão de escolhas, que alteram a originalidade de sua obra.

Elenco e diretor de Teatro Para Pássaros – foto Fernanda Chemale_ Divulgação

Isso gera revolta em Glória, uma das atrizes do elenco, que cita a poeta Emily Dickinson o tempo todo, em referência à “reclusão” da alma, que acaba sendo imposta pelo sistema, e que impede a essência humana de “voar”. Na sequência, passa a ser humilhada por Toni e revela novos tons de seu temperamento, com atitudes explosivas e violentas.

Outro ponto de constrangimento na história é o fato de que os seis atores reunidos formam casais que já tiveram relações entre si anteriormente. Um deles chega ao ponto de se agredir fisicamente durante um conflito e os vestígios deste acontecimento parecem ressoar misteriosamente nas mortes sucessivas de dois porteiros do prédio, que acontecem uma no dia anterior e outra durante a madrugada do encontro do grupo.

Mesmo assim, eles parecem não se importar em nada com isso. Pelo contrário: mergulham em um diálogo frenético e picotado, e se posicionam como se estivessem em uma arena, em um embate cujo ritmo lembra a engrenagem de uma máquina.

Com narrativa enigmática que mistura com humor e ironia a realidade e a ficção, a obra apresenta uma dramaturgia ágil que pretende colocar a atuação (o trabalho de ator) no centro do acontecimento teatral. Os personagens criados por Daniel Veronese parecem arrastados por acontecimentos que os tornam reféns da ficção que eles mesmos produzem. A única forma de suportar a vida é atuando.
Teatro para Pássaros
Serviço:
Data: Dias 22 e 23 de julho de 2022
Horário: 20h
Local: Teatro da Santa Casa, Av. Independência, 75 – Independência, Porto Alegre (https://www.chcsantacasa.org.br/)
Classificação: maiores de 12 anos
Ingressos:

Ficha Técnica:
Texto: Daniel Veronese
Tradução: Rafaela Milara Kersting e o grupo
Elenco: Áurea Baptista, Carla Cassapo, Dionísio Farias, Evandro Soldatelli, Raquel Zepka, Vinícius Petry
Direção: Breno Ketzer Saul
Assistente de direção: Naomi Luana Siviero
Iluminação: Nara Maia
Cenografia: Daniel Veronese e Breno Ketzer Saul
Execução do Cenário: Artenova
Pintura do Cenário: Adalberto Almeida
Figurinos e Adereços: Rô Cortinhas
Fotografias: Fernanda Chemale
Design Gráfico: Flávio Wild
Duração: 100 minutos
Produção e Realização: Independente Teatro

Sobre o autor:

Daniel Veronese é autor e diretor teatral e um dos primeiros dramaturgos argentinos que começa a chamar a atenção a partir do começo dos anos 90 com uma dramaturgia que dá eco à renovação do teatro propondo um teatro ceno-cêntrico e anti-literário. É autor de obras como ‘La muerte de Marguerite Duras’, ‘Mujeres Soñaron Caballos’ e ‘Espia uma mujer que se mata’, (versão de Tio Vânia de Tchecov). Tem inúmeras participações em festivais internacionais sendo considerado um dos dramaturgos e diretor de maior reconhecimento do teatro contemporâneo argentino.

Sobre o diretor:

Breno Ketzer Saul é ator, iluminador, sonoplasta e diretor de teatro tendo participado de diversos projetos de criação e montagem de espetáculos dos quais destaca os seguintes:”Kaldewei, A Farsa do Convidado Obsceno”. De Botho Strauss com direção de Maria Helena Lopes,1992. “Macário” De Álvares de Azevedo. Direção: Patrícia Fagundes, 1994. “New York.New York”. De Marlene Streeruwitz. Direção: Miriam Amaral.Porto Alegre,1996. Dirigiu a leitura dramática do texto “B” em Cadeira de Rodas” de Ronald Radde. Solar Paraíso/Porto Alegre em Cena. Porto Alegre, 2005. Dirigiu a leitura dramática do texto “Santo Elvis” de Serge Valetti no Estúdio Stravaganzza, 2005. “Formas de falar das mães dos mineiros enquanto esperam que seus filhos saiam à superfície” texto do dramaturgo argentino Daniel Veronese, 2016 e Teatro é sempre Arena, espetáculo em homenagem aos 50 anos do Teatro de Arena, 2017.

Sobre o elenco:

Áurea Baptista é atriz e diretora. Atuou em montagens teatrais como ‘O Pagador de Promessas’, ‘Antígona’, ‘Marxismo, Ideologia e Rock’n Roll’, ‘GPS Gaza’, todas elas produções assinadas por importantes diretores gaúchos. Dirigiu, entre outros espetáculos, “Salomé”, “O Amor e Sua Sombra” e os musicais “Música de Cena”, e “Cirandô”. Canta em vários CDs, entre eles “Calvo com Sobrepeso”, de Edson Natale e “Flicts”, de Roberto
Oliveira e Arthur de Faria.

Carla Cassapo é atriz, produtora cultural, preparadora de elenco e diretora cênica. Integrante do grupo teatral gaúcho Falos & Stercus de 1998 a 2021, produziu e atuou em diversas performances e espetáculos e em inúmeras mostras e festivais em espaços não convencionais no Brasil e no exterior. Em 2015, ganhou o Prêmio Açorianos de Teatro de Melhor Atriz Coadjuvante pelo espetáculo ‘O Mal Entendido’, dirigido por Daniel Colin.

Dionísio Farias é ator formado pela Casa de Teatro de Porto Alegre sob a batuta de Zé Adão Barbosa. Teve aulas com profissionais como Graça Nunes, Carlota Albuquerque e Larissa Sanguiné. Atuou em espetáculos como ‘O Apanhador’,’A Gaivota’, ‘Terror e Miséria no Terceiro Reich’, ‘O Mambembe” e “Carmen’, ‘Formas de Falar das Mães dos Mineiros Enquanto Esperam que Seus Filhos Saiam à Superfície’ e ‘Teatro é Sempre Arena’.

Evandro Soldatelli é ator e diretor formado no Departamento de Arte Dramática da UFRGS. Atuou em diversos espetáculos como: ‘Alpes em Chamas’ com direção de Miriam Amaral e ‘Hamlet’ com direção de Luciano Alabarse. Participou das minisséries ‘Mad Maria’ em 2004; ‘Força Tarefa’ em 2011, ‘Doce de Mãe’ em 2015 e ‘Desalma’ em 2019/2021. Desde 2017 dirige o show ‘Serenata de Encomenda’ do grupo Crê Tinas. Seu mais recente trabalho foi o “Sr. Esquisito” com o Coletivo Esquisites.

Raquel Zepka é atriz, diretora e dramaturga. Autora do livro “Disformias desatadas” (2022) é mestranda em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, atualmente pesquisa dramaturgias que radicalizam barreiras entre o real e o ficcional

Vinícius Petry é vencedor de prêmios de atuação, trabalhou com os principais diretores de teatro de Porto Alegre como Roberto Oliveira, Camilo de Lélis, Dilmar Messias, Ronald Radde e Adriane Mottola. Atualmente faz sucesso com o espetáculo TOC – Uma Comédia Obsessiva Compulsiva sob direção de Lutti Pereira.

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