Nascido em Porto Alegre, em 1955 ingressou no Batalhão de Choque da Polícia do Exército. Sofreu duas prisões, em 1965 e 1970, sofrendo sevícias de todo tipo, ministradas por colegas. Condenado em 1967, a partir de 1970 cumpriu diversas penas, quando escreveu poemas, crônicas e desenhou cartuns satíricos colados nas paredes dos xilindrós por onde passou. Conhecido por seu humor, publicou uma dezena de livros, onde se destacam “O riso dos torturados” e “Mulheres de Atenas”. Como meio de vida, Jorge Fischer “Fishão” Nunes ambulou por diversas cidades, notabilizando-se como cartunista erótico.
O Dia da Independência
Ah, falam tanto no Dia da Independência
Marcham os soldados, batem continência:
“Um viva ao general! Um viva ao Coronel! “
Os ínclitos tribunos assomam ao palanque
e leêm “de improviso” discursos no papel.
Há tanques pelas ruas
e os velhos generais
costumam esquecer
o crônico artritismo:
brandem espadas nuas
em gestos de heroísmo
e juram lealdade a deus, à pátria e aos pais.
O louro e sorridente embaixador ianque
confraterniza com a “nação amiga”.
Mas, entre a multidão, resmunga um operário:
“Que gringo de uma figa,
que gringo salafrário!”.
Além, de pé, entre o povo, palpita uma comadre.
Não vai embora: aguarda a benção do “sêo” padre.
E quando, enfim, assoma, redondo como um zero
o quengo tonsurado – o símbolo do clero –
as santas mãos cruzadas sobre a proeminência
do ventre romboidal – um poema de indecência –
a boca a mastigar a frase decorada
deitando falação –mas sem que diga nada –
na fria objurgatória do seu latim de festa,
é o triunfo!, é a apoteose!, é a benção clerical
que, mais que tudo, atesta
que Cristo está de bem com nosso general.
Depois, a tal comadre, com ar bem satisfeito,
retira-se: já viu o padre e até o prefeito
e o louro e sorridente embaixador ianque.
À tarde, quando for lavar roupa no tanque,
há de esquecer a dor das crônicas varizes,
sentir-se-á a mais feliz de todas as felizes
e dirá consigo mesma, redonda de alegria:
– “Ah, tudo foi tão lindo! Isto é que é democracia!”
O Sete de Setembro, de fato, é bem festivo:
tem muito carnaval, tem muita alegoria.
Mas…Dia da Independência, meus camaradas?
Quando é que vamos marcar este dia?