GERALDO HASSE
Os dois balanços financeiros do Cais Mauá do Brasil S. A. publicados no Correio do Povo de quinta-feira (22/3), contendo cifras inéditas sobre os exercícios fiscais de 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017, refletem os problemas administrativos em que mergulhou a empresa escolhida em 2010 pelo governo do RS para “revitalizar” os espaços ociosos do mais antigo e vistoso terminal portuário da capital gaúcha.
Separada em dois balanços (2016 e 2017), a prestação de contas atrasada expôs ao público em geral o que os acionistas, parceiros e autoridades já sabiam: o consórcio Cais Mauá exauriu-se financeiramente na luta contra embargos, cobranças e questionamentos levantados por movimentos civis e órgãos técnicos.
A leitura desses documentos vertidos em letra miúda e linguagem técnica é de difícil compreensão, mas no final das contas são declarados prejuízos acumulados de R$ 51 milhões nos sete anos (2011/2017) de pendências encerradas com o licenciamento ambiental concedido pela Prefeitura de Porto Alegre no apagar das luzes de 2017. Além do contador Marice Fronchetti, assinam os balanços a presidente Julia Vassalo Maia da Costa e o diretor de operações Sergio José de Lima.
À falta de maiores esclarecimentos, resulta útil a leitura do relatório da auditoria contábil Deloitte Brasil sobre as demonstrações financeiras do Cais Mauá. Lembrando que a companhia está em fase pré-operacional (ou, seja, não tem receitas, só carrega custos), o contador Ricardo Schenk Duque baseia-se em dois itens relevantes do balanço de 2017 – o passivo a descoberto de R$ 8,69 milhões e o capital circulante líquido negativo de R$ 16,5 milhões – para concluir: “A continuidade operacional da Companhia está condicionada ao suporte financeiro do seu controlador e o sucesso na comercialização dos projetos”.
O documento da Deloitte leva uma data bastante recente (5 de fevereiro de 2018), mas não faz qualquer referência à eventual mudança no controle acionário do consórcio Cais Mauá do Brasil S. A. ou à mais recente novidade – a revitalizadora entrada em cena dos novos gestores do empreendimento.
Agenda positiva
Ficou faltando esclarecer, portanto, como se configurou a negociação que resultou na transferência da gestão do projeto para o administrador de fundos José Carlos Mansur e o executivo Vicente Criscio, oficialmente apresentados em cerimônia pública no dia 12 de março passado. Há indícios de que houve um acordo operacional entre as partes responsáveis pelo projeto mas, no evento realizado sob um toldo branco armado no próprio cais, Mansur e Criscio não disseram palavra sobre o passivo do empreendimento – apenas se referiram de modo extremamente positivo ao início das obras, efetivamente colocadas em marcha nos dias seguintes.
Os principais protagonistas da cerimônia foram o prefeito de Porto Alegre, que criticou duramente os adversários políticos que “travam a máquina pública”, e o governador José Ivo Sartori, que ensaiou ali, diante de uma plateia seleta, às margens plácidas do Guaíba, os primeiros passos de sua campanha à reeleição.