Naira Hofmeister
Foram necessários apenas quatro minutos da sessão dessa terça-feira, 8, para que o Conselho do Plano Diretor de Porto Alegre aprovasse o EVU do Parque do Pontal (antigo Pontal do Estaleiro), um dos mais polêmicos projetos da construção civil na Capital.
“Sanadas as minhas dúvidas, depois da apresentação dos empreendedores e da leitura do processo, avalio que o EVU tem condições de ser aprovado”, sentenciou o conselheiro André Seixas, da Região 8 de Planejamento (RP8), relator da matéria.
A maioria dos colegas de Seixas acompanhou seu voto: foram apenas uma abstenção e um voto contrário, da conselheira Lívia Piccinini, urbanista da Ufrgs e representante da entidade no colegiado. “É a mesma coisa que o Cais, esse espaço deveria ser um parque público. É um erro abrir uma via para automóveis nas margens do Guaíba. Além disso, aquela conexão viária entre a Diário de Notícias, Padre Cacique e Chuí deveria ser solucionada pelo empreendedor”, lamentou.
O conselheiro Paulo Jorge, da RP5, que havia anunciado na semana passada que pediria vistas ao processo, desistiu da iniciativa. “Meus delegados estão de acordo com o processo, então eu só posso abrir mão das vistas e aprovar o parecer”, explicou aos colegas.
A RP5 abrange os bairros Glória, Cruzeiro e Cristal, vizinhos ao empreendimento. Desde que o processo do Pontal chegou ao Conselho do Plano Diretor, foram organizadas duas reuniões públicas onde os empreendedores se apresentaram à comunidade e escutaram as demandas locais. “O projeto é muito grande, um pouco assusta os bairros, vai ter um impacto grande, mas os presentes foram favoráveis”, esclareceu.
O Pontal do Estaleiro já está na sua 14ª versão, segundo a arquiteta Clarice Debiagi. No formato recentemente apresentado, terá uma torre com hotel, escritórios e um complexo médico, shopping center e uma praça pública.
Conselheiro quer mudar voto favorável ao Cais
Ao JÁ, Paulo Jorge admitiu que se pudesse votar considerando exclusivamente seu ponto de vista, teria rejeitado o projeto. “É errado colocar aqueles edifícios ali. Nem tem tanta gente para usar esses e os do Barrashopping”, justificou.
Jorge lastima o fato de que diversos recentes projetos tenham sido aprovados para a Orla do Guaíba sem considerar a ampliação do espaço público. Ele menciona as construções que serão feitas no terreno do Internacional e o próprio Cais Mauá, que foi votado na semana passada: “Aquilo ali devia ser um espaço para a comunidade, mas não vamos mais ter a visão do rio”, critica.
Questionado sobre as razões de ter votado favoravelmente ao projeto, apesar de discordar do conceito, Paulo Jorge se surpreendeu: “Eu votei contra”, afirmou.
Na folha de registro dos votos, entretanto, seu nome aparece como favorável à aprovação do EVU do Cais Mauá. Os únicos conselheiros que se manifestaram contrariamente foram Lívia Piccinini e Daniel Nichele, da RP1. Darci Campani, representante da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária Ambiental (ABES), se absteve na votação.
“Se é assim, então vou pedir para rever o voto e corrigir”, assegurou Paulo Jorge.
Curiosamente, outro conselheiro pediu revisão de voto emitido em um projeto aprovado na semana passada: foi Diaran Camargo, da RP7, que havia se manifestado favoravelmente a uma proposta de alteração de gravame de uma área verde no bairro Jardim do Salso.
“Mas eu sou contra, a comunidade está indignada! É um absurdo que queiram tirar uma praça de uma comunidade para fazer um abrigo de ônibus! A empresa que compre um terreno para fazer o terminal”, protestou.
O conselheiro admitiu que foi falta de atenção sua que o levou a aprovar a proposta. Segundo outros conselheiros, o terminal de ônibus já está no local, mas de forma irregular.
Cais Mauá: pressão não terminou com aprovação
No dia em que o prefeito José Fortunati homologou o EVU do Cais Mauá, aprovado na semana passada pelo Conselho do Plano Diretor, apenas dois conselheiros mencionaram o projeto.
Rogério Dal Molin, representante do Sindimóveis, elogiou o trabalho da representante da Secretaria de Urbanismo, a arquiteta Patrícia Tschoepke, que assessorou seus colegas. “Ela foi fundamental para construirmos um consenso sobre o projeto, tinha muitas informações que clarearam nossa mente. Fizemos quatro reuniões e, sem ela, certamente precisaríamos fazer uma quinta para entender tudo o que queríamos”, agradeceu.
Já Antonio Gomes, da RP6, pediu a palavra para elogiar a decisão do grupo, mas também para desabafar: “A pressão não parou depois da votação. Recebi muitas ameaças como aquelas feitas pelo IAB-RS, pelo Caio Lustosa, da Agapan, e pela conselheira da Ufrgs: que seríamos responsabilizados por qualquer acidente no local. Quem estudou a matéria sabe que isso é coisa do passado, já batida”, afirmou, em referência aos questionamentos da conselheira Lívia Piccinini – que reverberou discursos de entidades nas reuniões anteriores – de que por ser área inundável, o município deveria abster-se de aprovar projetos para a área, sob pena de responsabilização, inclusive do Conselho do Plano Diretor.