Corredor ferroviário vai reduzir em 10 mil quilômetros a rota para a Asia

A notícia foi abafada pelo tarifaço de Donald Trump que taxou em 50% as exportações do Brasil para os Estados Unidos.

Mas o fato é, certamente, um dos mais importantes para as relações econômicas entre Brasil e China.

Trata-se do memorando assinado em Brasilia no dia 9 de julho (dois dias antes da retaliação de Trump!) para iniciar o projeto da chamada “ferrovia transoceânica” – um corredor ferroviário  de 4,5 km, para ligar o Pacífico ao Atlântico, a partir do Peru e, atravessando o Brasil, até o porto de Ilhéus na Bahia.

O projeto dessa nova rota bioceânica é antigo e só agora, com esse memorando, começa a sair do terreno das intenções.

Ao encurtar o caminho para os mercados asiáticos,  o corredor ferroviário vai reposicionar o Brasil no comércio internacional.

O memorando para iniciar o projeto foi assinado por duas estatais – a Infra S. A., ligada ao ministério dos Transportes do Brasil e a China Railway Economic and Planning Research Institute, braço estratégico do China State Railway Group, maior empresa ferroviária do mundo.

A proposta é elaborar um estudo de viabilidade da integração das ferrovias Oeste-Leste (Fiol), Centro-Oeste (Fico) e Norte-Sul (FNS) ao recém-inaugurado Porto de Chancay, no Peru.

O traçado da ferrovia prevê conexão a partir de Lucas do Rio Verde (MT), passando por Rondônia e Acre até alcaaa fronteira com o Peru.

Segundo a ministra do Planejamento, Simone Tebet, a expectativa brasileira era “concluir os estudos de viabilidade em até deanos”, maa proposta chinesa reduz esse prazo para cerca de dois anos, o que acelera significativamente o planejamento da nova infraestrutura.

“Serão de 18 a 20 meses dedicados à elaboração do projeto de viabilidade e, a partir daí, caberá ao próximo governo decidir sua implementação”.

A ministra esclareceu que se trata de um memorando de intenção com custo zero para o Brasil, aproveitando a experiência chinesa em infraestrutura.

Trata-se de uma alternativa estratégica ao canal do Panamá, reduzindo em até 10 mil quilômetros e três semanas o tempo de transporte entre o Brasil e a Ásia, especialmente para grãos, carnes, manufaturados e insumos industriais.

A China, disse Tebet, participa por ter interesse próprio em logística eficiente para suas importações. “Nós vamos ganhar esse projeto e nós não vamos ganhar porque a China é boazinha. Nós vamos ganhar porque a China tem interesse de comprar mais barato, de comprar mais rápido. Ela precisa alimentar o seu povo. A Ásia precisa alimentar seu povo. Então, se o Brasil conseguir fazer ferrovias, que é o transporte mais seguro, mais rápido, mais econômico, para ela interessa”, afirmou a ministra.

O corredor ferroviário tem uma parte em execução no Brasil, por meio da Fiol, que parte de Ilhéus, na Bahia, e vai até Mara Rosa, em Goiás, e da Fico, que parte de Mara Rosa e se estende até Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso.

A cidade goiana será o entroncamento das duas ferrovias com a FNS, que vai de Açailândia, no Maranhão, a Estrela d’Oeste, em São Paulo.

Em Lucas do Rio Verde, ponto final da Fico, começará a Ferrovia Bioceânica, que passará pela fronteira do Mato Grosso com a Bolívia, todo o estado de Rondônia e o sul do Acre, na fronteira com o Peru. De lá, a ferrovia irá até o porto de Chancay, construído pelos chineses e inaugurado há 3 meses.

A Ferrovia Bioceânica fará parte das Rotas de Integração Sul-Americana, projeto conduzido pelo Ministério do Planejamento e Orçamento. Lançado em 2023, o projeto pretende dar prioridade para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para conectar modais rodoviários, fluviais e ferroviários em áreas de fronteira com países vizinhos.

Por meio do memorando assinado, a estatal chinesa produzirá estudos aprofundados sobre a malha ferroviária brasileira, com base em dois pilares: o caráter multimodal do sistema de transportes, com unificação entre rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos e as obras e projetos já existentes no país.

Hoje, todo o território da futura Ferrovia Bioceânica tem rodovias federais brasileiras e peruanas, com integração plena, por meio das estradas BR-364 e BR-317, no Brasil, e Irsa Sur, no Peru, chegando até Chancay, distante apenas 70 quilômetros da capital peruana, Lima.

No caso específico da ferrovia bioceânica, o novo desenho foi formulado em parceria do Ministério do Planejamento com a Casa Civil e o Ministério dos Transportes. O projeto também foi amplamente debatido com autoridades do governo do Peru e também do Congresso da República peruana.

O projeto Rotas de Integração é um dos quatro eixos estratégicos firmados entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping, na assinatura do acordo Brasil-China, em novembro de 2024. Além do Rotas, o pacto reúne o Novo PAC, o Nova Indústria Brasil e o Plano de Transformação Ecológica.

Em abril deste ano, como parte do acordo entre Brasil e China, uma comitiva da China Railway Economic and Planning Research Institute visitou o Brasil, tendo conversado com representantes da Casa Civil, do Ministério dos Transportes e do Ministério do Planejamento e Orçamento.

Em maio, durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim, o projeto Rotas foi novamente mencionado em declarações presidenciais.

A assinatura do acordo ocorreu ao final da Reunião de Líderes do Brics, no Rio de Janeiro.