A hipocrisia da imprensa e o lobby israelense na terra do holocausto

Mariano Senna

“A qualidade moral da política alemã está em seu nível mais baixo desde os nazistas. Netanyahu está cometendo genocídio, matando crianças de fome, bombardeando hospitais e tornando Gaza inabitável com uma ampla ajuda alemã.”

A frase seria uma obviedade irrelevante, não tivesse sido publicada por um cidadão alemão de alto gabarito.

Aos 84 anos, Jürgen Todenhöfer é um empresário e político de longa experiência. Doutor em direito e ex-juiz, ele consagrou-se internacionalmente como parlamentar pela União Democrata Crista (CDU), onde atuou até a década de 1990, defendendo posições conservadoras.

Decepcionado pela hipocrisia da política, foi aos poucos se afastando. Dedicou-se então por mais de duas décadas a empreender no ramo da mídia, aprimorando seu conhecimento sobre as causas e consequências dos conflitos bélicos nos confins do mundo.

Em 2020 desfiliou-se formalmente do CDU e criou seu próprio partido, o “Team-Todenhöfer”, com o qual tem concorrido como candidato independente às eleições do parlamento federal em Berlim.

Suas propostas são ousadas, fazendo dele uma espécie de franco-atirador da política. Na questão de Israel, por exemplo, Todenhöfer é um dos únicos alemães de destaque que ousam criticar diretamente o Estado-Sionista, arriscando inclusive ser punido por antisemitismo.

“O Holocausto moldou toda a minha vida. Nosso lema comum era “Nunca mais!”. Agora Netanyahu está fazendo algo semelhante. E os políticos alemães são seus cúmplices mais próximos”, ataca ele, justificando que “a liberdade é o direito de dizer o que os outros não querem ouvir. No caso de genocídio, esse direito se torna um dever”.

Dilema humano

Para ele, a questão envolve um dilema. Entre a acusação de antisemitismo, ou da cumplicidade com um genocídio, Jürgen defende a observância aos valores fundamentais da constituição alemã, evitando o relativismo hipócrita do poderoso lobby sionista.

Sozinho e por vezes até isolado no contexto europeu, Dr. Todenhöfer é uma das poucas vozes que tenta manter a sanidade mental na política do continente.

Segundo ele, a raíz do problema está justamente no papel da chamada mídia mainstream. Para tratar o assunto, publicou o livro “A Grande Hipocrisia” (Die Grosse Heuchelei) em 2019, curiosamente um ano antes da Pandemia da Covid-19.

Na obra, Jürgen denuncia o descompromisso da classe política europeia com os mais básicos princípios morais e éticos do nosso tempo.

Além de acusar a dupla-moral que caracteríza a União Europeia na atualidade, o texto traz um capítulo inteiro sobre a responsabilidade dos jornalistas no corrente processo da derrocada do velho continente.

Intitulado “O fracasso das mídias” (Das Versagen der Medien), o trecho de 11 páginas esmiuça alguns dos casos recentes que explicitam a falta de compromisso do chamado “quarto poder” com qualquer tipo de noção daquilo comumente denominado de humanidade.

Todenhöfer vai além, e desmascara o caráter imoral do establishment jornalistico do ocidente. Com fatos e fontes irrefutáveis, mostra o compromisso das grandes redes de informação com a narrativa do poder vigente, onde nacionalidade, etnia ou mesmo opção político-ideológica importam mais do que a própria condição humana.

Jornalistas de ventríloco

Mesmo tratando-se de exemplos no palco internacional, é possível traçar inúmeros paralelos com o comportamento do jornalismo brasileiro. Como se as cordinhas que animam os apresentadores dos telejornais fossem, em muitos casos, as mesmas.

O texto vale sobretudo como um exercício de reflexão. Por isso a decisão de traduzir o capítulo em sua íntegra. Ainda que alguns fatos não sejam mais atuais (ex.: Assad já foi derrubado na Siria), a comparação entre discursos ao longo das últimas décadas demonstra a profunda hipocrisia dos destacados jornalistas que produzem o notíciário nos grandes veículos.

Como demonstra Todenhöfer, do alto de seus cargos prestigiados, tais profissionais se prestam ao lamentável papel de reforçar a narrativa em defesa da guerra como meio político para combater problemas complexos e difusos, sem apontar as causas de tais mazelas.

Confiram o texto do capítulo 19 do livro “A grande hipocrisia” a seguir:

Jornalismo torcedor
Muitos dos principais meios de comunicação não estão sentados como observadores objetivos na arquibancada da política mundial. Eles se sentam nas arquibancadas dos poderosos. Eles praticam o jornalismo de torcedor. Apitam apenas as faltas cometidas pelo “adversário”. Ignoram as faltas cometidas por sua própria equipe, ou as relativizam como “dureza necessária”. Exatamente como os torcedores. Quando a região oeste de Mossul foi destruída sob a liderança americana e pelo menos 20.000 civis foram mortos, a mídia principal falou de uma vitória sobre o terror, de uma “libertação”. Quando o leste de Aleppo foi destruído sob a liderança russa e, de acordo com estimativas locais, 10.000 pessoas morreram, eles falaram de uma derrota, ou até mesmo do “fim da humanidade”. O Estado Islâmico estava sediado em Mossul e a Jabhat Al-Nusra em Aleppo. Ambos são plantas de pântano da Al-Qaeda.

A palma de ouro da dupla moral
Grande parte dos outrora tão diferentes centros culturais mundiais de Mosul e Aleppo tem a mesma aparência hoje: como Hiroshima teve no passado. No entanto, o jornalismo ocidental fez uma grande diferença em sua avaliação dos bombardeios americanos e russos: as bombas americanas eram “bombas do bem”. As bombas russas eram “bombas do mau”. O lema do “jornalismo-de-torcida” ocidental dominante é: o que os Estados Unidos e nós podemos fazer, a Rússia e outros “oponentes” nem de longe podem.

Visitei as duas cidades várias vezes. Fiquei chocado com o sofrimento das pessoas, com o fracasso de nossa política e com o fracasso de nossa mídia. Somente por causa de Mosul e Aleppo, alguns dos principais meios de comunicação ocidentais merecem a “Palma de Ouro da Dupla Moral”.

Quando a mídia cria guerras
Alguns jornalistas importantes são mais belicosos do que seus governos. Até mesmo na Alemanha. O espirituoso Berthold Kohler, editor do Frankfurter Allgemeine Zeitung, não apenas saudou as últimas guerras do Ocidente. Ele queria mais guerra, e lamentou muito o fato de Obama ter cancelado sua intervenção militar contra a Síria no último momento. O Ocidente tinha que “proteger seus valores com unidade, (…) se necessário, com suas próprias tropas na Síria”. Essa batalha histórica não seria possível sem sacrifícios. Kohler atestou generosamente a “legitimidade” da guerra dos EUA contra o Iraque, que violou a lei internacional. Afinal de contas, houve “consentimento visível para a invasão da coalizão”.

Josef Joffe, editor belicoso do Die Zeit, defendeu a guerra no Afeganistão como uma “guerra de defesa”, que “duraria até que a rede terrorista fosse destruída”. Nesse meio tempo, o número de terroristas no Oriente Médio explodiu como resultado das “guerras antiterroristas”. Mas isso não impede Josef Joffe. Ele chamou a guerra da OTAN na Líbia de “golpe de sorte”. Também queria ter visto uma intervenção militar ocidental contra a Síria: Os sírios “teriam merecido a ajuda militar do Ocidente ainda mais do que os líbios”. Infelizmente, isso não acontecerá porque o real é mais forte do que o ideal. E assim, “a Europa não precisa temer um influxo em massa de refugiados sírios”, escreveu ele em 2011. Bem, desde então…

Em 2013, Joffe escreveu: “Se você quiser derrubar ou paralisar a ditadura de Assad, destrua o fornecimento de energia, os sistemas de comunicação, as fábricas e as pontes como na Sérvia; melhor ainda: refinarias, depósitos de petróleo, campos de aviação e portos. E, com armas de precisão ou não, aceite milhares e milhares de mortes de civis… Na guerra, aplica-se a “falácia do último movimento”: se um lado ataca na expectativa de que o outro abaixe as armas. Nesse caso, o golpe deve ser quase fatal. Caso contrário, a guerra ‘curta’ se tornará uma guerra interminável, o que o Ocidente quer evitar a todo custo.”

Imprensa belicosa
Mas Assad ainda está lá, apesar dos mais de 100.000 rebeldes e terroristas armados pelo Ocidente e seus aliados. A estratégia criminosa de caos do Ocidente não “destruiu” o regime, mas o povo, o país.

Steffan Kornelius, diretor de política externa do Süddeutsche Zeitung, apresentou um argumento igualmente belicoso. Ele chamou a rejeição do governo alemão à guerra do Iraque em 2002 de “tola” e “errada”. A Alemanha estava “sacrificando a OTAN … no altar da nova política externa alemã … Bem-vindo ao Isolarion! … O preço por essa decisão será enorme”. Ele chamou as bombas contra Gaddafi de “corajosas” e a abstenção alemã no Conselho de Segurança das Nações Unidas de “o maior erro de política externa” do governo alemão. A Alemanha vai pagar um preço alto por isso”, previu ele aos seus leitores.

Hoje, os três jornalistas estão chateados com a explosão do terrorismo no Oriente Médio. A ideia de que eles próprios poderiam estar contribuindo intelectualmente para o caos que está nos atingindo como um bumerangue, não lhes ocorre. Muito pelo contrário! Kohler e Joffe ridicularizam os oponentes da guerra como “abutres da propaganda islâmica” e “pacifistas vulgares”.

Kohler, Joffe e Kornelius não fazem comentários muito diferentes de seus famosos colegas do New York Times ou do Washington Post. Os principais meios de comunicação do mundo ocidental ajudaram a provocar muitas guerras. E não apenas nos últimos anos. Há livros inteiros sobre a belicosidade da mídia americana.

Sentados no quentinho e cantando para a guerra
Tais jornalistas também parecem desejar que exércitos inteiros se movimentem em resposta a seus comentários. Afinal de contas, as bombas não estão voando em torno de seus ouvidos, mas dos ouvidos dos outros. Eles raramente são encontrados onde as coisas acontecem de verdade, mas ainda assim veem a guerra como um sinal de masculinidade. Por segurança, não se submetem a esse teste de masculinidade. Goethe desprezava as pessoas que se sentavam em suas salas quentes e cantavam canções de guerra.

Convido cada um desses três grandes jornalistas – Kohler, Joffe e Kornelius – a passar uma semana comigo em uma zona de guerra. E para visitar um hospital de guerra depois disso. Nas zonas de combate do Afeganistão, Líbia, Iêmen ou Somália. Não como um “jornalista infiltrado”. Mas sem guarda-costas e sem colete à prova de balas. As pessoas que o Ocidente está bombardeando também não têm coletes à prova de balas. Quer apostar que ninguém vai aparecer? Cantar canções de guerra é mais fácil se você ficar no calor de sua sala de estar.

O “triângulo de ferro” de Kohler, Joffe e Kornelius não pode falar pela maioria dos jornalistas alemães. Em minha experiência, a maioria dos jornalistas alemães está do lado da paz. Mas Kohler, Joffe e Kornelius representam uma mídia poderosa e líder de opinião na Alemanha. Eles são aliados jornalísticos do projeto de dominação mundial dos EUA. Eles nunca serão aliados na luta contra a hipocrisia.

Dupla atração
A proximidade dos principais jornalistas ocidentais com os líderes da política ocidental já foi analisada muitas vezes. O principal problema não é a participação deles em determinadas conferências transatlânticas. Em vez disso, é o fato de alguns jornalistas se sentirem confortáveis demais perto dos poderosos. Eles se deixam intoxicar pelo ambiente de poder. Esquecem-se de seu papel de cão de guarda e abandonam seu distanciamento seguro. Eles se tornam cortesãos.

Durante anos, testemunhei em primeira mão o respeito com que os principais representantes da mídia se aproximavam dos chanceleres Brandt, Kohl, Schröder e Merkel. O quanto eles gostavam da proximidade pessoal que os caracterizava na frente de seus colegas. Depois de uma longa conversa individual com um dos poderosos, seus artigos geralmente não continham uma palavra crítica por um longo tempo. E, se alguma delas escapasse, eles se retiravam por meses.

Os juízes precisam se declarar “tendenciosos” se estiverem tão próximos. Retirar-se da disputa legal. O mesmo fazem os árbitros de futebol e os juízes de patinação artística. Isso é, de fato, uma questão natural. E, no entanto, quase ninguém adere a essa regra básica do jornalismo objetivo e consciente. Quanto mais tendenciosas algumas pessoas são, mais abertamente elas escrevem.

Falta liberdade interna na imprensa
Passei vinte anos da minha vida trabalhando na política e 22 anos na mídia. Conheci inúmeros jornalistas. Muitas vezes, pessoas impressionantes com quem me senti muito à vontade. Pessoas que estão do lado da paz. Até mesmo nos três principais jornais alemães que mencionei.

Por que é tão raro ouvirmos suas vozes em momentos cruciais? Por que é tão difícil para eles enfrentar o belicismo irresponsável de seus superiores? Por que eles não usam seus erros catastróficos de julgamento contra eles?

Um dos motivos provavelmente é que a liberdade de imprensa garantida pela Carta Magna protege mais as organizações de mídia do que os jornalistas. É verdade que os jornalistas individuais também são protegidos de intervenções externas. Entretanto, eles não estão protegidos contra intervenções internas. De instruções de seu superior, seu editor-chefe. Os jornalistas não têm “liberdade de imprensa” em relação ao editor-chefe ou ao editor. Nossa constituição garante apenas a “liberdade externa”, não a “liberdade interna de imprensa”.

País livre?
Quando os editores-chefes de alguns dos principais meios de comunicação alemães decidem na conferência matinal: “É assim que vamos comentar sobre o conflito no Irã hoje”, o conflito geralmente também é comentado “dessa forma” pelo editor responsável. Mesmo que eles discordem completamente. É claro que ele pode discutir e discordar. Se o editor-chefe mantiver sua opinião, ele terá de ceder. Depois de uma certa idade, não é fácil simplesmente pedir demissão.

Com Friedrich Schiller, eu gostaria de gritar para todos os editores e chefes de redação: “Dê liberdade de pensamento, senhor!” Mas o que eu gostaria de ver nos jornalistas, também com Schiller, é “mais coragem de homem diante dos tronos principescos!” Às vezes, é preciso lutar por sua opinião. E, se necessário, pagar um preço por ela.

Direito à “linha editorial”
Ninguém deve negar aos editores e editores-chefes o direito de determinar a direção básica de sua mídia. Mas em questões fundamentais de guerra e paz, em questões centrais de certo e errado, em questões importantes de consciência, o jornalista individual deve ter mais liberdade. Até mesmo o Tribunal Constitucional Federal publica os “votos da minoria”. Será que algo semelhante não pode ser feito na mídia? Na questão da guerra e da paz, muitas vezes esses seriam até mesmo “votos da maioria”.

Por mais de vinte anos, fui assistente de Hubert Burda, um editor alemão com ideias políticas claras. Durante esse período, escrevi vários livros sobre as guerras no Afeganistão e no Iraque. Eles fazem uma análise crítica da política externa americana. Neles, também formulei minhas preocupações sobre a política externa de Israel.
Na época, meu editor era um grande amigo dos EUA. E um amigo ainda maior de Israel. Ele me deixou fazer isso mesmo assim. Embora certamente não tenha sido fácil para ele. É claro que tivemos discussões sobre minhas declarações. Mas elas eram justas e soberanas. É isso que quero dizer quando falo sobre tolerância editorial. É possível.

A mentira destrói a credibilidade
Essa tolerância e atitude liberal em relação a opiniões divergentes também é do interesse dos proprietários e editores-chefes da grande mídia. Um dos motivos da perda de credibilidade da grande mídia é que ela frequentemente suprime opiniões contrárias. E marginalizam os fatos que não se encaixam em sua visão de mundo.

Tenho mais de 700.000 assinantes em minha página do Facebook. Alguns de meus artigos alcançaram milhões de leitores. Não porque meu texto seja particularmente original. Mas porque o corajoso Süddeutsche Zeitung (SZ), o diversificado Frankenfurter Allgemein Zeitung (FAZ) ou a atrevida revista Spiegel do passado não existem mais. E os jovens geralmente não acreditam mais na mídia tradicional. Porque eles foram enganados com muita frequência. Infelizmente, as notícias falsas não são apenas um problema da mídia social, mas também da mídia tradicional.

Quando viajei pelo Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Palestina, Irã ou Iêmen nas últimas décadas e estudei as reportagens da mídia ocidental à noite, muitas vezes pensei que estava assistindo ao filme errado. Porque eu estava lendo coisas que tinham pouco a ver com a realidade no local. Também tive que corrigir minha opinião várias vezes durante minhas viagens. Mas a corrente principal nunca muda sua opinião pró-Ocidente. Ela sempre segue o mesmo roteiro.

Especialmente em questões de guerra e paz, a grande mídia ocidental tem sido, muitas vezes, o farol dos poderosos. Muitas vezes, eles espalham suas mentiras sem controle. Eles pensavam: Por que um ministro da defesa ou outro membro do alto escalão do governo deveria nos contar uma mentira? Sim, por que eles diriam? Porque a política sempre precisa de propagandistas.

Pelo renascimento da diversidade de opiniões
Eu costumava encontrar uma grande variedade de opiniões sobre questões importantes no FAZ. Por exemplo, sobre a guerra no Afeganistão, no “Politisches Buch”, partidários e opositores tinham sua opinião. No “Feuilleton” ou na editoria de “Economia”, eu encontrava outra visão das coisas.

Isso foi um ótimo jornalismo, onde se testemunhava a liberdade intelectual. Mas isso é coisa do passado. As reportagens sobre questões de política externa agora tendem a ir em uma única direção. O que aconteceu com a antiga diversidade de opiniões do FAZ?

Há meios de comunicação que ainda tentam permitir um certo grau de “liberdade de imprensa interna” e diversidade de opinião. O Die Zeit, por exemplo, ou as emissoras públicas. E alguns jornais regionais. Mas mesmo eles raramente resistiram ao zeitgeist em questões importantes. Sua voz contra a guerra e a hipocrisia raramente foi ouvida. Ou apenas de forma discreta e sutil. Em geral, eles não eram um contrapeso real.

Guardiãs da democracia
Até mesmo a outrora grande Spiegel não é mais um farol da imprensa livre. Não apenas desde o “caso Relotius”*, embora grandes jornalistas ainda escrevam em algumas editorias da publicação. A Der Spiegel costumava ser tão controversa, que você podia odiar e amar numa mesma edição, mas agora está atrasada em relação ao zeitgeist em muitos tópicos de uma forma quase embaraçosa. Em algumas questões que posso julgar razoavelmente bem, como a questão da Síria, ela estava e está tão longe do alvo que quase dá para sentir pena dela.

A revista foi obrigada pela justiça a se retratar por conta de uma reportagem de várias páginas sobre a nossa viagem ao “Estado Islâmico”. No final da audiência, a Der Spiegel anuiu todos os quatorze trechos que eu havia classificado como falsos e emitiu “declarações de cessação e desistência com penalidades anexas”. A publicação nunca mais deve repetir essas 14 declarações.

Seguindo o conselho do Tribunal Regional de Hamburgo, a Der Spiegel até mesmo se comprometeu a excluir completamente seu artigo da Internet. “Não dá para ser pior do que isso!”, disse-me um observador no julgamento, balançando a cabeça. A Der Spiegel nunca se desculpou com seus leitores por essa falha. Pelo menos não para mim. Basicamente, isso é triste. A Der Spiegel foi uma das mais importantes guardiãs de nossa democracia. Ela só voltará a sê-lo com um jornalismo muito mais corajoso.

A coragem de historiadores
Enquanto alguns meios de comunicação seguem as opiniões dos poderosos, banalizam-nas ou defendem-nas, os historiadores geralmente têm uma visão mais intrépida e livre das linhas gerais da política mundial. Os historiadores apontam abertamente as hipocrisias e os erros de nosso tempo. Na preparação para este livro, li inúmeras obras de historiadores alemães, americanos e franceses. Eles raramente contam o conto de fadas da luta “heróica” do Ocidente pelos direitos humanos e pela democracia. É absurdo demais. Quase ridículo. Será que alguns jornalistas não poderiam, pelo menos, dar uma olhadinha nesses trabalhos?

Hipocrisias dos poderosos
Será que não vou mais ler o SZ, o FAZ ou o ZEIT? Eu estaria me punindo. Leio pelo menos duas horas de jornais todos os dias. Com grande proveito. Passo pelo menos uma hora por dia em minha bicicleta ergométrica lendo o FAZ. Incluindo artigos de Berthold Kohler, é claro. Não para “observar o inimigo”, mas porque também encontro análises fortes nesse jornal. Também de Kohler. O mesmo se aplica ao SZ e, cada vez mais, também ao Die Zeit. Ou o jornal semanal Der Freitag.

Os jornais fazem parte de nossa cultura. É exatamente por isso que o fracasso de muitos dos principais meios de comunicação sobre a questão da guerra e da paz me deixa tão irritado. O fato de eles permitirem que as hipocrisias dos poderosos passem tão facilmente, e até mesmo concordarem com elas, coloca em risco a paz no mundo todo. E enfraquece sua própria importância.

A mentira vitalícia de nossa civilização
Não acredito que haja jornalistas na mídia que mencionei que escrevam deliberadamente inverdades. As exceções comprovam a regra. Acredito que a maioria dos defensores jornalísticos da guerra são, eles próprios, vítimas de uma grande mentira. A mentira vitalícia do Ocidente, de que sua política de poder é uma ação humanitária. Nunca será uma política de poder. Os EUA gastam inimagináveis 700 bilhões de dólares em armamentos porque querem fazer valer seus interesses em todo o mundo. Não para dar acesso à escola às meninas afegãs.

A grande mídia deve parar de divulgar esses contos de fadas tolos. Não deveriam ser elas a aplaudir o guarda-roupa inexistente do imperador, como no conto de fadas de Andersen, As roupas novas do imperador. Você deveria ser o garotinho que afirma abertamente que o imperador não está vestindo nada.

* O “Caso Relotius” se refere a uma serie de reportagens fraudulentas produzidas pelo jornalista Claas Relotius, membro do staff principal da revista Der Spiegel entre 2017 e 2018.

 

Em “Extravagante”, Liana Timm exibe 30 obras que reúnem técnicas analógica e digitais  

A artista visual Liana Timm produziu mais de 400 desenhos em lápis de cor da pandemia para cá, resgatando a gestualidade que havia ficado adormecida durante o tempo em que a exploração digital esteve em primeiro plano na sua atividade artística.

Agora, na mostra “Extravagante”, em cartaz na Macun Livraria e Café, até 6 de julho, ela exibe 30 obras que reúnem técnicas analógicas (desenho, pintura) e digitais (via computador).  “As imagens, após retrabalhadas digitalmente e transferidas para telas, resultaram numa técnica pessoal que mixa o analógico e o digital, criando um equilíbrio entre manualidade e tecnologia”, explica a artista, que tem 55 anos de uma carreira profícua e reconhecida.

.O ceu é muio azu Liana Timm 80x150cm/ Divulgação

Analisando a série produzida, Liana nota que o conjunto de obras “parece querer dar conta, através da ilusão de ótica e efeitos de linguagem, da mutabilidade do mundo e suas ilimitadas possibilidades”. Em meio a cores fortes ou esfumaçadas, aparecem personagens em estado de perplexidade e indagação. O olhar, quase sempre vago, quer simbolizar a solidão humana, o pensamento ativo e a emoção à flor da pele, descreve a artista multimídia.

Arquiteta por formação – graduou-se na UFRGS, onde também lecionou no curso por 20 anos -, Liana reforça que “Extravagante” é uma exposição na qual se afirma como linha condutora “o dentro para fora”, abrindo tanto para o artista quanto para o observador novas possibilidades e descobertas.

“Liana nos diz que o tema da hora não é só o da hora, e sim questões irresolvidas da humanidade que ainda nos perseguem. Laço do singular com o coletivo. Questões em ebulição, que atravessam e nos alcançam. E que possam encontrar expressão. Com nova combinatória, com a possibilidade de novo movimento. Não é remanejamento do antigo, mas sim ato criativo”, diz a psicanalista Lúcia Serrano Pereira sobre a exposição.

Os tons da liberdade.LianaTimm./ Divulgação

SERVIÇO

Extravagante, exposição de Liana Timm

Local: Macun Livraria e Café

Endereço: Rua Octávio Corrêa, 67, Cidade Baixa.

Visitação: até 6 de julho; de terça-feira a sábado, das 13h às 20h; domingo, das 14h às 20h

Entrada gratuita

Fotos das obras: divulgação da artista

Foto de Liana Timm: Luis Ventura

Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta FavelA apresenta “Os sofrimentos do jovem Werher”

Versão adaptada do primeiro clássico do escritor e poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe, a montagem teatral Os sofrimentos do jovem Werther, do coletivo Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta FavelA…. volta a cartaz às 20h deste sábado (17) e segue em temporada até o dia 28 de junho (sempre aos sábados, às 20h) na Sala 1 da KZA Terezinha (Rua Santa Terezinha, 711). No elenco, estão Sandro MarquesPâmela BratzDanielle RosaKetelin AbbadyThomaz Rosa, Ricardo Padilha, Alexandre Malta, Antônia Alonso Marco Olgini.

Os sofrimentos do jovem Werther_Ana Sartori / Divulgação

Concebido com direção coletiva e produzido com recursos do Edital Bolsa Funarte de Apoio a Ações Artísticas Continuadas 2024 e do Edital SEDAC/LPG nº 10/2023, o espetáculo inspirado no romance epistolar (narrado através de cartas) de Goethe aborda o tema da impossibilidade do amor. Na trama, o jovem pintor Werther nutre uma paixão devastadora por sua amiga Charlotte, sem poder fazer nada além de sonhar.

Os sofrimentos do jovem Werther_Ana Sartori/ Divulgação

Na montagem realizada pelo grupo gaúcho, a dramaturgia segue a linha principal do roteiro original, mas desmonta a lógica do texto e traz à tona questões como o feminismo, a solidão, a busca do indivíduo pela liberdade de usufruir de sua vida em meio ao sistema em que está inserido, e a própria função do artista na sociedade.

Os sofrimentos do jovem Werther_Ana Sartori (25)/ Divulgação

Colocada pelo coletivo teatral como ponto central da narrativa, Charlotte é noiva do advogado Albert e pivô de uma comovente história de sofrimentos na burguesia da Civilização Ocidental. No decorrer do enredo, Werther termina por se desesperar e passa a se apresentar como irracional e suicida: para ele, a vida só tem sentido com sua amada. Ela, por sua vez, fica dividida entre os dois homens, mantendo o compromisso com aquele a quem foi prometida em casamento, mas sentindo uma grande afinidade pelo amigo. Ao mesmo tempo em que segue o papel imposto pelo patriarcado, a protagonista do espetáculo se revela – no íntimo – dona de si e de seus desejos.  “Nos demos conta de que não tinha como falar do homem no papel central, mas sim da mulher, que sempre está à mercê, subalterna, numa posição que não é justa para ela”, pontua Danielle.

Os sofrimentos do jovem Werther_Ana Sartori/ Divulgação

Na peça, surgem outras personagens femininas que também arcam com opressão em outras posições. “É importante e necessário falar desta relação de como foi antes de nós, com nossas avós, nossas bisavós; é nossa bandeira de amor livre, da não-monogamia, da liberdade sexual, de culto, de trabalho, da mulher não se submeter”, sinaliza Danielle. “Por outro lado, o personagem Werther é, de forma metafórica, a representação das pessoas que se apaixonam e sonham, vivendo em um mundo que clama por transformação – que é o nosso caso, como ativistas que buscam isso através do teatro”, emenda a atriz.

Trabalhando há 17 anos com temas que sirvam de terreno fértil para a discussão de seus anseios, o grupo Levanta FavelA… bebe nas fontes do Teatro do Absurdo, do Teatro da Crueldade (de Antonin Artaud), do Teatro Épico (de Bertolt Brecht) e do Teatro do Oprimido (de Augusto Boal). No caso da atual montagem, o coletivo investe nas duas primeiras linguagens para, no decorrer de dez cenas, apresentar uma dramaturgia densa, lírica e essencialmente psicológica, ao mesmo tempo em que celebra e insere na cena referências de matriz afro, como exemplo de Cosme e Damião, duas divindades da Umbanda protetoras das crianças.

Os sofrimentos do jovem Werther_Ana Sartori / Divulgação

“Ainda que sempre com uma pitada de contemporaneidade e nonsense, gostamos de buscar nos clássicos a inspiração para falar de nossas inquietações”, revela Marques. “Vínhamos, há algum tempo, abordando a temática da saúde mental em nossas discussões em grupo, a partir do evento da pandemia de Covid-19, que impactou muitas pessoas nesse sentido”, ressalta o ator, ao se referir sobre o tema do suicídio, visto até hoje, pela maioria das pessoas, como controverso.

Serviço:

Os sofrimentos do jovem Werther

Datas: dias 17, 24 e 31 de maio e dias 07, 14, 21 e 28 de junho

Horário: 20h

Local: KZA Terezinha (Santa Terezinha, 711, Santana)

Ingressos: R$ 60,00

 FICHA TÉCNICA

Direção: coletiva

Interpretação: Sandro Marques, Danielle Rosa, Pâmela Bratz, Ketelin Abbady, Thomaz Rosa e Marco Olgini

Iluminação: Alexandre Malta

Sonoplastia: Ricardo Padilha

Contrarregragem: Antônia Alonso

Cenário: o grupo

Produção: o grupo

Sobre a Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta FavelA…:

Coletivo criado em 2008, em Porto Alegre, com Teatro de Rua, Teatro de Vivência e Intervenções Cênicas. Com forte engajamento com movimentos sociais, o grupo coloca na sua estética e linguagem a discussão política sobre questões atuais e pertinentes ao contexto social contemporâneo, fazendo da cultura uma ferramenta de discussão social. Ao longo de sua trajetória, realizou 17 espetáculos: Margem Abandonada Medeamaterial Paisagem com ArgonautasTebasO Beijo no AsfaltoLua de Mel em Buenos Aires A Mulher Crucificada O Beijo da BestaMalone MorreA Babá e o IcebergEm Busca de Christa TO Canto da TerraA Árvore em FogoFutebol, nossa PaixãoA Belíssima Fábula de Xuá-Xuá A Fêmea Pré-Humana Que Descobriu o TeatroSepé: Guarani Kuery Mbaraeté!Populares Temem Invasão das Salsichas GigantesManual do Guerrilheiro UrbanoMaria Suas Filhas e Seus FilhosDon Juan Os Sofrimentos do Jovem Werther.

Em “Sweet songs”, João Maldonado Trio traz para o jazz clássicos do rock

No dia 15 de maio (quinta-feira), o pianista João Maldonado retorna ao Espaço 373 para apresentar novos arranjos criados para canções do rock que atravessam gerações e que cabem num piano, num baixo acústico e numa bateria.

Acompanhado por André Mendonça (baixo acústico) e Dani Vargas (bateria)Maldonado escolheu para a estreia do show Sweet Songs clássicos, como “Come Together” e “Norwegian Wood” (Beatles), “Voodoo Child” (Jimi Hendrix), “Nunca Mais Voltar” (TNT), “Vem Pra Cá” (Papas da Língua), e “Dia Especial” (Duca Leindecker), além de composições autorais.

Prestes a subir mais uma vez ao palco do Araújo Vianna com o TNT, o pianista destaca que o repertório faz parte de seus estudos para “navegar” por outros estilos, lhe permitindo a improvisação.

João Maldonado – Foto Marcelo Nunes / Divulgação

Mais conhecido como “Jazz Rock”, a origem deste estilo remonta à década de 1960, época em que os músicos de rock começaram a incorporar em suas músicas elementos de jazz como a improvisação e complexidade das composições. Desta união de elementos surgiram bandas e músicos com composições mais elaboradas.

Tanto “All You Need is Love” quanto “Got To Get You Into My Life”, dos Beatles, foram fortemente influenciados pelo jazz, enquanto “Sympathy for the Devil”, dos Rolling Stones, apresenta um ritmo de jazz latino. Muitos músicos de jazz também experimentaram o rock and roll ao longo dos anos, com vários graus de sucesso. O jazz fusion surgiu como um subgênero que incorporava instrumentos elétricos e ritmos do estilo rock em composições de jazz, como Miles Davis, Herbie Hancock e John McLaughlin.

João Maldonado – Foto Marcelo Nunes/ Divulgação

SERVIÇO
João Maldonado Trio | Sweet Songs
Quando: 
15 de maio | Quinta-feira | 21h
Onde: Espaço 373 (Rua Comendador Coruja, 373 – Floresta)
Ingressos: R$30 a R$90
Ingressos antecipados:
 https://tri.rs/event/65/joao-maldonado-sweet-songs
Informações e reservas de mesas pelo WhatsApp: (51) 999 99 23 15

Gloria Groove apresenta o show Serenata da GG, em novo local e horário

 

O show Serenata da GG, com Gloria Groove, em Porto Alegre, teve alterações de local e horário. A apresentação, marcada para o dia 24 de maio, será realizada na URB Stage (Rua Beirute, 45 – Bairro Navegantes). A mudança foi necessária por conta de questões logísticas de montagem e desmontagem, além das condições climáticas e da programação de jogos na Arena do Grêmio, local inicialmente previsto para o evento.

Foto; Divulgação

Agora, o público vai curtir a noite em ambiente coberto, climatizado, com estrutura de alta qualidade para som e iluminação. Os portões abrem às 22h. Às 23h, quem aquece a pista é a Júlia Jorge, preparando o terreno para o grande momento da noite. Gloria Groove sobe ao palco à 0h30min, com seu show cheio de emoção, romantismo e hits. E a partir das 2h30min, a cantora Pocah encerra a festa com muita potência e batida envolvente.

Com realização da Experiência Z, Bolico Produções e Elo Entretenimento, a turnê “Serenata da GG” já passou por diversas cidades brasileiras, reunindo milhares de fãs e consolidando o sucesso do projeto que mergulha na essência do pagode romântico. No repertório, 34 músicas que passeiam por sucessos autorais e releituras emocionantes de clássicos do gênero.

Foto: Divulgação

O álbum duplo “Serenata da GG”, lançado em 2024, soma mais de 300 milhões de reproduções nas plataformas digitais. O hit “Nosso Primeiro Beijo” figura entre as músicas mais tocadas do país. Aos 30 anos, Gloria Groove é hoje uma das artistas mais ouvidas no Brasil, com mais de 7,9 milhões de ouvintes mensais no Spotify, colecionando parcerias com grandes nomes como Alcione, Thiaguinho, Mumuzinho, Anitta, Pabllo Vittar e Ludmilla.

Já a cantora Pocah, com mais de 33 milhões de seguidores nas redes sociais e um milhão de ouvintes mensais no Spotify, é um dos maiores nomes do funk nacional. Em mais de uma década de carreira, ela emplacou hits como “Não Sou Obrigada”, “Bandida” (com Pabllo Vittar) e “Passando o Rodo”, além de flertar com outros estilos como o afrobeat e o trap.

Foto: Divulgação

Com um lineup potente, estrutura de qualidade e nova casa, a “Serenata da GG” promete uma noite inesquecível em Porto Alegre.

SERVIÇO

O QUE:  Gloria Groove apresenta a “Serenata da GG”

DATA: 24 de maio

HORÁRIO:

22h abertura

23h Júlia Jorge

00h30min – Serenata da GG

2h30min – Pocah

LOCAL: Urb Stage (R. Beirute, 45, Navegantes)

INGRESSOS:

VIP inteira – R$ 190,00

VIP meia entrada – R$ 95,00

VIP solidária – R$ 170,00

COMPRA PELO SITE: https://minhaentrada.com.br/evento/serenata-da-gg-poa–25359

* COMPRA DE CAMAROTE PARTICULAR E MESA PELO WHATSAPP (51) 99863 0803.

A realização é da Experiência Z, Bolico Produções e Elo Entretenimento.

Com o tema Surreal, Miniarte Internacional abre inscrições para sua 52ª edição

 

O Projeto Miniarte Internacional está com inscrições abertas para a coleção “Surreal”, tema escolhido para ser abordado pelos participantes em 2025. Do dia 8 de maio até 20 de julho, as inscrições individuais e de grupos têm desconto. Todas as informações sobre a 52ª edição podem ser acessadas no site https://www.miniartex.org.

O projeto da Miniarte foi criado, em 2003, pela artista visual gaúcha Clara Pechansky, que se mantém à frente da iniciativa. Até agora, em 22 anos de existência, já foram realizadas 51 edições em 20 países de cinco continentes, com a participação de mais de 3.000 mil artistas, num total de 20 coleções diferentes.

Artista visual Clara Pechansky – Foto: Divulgação

Observando a trajetória da humanidade e o momento histórico vivido neste primeiro quarto do século 21, Clara considera que o tema escolhido é “atualíssimo”. Aos 88 anos, nascida e formada em Belas Artes em Pelotas, ela se radicou em Porto Alegre no final da década de 1950, consolidando-se como uma das mais reconhecidas artistas visuais da Capital e do estado.

A Miniarte Surreal será realizada dia 8 de novembro, na Gravura Galeria. A logomarca da atual edição, com características do movimento surrealista, foi desenvolvida pelo designer gráfico Ronald Souza, bacharel em Desenho pelo Instituto de Artes da Ufrgs.

A leitura da arte, em diferentes técnicas e linguagens, da enchente de maio de 2024

Uma amostra significativa de como as artes visuais absorveram e reelaboraram, em diferentes técnicas e linguagens, a enchente histórica que atingiu o Rio Grande do Sul há um ano. Assim pode ser resumida a exposição “As Águas Selvagens”, que reúne 43 artistas sob a curadoria de Ana Zavadil, no Museu de Arte do Paço, em Porto Alegre. A abertura acontece na terça-feira (6/5), às 18h30.
A artista Isabel Marroni apresenta a obra “Rio que me atravessa”, pintura acrílica e colagem de retalhos de telas, tecidos e papéis artesanais. Tons frios e formas fragmentadas sugerem caos e desolação.
 
“O trabalho não apenas retrata um elemento de perda, mas também celebra a capacidade de renovação e a força coletiva que emerge em tempos de crise. A arte, portanto, se transforma em um canal de diálogo e reflexão, convidando o espectador a contemplar as consequências das mudanças climáticas e a importância da solidariedade em momentos de adversidade”, reflete Marroni.
As obras, sejam pinturas, fotografias, instalações, desenhos, arte têxtil, emocionam. São espelhos sensíveis da dor, da solidariedade e da resiliência que marcaram aquela tragédia. Elas nos tocam porque não apenas documentam os acontecimentos, mas também traduzem o impacto humano e emocional que escapou às estatísticas. São imagens potentes das enchentes e dos esforços de reconstrução”, ressalta Zavadil, ex-curadora-chefe do MARGS e do MACRS, mestre em História, Teoria e Crítica de Arte pela UFSM e professora de pintura e desenho.
Vera Carlotto e sua instalação memorial/ Divulgação
A instalação “Resgatar Afetos”, da artista Vera Carlotto, homenageia a memória das vítimas das enchentes, cujos rostos aparecem com tarjas que reproduzem imagens de satélite do transbordamento dos rios.
 
“É um memorial suspenso de 2m80, feito em assemblage com mais de 200 imagens. Em um galho de árvore que recolhi na rua, mesclei fotografias das vítimas às imagens de satélite e pendurei-as por anzóis e as distribuí como o fluxo d’água, circundando um saco de areia tatuado com os nomes dos que partiram. Criei uma paisagem de luto e de memória, fazendo da arte um abrigo para as ausências”, relata Carlotto.
 
Foto de Nilton Santolin/ Divulgação
Além de se expressar artisticamente, cada participante escreveu um texto que pode ser lido pelo visitante ao acessar um QR Code que acompanha a obra. “A minha série de fotos ‘Marca d’água’ é um alerta, um grito, um desabafo e um pedido para que as autoridades tomem providencias e evitem ou diminuam os impactos de um novo episódio climático”, clama o artista Leandro Selistre.
Obra de Karina Koslowski/ Divulgação
Numa demonstração de resistência, o prédio histórico do Museu de Arte do Paço, construído entre 1898 e 1901, foi atingido pela águas da enchente e agora serve de palco a essa mostra que reflete artisticamente sobre o fenômeno ocorrido há um ano.
Obra de Fernanda Martins Costa/ Divulgação
Artistas da exposição
Alexandra Eckert, Andrea Brächer, Clara Figueira, Clara Koppe, Cleci A. Serpa, Cristie Boff, Denise Wichmann, Edson Possamai, Esther Bianco, Fátima Pinto, Fernanda Martins Costa, Gladis Coifman, Graça Craidy, Griseldes Vieira, Helena d’Avila, Helena Schwalbe, Isa Dóris Teixeira de Macedo, Isabel Marroni, Ivone Rabelo, Jane Maria, Juiara Barbizan, Jussara Moreira, Karina Koslowski, Kátia Werenzuk, Leandro Selistre, Lisi Wendel, Lorena Steiner, Lu Gaudenzi, Mariana Voltolini, Marinelsa Geyer, Mary Marodin, Miriane Steiner, Mylène d’huyer, Neca Lahm, Nilton Santolin, Patricia Schneider, Ricardo Giuliani, Sandra Gonçalves, Silvia Rodrigues, Simone Barros, Sirlei Hansen, Vera Carlotto e Yas Almeida.
Coracões do RS de Silvia Rodrigues. foto Nilton Santoliin/ Divulgação
SERVIÇO
Exposição:  “As Águas Selvagens”
Curadoria: Ana Zavadil
Abertura: 6 de maio, das 18h30 às 20h30
Visitação: de 7 de maio a 20 de junho, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h
Local: Museu de Arte do Paço
Endereço: Praça Montevidéu, 10, Centro Histórico de Porto Alegre/RS
Entrada gratuita

“A Carne “: o estético e o conceitual do corpo humano, nas fotos de Gilberto Perin

Localizado no Centro Histórico de Porto Alegre, o Espaço Cultural do Hotel Praça da Matriz (HPM) hospeda de 6 de maio a 2 de junho a exposição “A Carne”, com 20 imagens inéditas e novos recortes de trabalhos já apresentados pelo fotógrafo gaúcho Gilberto Perin. A mostra tem abertura às 18h de terça-feira (6) e visitação de segunda a sexta (10h-18h), com entrada franca. Endereço: Largo João Amorim de Albuquerque nº 72, próximo ao Theatro São Pedro.

Roda de Cultura

A programação inclui duas novas edições do projeto “Roda de Cultura”, com o artista visual recebendo o público para um bate-papo descontraído sobre sua obra e trajetória.

Também com participação gratuita e aberta ao público em geral, os encontros serão realizados nas tardes de duas quartas-feiras – 14 e 28 de maio. É necessário agendamento pelo telefone/whatsapp (51) 98595-5690.

CARNE – detalhe foto Gilberto Perin / Divulgação

Obra e artista

Com formatos e dimensões variadas, as fotos da série têm por foco estético e conceitual o corpo humano, com seus múltiplos significados e interações, em uma época marcada pelo contraste entre padronização da beleza, sufocamento de sensações, banalização da intimidade e perda de espaço do natural para o artificialismo. O autor acrescenta:

“Não se trata de uma crítica conservadora à superexposição ou algo do tipo, mas do convite a um novo olhar sobre a cultura em que o corpo é visto de forma fragmentada, impactando a percepção individual e coletiva. Parte desse trabalho foi inspirada pela conversa que tive com uma amiga sobre os aplicativos de relacionamento, que exploram fetiches e narcisismos, comercialmente ou não, de forma explícita ou insinuada”.

Gilberto Perin, 71 anos, tem trajetória consagrada na área cultural, como roteirista, diretor de cena, ator de teatro/cinema e artista visual. Nascido em Guaporé (RS) e radicado em Porto Alegre desde 1972, é formado em Comunicação Social pela PUCRS. Criou e dirigiu premiados curtas-metragens, videoclipes e minisséries para televisão.

EXPOSICAO A CARNE – Foto Gilberto Perin / Divulgação

Suas fotografias já foram expostas em instituições como o Centro Cultural CEEE, Sesc-RS, Casa de Cultura Mário Quintana, Margs, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, Espaço IAB, Santander Cultural, Memorial do RS, Fundação Ecarta e Museu Joaquim José Felizardo, além de São Paulo, Portugal, França, Itália, Suíça e Hungria.

 

É também autor dos livros “Camisa Brasileira” (2011), “Fotografias para Imaginar” (2015) e “Theatro São Pedro – 165 anos” (2023),  sem contar a presença de seu trabalho nas capas de quase 30 publicações de contos, poesias, romances, biografias e outros gêneros.

CARNE – detalhe foto Gilberto Perin / Divulgação

Espaço cultural HPM

 Inaugurado como imóvel residencial no final da década de 1920, o palacete do Largo João Amorim de Albuquerque nº 72 abriga há quase 50 anos o Hotel Praça da Matriz. O empreendimento passou por ampla revitalização e, sob o comando da família Patrício desde 2014, hospeda anônimos e famosos, além de abrigar o Espaço Cultural HPM. No foco estão exposições, saraus, lançamentos de livros e outros eventos, em parceria com a empresa Práxis Gestão de Projetos.

A origem do imóvel remonta a Luiz Alves de Castro (1884-1965), o “Capitão Lulu”, dono do cabaré-cassino “Clube dos Caçadores”, instalado de 1914 a 1938 na rua Andrade Neves (a poucas quadras dali) e enaltecido por cronistas e escritores como Erico Verissimo. A fortuna amealhada pelo empresário com a atividade ainda bancou, na mesma época, a construção do imponente edifício que hoje sedia o Espaço Cultural Força e Luz (Rua da Praia).

Contratado por Lulu, o engenheiro e arquiteto teuto-gaúcho Alfred Haasler projetou quatro andares com subsolo, pátio interno e dois diferenciais naquele tempo: garagem e sistema francês para calefação de água, tudo em estilo eclético, com mármores, azulejos e outros materiais importados. O conjunto está inventariado como de interesse histórico pelo Município e contemplado com o programa Monumenta, permitindo a recuperação de fachada, cobertura e estrutura elétrica.

O proprietário não teve muito tempo para aproveitar tamanho requinte, pois migrou no início da década de 1930 para o Rio de Janeiro, ampliando atividades (foi sócio do Cassino da Urca e dono de diversos empreendimentos). Com o decreto federal que em 1946 proibiu os jogos-de-azar, Lulu se desfez do seu patrimônio em Porto Alegre. O palacete junto à Praça da Matriz – até então alugado a terceiros – trocou de mãos até ser adquirido em 1949 por um comerciante cuja nora, Ilita Patrício, mantém hoje o estabelecimento hoteleiro.

“Teste de Rorschach” inspira releitura visual para exposição de Pena Cabreira

O texto abaixo é do artista visual Pena Cabreira

“SUDÁRIOS (Protocolos Revisitados)
A série Sudários possui uma “árvore genealógica” complexa até chegar a este formato. Em 1990 me deparei com um livro antigo sobre o “Teste de Rorschach” (que analisava disposições psicóticas em pacientes através da interpretação de padrões visuais). O livro continha protocolos com diagnóstico de cada paciente.

Fascinado com a possibilidade de uma leitura visual desses “loucos”, realizei mais de 200 desenhos instantâneos, a seleção de 21 peças originou a mostra Protocolos, em 1991 (uma das obras, em 1994, ganhou o Grand Prix/Desenho no Salão Latino-Americano de Artes Plásticas e Visuais de Santa Maria).

A seguir, o escritor Júlio Zanotta cria textos sobre cada personagem, nascendo o livro LOUCO. Hoje, após 35 anos, releio este tema em outro formato – 21 desenhos de 170×100 cm cada, sobre algodão cru. Trata-se de uma espécie de “ressurreição” do tema Protocolos; daí, o título Sudários – Protocolos Revisitados.

SERVIÇO

Dia 1 de maio de 2025. Galeria Coletiva 9 – Guido Mondin, 307.
Porto Alegre. Curadoria Vanessa Annunciata. Portas para a Arte.

Um painel sonoro gaúcho contemporâneo na CCMQ, neste sábado dia 26

Depois de grandes shows em Encantado e Osório, sábado, dia 26 de abril, é a vez de Porto Alegre receber o 1º Festival Sul Universal. O evento reflete toda a diversidade musical produzida no Rio Grande do Sul, com influências das sonoridades brasileira e latino-americana.
As apresentações na capital gaúcha acontecem a partir das 18h30, na Travessa dos Cataventos, na Casa de Cultura Mario Quintana, com entrada franca. Dunia Elias, Quinteto Canjerana e Rapajador compõem um painel sonoro gaúcho contemporâneo: choro, MPB, Música Gaúcha Contemporânea, rap e pajada, num diálogo harmônico entre a raiz regional, a brasilidade e o modernismo musical.
E, no mês de maio, o Festival vai levar Lucio Yanel e Thiago Colombo, Instrumental Picumã e Shana Müller a Lajeado (11) e Carlos Badia e Grupo e Paulinho Cardoso Quarteto a Pelotas (17). Confira a programação completa no site https://suluniversal.com.br e nas redes (@suluniversal no instagram e facebook).
Selecionado no Edital SEDAC nº 32/2024 PNAB RS – MÚSICA, o 1º Festival Sul Universal tem financiamento da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), programa do Ministério da Cultura do Governo Federal. Com planejamento cultural da Gaita Produtora Cultural e Experimentais Cria Cultura, a iniciativa tem apoio do Movimento Sul Universal, IEM – Instituto Estadual da Música e CUBO PLAY.

O evento integra as primeiras ações do Movimento Sul Universal, dentre as quais se destacam o Podcast Sul Universal – cuja a primeira temporada está disponível nos canais no YouTube do MSU (https://www.youtube.com/@suluniversal)  e da CuboPlay (https://www.youtube.com/@CuboPlay) e a futura Escola Sul Universal.

Atrações:

Dunia Elias é conhecida pelo público gaúcho como uma artista original, que se expressa como pianista, compositora e atriz-pianista, tendo sido várias vezes premiada em festivais, no Rio Grande do Sul e fora dele. Sua música retrata a identidade sonora do sul do Brasil, no pedaço de mundo contido entre Brasil, Argentina e Uruguai – a vasta região do Pampa, onde as fronteiras geográficas se confundem e se diluem. Música com tempero jazzístico.

Suas composições refletem essas influências que permeiam seu universo sonoro: “Choro Pampeano” (Prêmio Plauto Cruz no Festival de Choro de Porto Alegre 2005), “Antonio Abdallah” (milonga e dança árabe), “Candombe no Bomfim” (2º lugar no 13º Festival de Música de Porto Alegre), “O Choro do Bugio” (Melhor Música Instrumental no XI Musicanto).

Neste show, dois dos instrumentistas mais versáteis do RS a acompanham, formando uma parceria de longa data: Artur Elias na flauta e Giovani Berti na percussão.

Quinteto Canjerana_foto Cláudio Zagonel Neto/Divulgação

Quinteto Canjerana

Criado em 2012, o Quinteto Canjerana apresenta temas autorais que propõem uma sonoridade gaúcha contemporânea. São composições que trazem o universal para a música gaúcha.

Com dois álbuns lançados, o grupo busca inserir elementos da música do mundo em suas composições, o que resulta em uma sonoridade ímpar e um diálogo harmônico entre a raiz regional e modernismo musical.

O Quinteto é formado por Alex Zanotelli no contrabaixo, Fernando Graciola no violão, Maurício Horn no acordeon, Maurício Malaggi na bateria e percussão e Zoca Jungs na guitarra, violão e viola caipira.

O trio Rapajador crédito divulgação/

RAPajador

Resultado de uma mistura entre o rap e a pajada (Payador em castelhano, quer dizer repentista ou poeta do improviso), RAPajador nasce com o objetivo de representar a tradição do Sul por meio de sua essência musical e da rima.

O Rapajador vem da união entre duas manifestações artísticas presentes na cultura brasileira, mas com “sotaques” diferenciados, vez que, tanto o rap quanto a Pajada (Payada), tem como principal fundamento o verso – tanto escrito quanto improvisado. O projeto surge em 2018 com a parceria do rapper Chiquinho Divilas, do acordeonista Rafa De Boni e do DJ Hood.

Nomes como Jayme Caetano Braun e Mano Brown inspiram letras e arranjos que contam com a participação do DJ Hood, mixando temas e batidas típicas da região Sul com a batida do rap.