Porto Alegre 2024: Mesmo na praça dos poderes, medo e insegurança

Dias difíceis de viver. Voltou a chover. Mesmo quem está nas áreas onde a enchente não chegou sente o bafio da insegurança geral diante do que está acontecendo – as águas que não baixam, as fragilidades da cidade, o centro abandonado da capital que vai se tornando refúgio de miseráveis.

Mesmo na parte mais alta do centro histórico, o espigão da rua Duque de Caxias, onde fica o palácio do Governo, a Igreja Matriz, o Tribunal de Justiça e a Assembleia Legislativa, sentes-se o clima tenso.

A praça dos poderes está ocupada por desvalidos.

Há uma semana falta luz, a internet é intermitente, a água já não sobe nos apartamentos. As pessoas saem às ruas em busca de energia para carregar os celulares. A Catedral está fechada, há uma corrente na porta. O palácio Piratini, inacessível, nem um guarda nas guaritas da frente.

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Na esquina, entre a Matriz e o Piratini, uma família armou cadeiras na calçada e prepara um lanche. Vieram visitar parentes, não conseguiram voltar para casa, não sabem nem se a casa de onde saíram está no lugar.

Na marquise do Tribunal de Justiça se amontoam moradores de rua e atingidos pela enchente que não sabem para onde ir. Estendem colchões, fazem fogo sob a marquise.

O prédio de dez andares onde funciona a Assembleia Legislativa está vazio, com cortinas de ferro fechando as entradas, mas o gerador de energia está funcionando. Um funcionário da segurança permitiu que os moradores das redondezas tivessem acesso às tomadas para carregar os celulares, no térreo.  Em poucos minutos a informação se espalhou e o espaço ficou lotado, tem fila de espera.

Em meio a um emaranhado de fios pelo chão, as pessoas aguardam a bateria carregar. Grupinhos vão se formando, a enchente é o assunto inevitável, cada um sabe uma história de perigo ou heroísmo. Alguns trazem cadeiras de praia, tomam chimarrão, crianças brincam… Um casal busca informações, souberam que a casa dos parentes em Guaíba foi arrasada, querem saber como podem encontrá-los… As pessoas se olham perplexas… Alguém dá o número da Defesa Civil. “Se é resgate lá eles sabem!” A mulher esconde o rosto para chorar. O homem tenta consolar. “Assim que carregar, a gente liga”.

Nos edifícios sem água e sem luz, os moradores da parte mais alta da cidade, onde estão os poderes do Estado, não escondem o medo.

Acorda, Rio Grande (3)

Viralizou a imagem do cavalo Caramelo, como  “símbolo da resiliência dos gaúchos ante a tragédia das enchentes que assolam o Rio Grande do Sul”.

Na imagem daquele cavalo magro que ficou quatro dias num telhado cercado pelas águas, pode-se ver também  a metáfora perfeita de um Rio Grande do Sul, ilhado no seu mundo mítico pastoril, acossado por desafios de todos os lados.

Como um Caramelo, indefeso, o Rio Grande do Sul não tem como se reconstruir sozinho. Não só a reconstrução material, que requer um esforço sobre-humano. Uma reconstrução de valores – histórica, cultural, científica – tem que ser empreendida.

O Rio Grande do Sul tem a segunda maior rede de rios navegáveis do país, depois do Amazonas. Mas o Rio Grande pastoril, filho do pampa, acredita que suas fronteiras foram conquistadas “a pata de cavalo”.

Caudilhos do pampa, os chefes da Revolução Farroupilha tomaram Porto Alegre, mas esqueceram a única ligação por mar, por onde o Império português fez entrar as forças para derrotá-los.

Pelo porto de Rio Grande entrou a frota de Greenfeld que iria encurralar Bento Gonçalves na Ilha do Fanfa.

O abandono da infraestrutura hidrográfica, o descaso com os regimes dos rios, o desmatamento das margens, a ocupação de áreas de inundação, são exemplos atuais desse erro histórico.

Pode-se dizer,  no terreno das analogias, que essa enchente sem precedentes é uma revolta das águas contra o homem que não reconhece as dádivas que a natureza lhe deu – não sabe aproveitá-las como riquezas e não cuida da sua preservação, não respeita suas margens, suas matas ciliares, os banhados e tudo mais.

Fernando Henrique Cardoso, que escolheu a escravidão no Rio Grande do Sul como tema de seu doutorado em sociologia, pesquisou nas principais obras da historiografia riograndense da época (1962)  e concluiu: elas construíam uma “uma autoimagem deformada do gaúcho”.

Pode ser ressentimento, pelo desprezo com que o jovem FHC, discípulo de Florestan Fernandes, foi tratado pelos doutos da província, que sustentavam a tese da “democracia racial” nas estâncias e a predominância da “cepa lusitana” na formação  do Estado.  Mas ele tem sua razão.  A mitificação do meio pastoril  como fonte cultural única na formação do Estado, não deixa de ser deformação numa sociedade diversificada como é a riograndense, onde convivem mais de 20 etnias e nacionalidades.  Reduzir a história do Rio Grande do Sul aos feitos da Revolução Farroupilha, por maiores que tenham sido, não é uma questão menor, quando se trata de identidade social.

Resulta, de tudo isso, que em pleno século 21, um Estado urbano e industrializado,  se vê simbolizado pelo cavalo Caramelo, salvo da enchente por uma equipe de veterinários e bombeiros de São Paulo.

Acorda, Rio Grande!

(Elmar Bones)

 

Porto Alegre, 2024: “Parece um pesadelo”

Parecia que tudo voltara ao normal, depois de uma semana de enchente. Energia, água, internet restabelecidas, a previsão era de que não haveria mais chuvas e as águas começariam a baixar.

Na rua, a luz era radiante, o sol pelas calçadas, as árvores recortando um céu azul, limpo.

Mas, como num filme de suspense, à medida que a câmera avança vão surgindo os sinais da anormalidade na tarde radiosa que prenunciava um “veranico de maio”.

Na avenida, poucos carros, andando devagar, uma aceleração cuidadosa, como para não fazer barulho. Os motoristas agarrados ao volante, tensos.

“A tensão é muito grande”, diz o comissário de plantão na décima delegacia, no bairro Bom Fim. Ele não sabe dizer se a situação é tranquila nos seis bairros ao redor, que são de jurisdição da décima. A delegacia ainda está sem internet, com pouca água e energia elétrica intermitente.

A enchente não atingiu diretamente o Bom Fim, embora a água tenha chegado à suas fronteiras, com a inundação da Cidade Baixa e Menino Deus. Mas os sinais da enchente são visíveis por todo o lado.

As poucas pessoas nas ruas carregam sacolas e andam apressadas, muitas trazem garrafas e garrafões com água. “Só vai voltar sexta-feira”, diz uma senhora que empurra uma bombona de 20 litros de água num carrinho de bebê.

Na frente da tradicional Lancheria do Parque, o dono explica a um grupo porque decidiu fechar há dois dias. “Tive que fechar não sei quando vamos voltar. Ficamos sem água, não tem como trabalhar”, explica Ivo Salton. Ele não esconde a preocupação e a ansiedade.

A energia intermitente e a falta da internet, obrigou também as agências bancárias na avenida Osvaldo Aranha a fechar.

As cortinas das lojas ao longo da avenida estão fechadas, as poucas casas de móveis ou de roupas que abriram estão vazias, os funcionários de braços cruzados.  Alguns cafés também testaram a normalidade que o dia de sol sugeriu, mas estão quase vazios. Nas marquises das lojas fechadas, amontoam-se moradores de rua.  Um homem chora encolhido na esquina. “Pelo amor de Deus, estou com fome”. As pessoas passam quase correndo, como se dissessem: já tenho problemas demais.

Água é a preocupação de todos. Há dois dias foram desligadas as bombas da estação que alimenta essa região da cidade. Não há previsão para voltar o serviço. “Ali na esquina chegou um caminhão”, diz uma vizinha para a outra, que sai correndo. Encontra já umas cinquenta pessoas na fila comprando os garrafões de 20 litros que o caminheiro estendeu na calçada. Vinte reais o galão, preço normal, em poucos minutos não tinha mais.

Os barulhentos helicópteros das equipes de resgate passam em voo baixo, as pessoas carregam os pesados garrafões para os edifícios, como se temessem um ataque aéreo.

Há um silêncio que é quebrado pelas sirenes das ambulâncias, dos bombeiros… um caminhão do Exército cheio de soldados.

O dono da banca de jornais diz que não sabe o que vai encontrar quando voltar para casa. “Quando saí de manhã, a água já estava a dez metros da minha porta”. Ele mora na avenida Venâncio Aires, que liga o Bom Fim ao Menino Deus.  De repente, nuvens carregadas encobrem o sol, o vento sopra levantando as folhas que se acumulavam nas sarjetas, as pessoas apertam o passo.

Com os primeiros pingos todos correm para se abrigar nas marquises e nas portas dos edifícios. Em poucos minutos a rua está vazia e uma sensação de pânico toma conta dos que se aglomeram nas paradas, à espera dos ônibus que não vêm. “Parece um pesadelo”, diz o comerciante, baixando a cortina da loja, encerrando o expediente no meio da tarde. “Eu não reclamo”, diz uma senhora que passa. “Com tudo o que ando vendo, o Bom Fim ainda é um oásis na cidade.”

 

Acorda, Rio Grande (2)

Claro, a fúria do Taquari seria destrutiva em qualquer circunstância, o nível do Guaíba a mais de cinco metros seria arrasador de qualquer jeito.

A questão é que a calamidade encontra o Rio Grande do Sul na contramão do que pede uma emergência desse porte.

O que pede a emergência  colossal?

Poder público com capacidade e meios de ação, serviços públicos eficientes e ágeis, informações, planejamento, prevenção… Não é o que se tem no Rio Grande do Sul.

No Rio Grande do Sul, há mais de 30 anos, com pequenos hiatos, se implanta um modelo de gestão pública voltado exclusivamente para o equilíbrio das contas do governo, sempre pelo lado do corte de despesas.

Resultado é que o Estado vendeu patrimônio, precarizou os serviços públicos (servidores estaduais ficaram sete anos sem reajuste salarial), perdeu a capacidade de planejar e prevenir e chega aos dias de hoje com uma dívida impagável, que deixa o poder público estadual manietado.

No Plano Plurianual (2024/2027) que o governador Eduardo Leite encaminhou à Assembleia está escrito: “Mesmo com os bons resultados fiscais alcançados em 2021 e 2022, o ano de 2023 e para o período 2024-2027, o Estado do Rio Grande do Sul terá ainda que lidar com os problemas estruturais das suas finanças (…)  sem deixar de ter um olhar atento para a sustentabilidade do pagamento da dívida estadual”.

“É o único caminho”, diziam e dizem os defensores deste modelo de Estado mínimo, serviços públicos exíguos, políticas sociais restritas e irrestrita  liberdade empresarial para que o mercado resolva o que o governo não consegue. É um mau caminho,  agora fica escancarado.

Quando as águas baixarem, o que vai ficar exposto, como os escombros das cidades destruídas, são as fragilidades desse modelo, a sua incapacidade de prevenir e enfrentar eventos desta dimensão. Pior: sua incapacidade para reconstruir em bases que não sejam um mero paliativo. Acorda, Rio Grande!

(Elmar Bones)

Dilúvio sobe três metros e mostra a falta de manutenção nas pontes e nas margens

Em julho de 2023, o prefeito Sebastião Melo apresentou  um projeto para despoluição e revitalização do Arroio Dilúvio, o histórico Riacho , que hoje é uma cloaca a céu aberto entre as duas pistas da Avenida Ipiranga, uma das principais da capital gaúcha.

Dez anos antes, um outro projeto com o mesmo objetivo  fora apresentado pelo então governador Tarso Genro.  Era mais abrangente, prevendo a revitalização de toda a Bacia do Arroio Dilúvio, que envolve uma área entre Porto Alegre e Viamão onde vivem hoje mais de 300 mil pessoas.

Era diferente, também,  porque envolvia as universidades e órgãos técnicos do governo do Estado e do Município. Com a mudança de governo, em 2013, o projeto foi posto de lado.

O prefeito Sebastião Melo, eleito em 202O,  retomou a ideia por outro caminho.  Selecionou através de edital um  consórcio privado  (Regeneração Urbana do Dilúvio) formado pelas empresas Profill, Consult e Pezco,  para elaborar os estudos, “destinados à implantação da Operação Urbana Consorciada na avenida Ipiranga, com o objetivo central de despoluir o Arroio Dilúvio, além de outros benefícios para a região”.

A prefeitura de Porto Alegre pagou R$ 4,49 milhões pelos estudos para definir a “operação consorciada” e chegou a apresentar vistosas imagens da nova paisagem ao longo do riacho.

O projeto previa que  os recursos para as obras de despoluição do Arroio Dilúvio viriam  do setor privado através de leilões de “solo criado”, “um certificado emitido quando empreendedores desejam construir prédios com maior altura na cidade”, segundo explicou a prefeitura.

O secretário do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, Germano Bremm, esclareceu: “O projeto tem como principais objetivos viabilizar novas construções nas proximidades da avenida Ipiranga e angariar recursos para a despoluição do Arroio Dilúvio. Além disso, serão realizados estudos sociais, demográficos e de impacto ambiental para garantir um desenvolvimento econômico e sustentável ao longo da região, suportando o crescimento populacional”.

“Este projeto ambicioso projeta a Porto Alegre do futuro com a transformação urbana necessária na Ipiranga. O conjunto de intervenções tem custo alto e seguiremos no caminho da parceria, que está no DNA da nossa gestão, para atrair investimentos e viabilizar a recuperação do Arroio Dilúvio”, enfatizou Melo na época.

O prazo era de um ano e meio para realização dos estudos no entorno do Arroio Dilúvio.

“Estudos preliminares apontam que, em 30 anos, seria possível arrecadar R$ 1 bilhão em solo criado. Enquanto isso, a prefeitura prevê orçamento para financiar, pelo menos, a primeira fase da operação”.

“Assim, iniciamos um círculo virtuoso, garantindo segurança jurídica para atrair mais investimentos para a região e, por consequência, mais recursos para despoluição do Dilúvio”, completou Bremm.

Sem que o projeto saísse do papel, as enchentes que atingem Porto Alegre em abril/maio de 2024,  encontraram o arroio Dilúvio em situação de abandono, As águas do subiram três metros e mostraramcom vários pontos de fragilidade, inclusive com um pedaço da ciclovia ao longo da Ipiranga que desmoronou nos primeiros dias da chuvarada.

A única iniciativa visível foi a adoção da ponte da Avenida Silva Só por uma empresa, que se limitou a pintar a balaustrada (originalmente de pedras, substituídas por concreto) e colocar placas promocionais.

Imagem do projeto que não saiu do papel: novos edifícios nas margens para financiar a revitalização

ACORDA, RIO GRANDE

Todo o esforço para  reconstruir o que a enchente arrasou será paliativo se não incluir  uma discussão ampla sobre o “modelo de desenvolvimento” que se implantou no Rio Grande do Sul nos últimos 30 anos.

Claro, é um fenômeno global, mas aqui temos  um recorte exemplar de um projeto econômico, hoje em crise no mundo inteiro.

O Rio Grande do Sul é um caso exemplar porque foi pioneiro no despertar da consciência ambiental.

Em Porto Alegre nasceu pela flama de José Lutzenberger a Agapan, em 1971, já alertando para as mudanças climáticas provocadas pela ação do homem.

O Estado foi o primeiro a ter um código de proteção ambiental.

A lógica dos negócios que se estabeleceu nas últimas décadas fez terra arrasada dessas conquistas. Historicamente, o desmatamento no Rio Grande do Sul é maior do que na Amazônia, nas devidas proporções.

O Estado que tinha dois terços do seu território coberto com florestas, hoje tem pouco mais de dois por cento de áreas preservadas.

O Rio Grande do Sul é um caso exemplar porque teve um parque fabril moderno e diversificado, que exportava para uma centena de países e era o terceiro polo industrial do país. Hoje tem uma indústria em crise, até de identidade. Duas commodities, soja e pasta de celulose, dominam a pauta de exportações do Estado.

O Rio Grande do Sul é um caso exemplar porque já foi chamado de “celeiro do Brasil”, pela diversidade da sua produção agrícola. Hoje vive a lógica da monocultura, na dependência da soja exportada em grão para alimentar porcos na China.

O Rio Grande do Sul é um caso exemplar porque já teve um serviço público que era modelo no país. Hoje o poder público opta pelas privatizações e terceirizações.

O Rio Grande do Sul é um caso exemplar porque um terço do seu território é pampa, bioma único, riquíssimo, que está sendo entregue às monoculturas, da soja e do eucalipto…

O Rio Grande do Sul é um caso exemplar pela diversidade social que abriga mais de 20 etnias, que vem sendo reduzida a uma única expressão, da cultura pastoril.

Por fim, o Rio Grande é um caso exemplar porque uma tragédia que comoveu o mundo aconteceu aqui. Ela  obriga à reflexão sobre o que nos trouxe até esse ponto.

Milton Santos, o geógrafo, dizia que a concretude do global se realiza no local. É o Rio Grande do Sul, caso exemplar para se perceber os estragos do neoliberalismo num estado periférico.

Acorda, Rio Grande!

(Elmar Bones, editor)

Pousada Garoa: as dimensões da tragédia

Dez pessoas mortas, quinze feridas, duas em estado grave.

Esse é o custo humano do incêndio na Pousada Garoa, que funcionava num prédio de três andares na  avenida Farrapos, no centro de Porto Alegre.

As verdadeiras dimensões da tragédia, cinco dias depois, ainda não podem ser avaliadas.

Desde a origem do fogo que irrompeu por volta da uma hora da manhã e devorou o prédio em poucos minutos, até as responsabilidades e implicações políticas e eleitorais do caso, são muitas as perguntas sem resposta.

O dono da pousada levantou a suspeita de “incêndio criminoso”. Declarou que uma câmera da pousada registra um homem entrando por volta de uma hora da madrugada, saindo minutos depois. A cena ainda não apareceu.

Todos os relatos de sobreviventes e de quem entrou no local apontam para um curto-circuito, pela precariedade das instalações elétricas, mas o prefeito Sebastião Melo e o Secretário Leo Voigt, em declarações, não descartaram a hipótese de um crime. “Não se sabe se a causa foi estrutural ou se foi provocado”, declarou o Secretário.

Independente da causa ou causas do fogo, os estragos do incêndio se propagam em várias direções.

Começa que a Pousada Garoa não era um pequeno negócio tocado por um casal de aposentados. O prédio que queimou fazia parte de uma rede de 23 pousadas que têm como principal cliente a Prefeitura de Porto Alegre.

Desde o início da atual gestão, tem contrato para abrigar pessoas atendidas nos programas sociais do município. Na renovação de dezembro de 2023, ficou estabelecido que a garoa vai receber R$ 2,7 milhões dos cofres públicos municipais. No dia da tragédia a rede abrigava às expensas da Prefeitura 320 pessoas em suas unidades.

Nesse nesse ponto, a tragédia atinge um dos pilares da atual gestão: a terceirização de serviços públicos e a desregulação de atividades econômicas.

Nesse terreno, do custo político, o incêndio da Pousada Garoa em Porto Alegre, onde morreram dez e ficaram feridas 15 pessoas “em situação de vulnerabilidade”, tem potencial de provocar estragos maiores do que os da Boate Kiss, em Santa Maria, em que morreram 442 pessoas, a maioria jovens da classe média e da elite local.  Vai depender dos próximos capítulos.

Fontes: Matinal, G1, Brasil de Fato, Correio do Povo, Sul21, GZH

Pousada da Farrapos, que incendiou matando dez pessoas, pode ser a “Boate Kiss” de Sebastião Melo

A negligência da fiscalização municipal já fica nítida nas primeiras informações sobre o incêndio de uma pousada na avenida Farrapos, em Porto Alegre, onde morreram pelo menos dez pessoas na madrugada desta sexta-feira.

O local não tinha sistema de prevenção de incêncio e nem álvará para funcionar como pousada.

A tragédia que choca a cidade pode significar para o prefeito Sebastião Melo  um abalo político parecido com o do incendio da Boate Kiss, em Santa Maria, onde morreram mais de 200 pessoas e cujo impacto abalou a carreira política do então prefeito da cidade, Cezar Schirmer, hoje secretário de Planejamento e Assuntos Estratégicos da administração Melo.

Há uma semana, Melo anunciou sua candidatura à reeleição.

 

Demolição do esqueletão aguarda nova avaliação técnica; implosão está descartada

A estrutura de 19 andares, inacabada há mais de 60 anos no coração do centro histórico de Porto Alegre, segue desafiando as previsões.

A demolição está autorizada, uma empresa de São Paulo (FBI Demolições) iniciou os trabalhos, mas foram paralisados por questões de segurança do trabalho e agora  dependem uma nova avaliação técnica.

A previsão para o início da obra era fevereiro, conforme estimativa do Prefeito Sebastião Melo e, do Secretário de Obras e Infraestrutura.

Ao todo serão oito etapas e o cálculo da empresa é que serão necessários pelo menos cinco meses de obra, incluindo a obtenção das licenças à logística e transporte dos escombros.

O tráfego da área será alterado, pois exigirá o escoamento do material no circuito das ruas Marechal Floriano e Voluntários da Pátria, utilizando caminhões pesados.

A implosão, que seria o modo mais rápido e está prevista no projeto, foi descartada porque o impacto pode atingir a estrutura de outros prédios, inclusive a galeria do Rosário.

Segundo os auditores da Superintendência Regional do Trabalho será necessária a instalação de um elevador de cremalheira para o transporte vertical de funcionários, ferramentas e materiais da demolição.

Os auditores também apontaram a necessidade de medidas de proteção coletiva nos locais internos em vista do risco de queda, a exemplo do poço do elevador do prédio inacabado.

Em vista do parecer da Superintendência Regional do Trabalho,  o secretário André Flores está adequando o projeto de demolição junto aos engenheiros da FBI Demolidora e ainda não há data marcada para inspecionar se as irregularidades da segurança de trabalho foram suprimidas.

A obra vai exigir o isolamento total da região, e esse fato vem gerando aflição para o comércio instalado nas imediações do edifício.

(Nei Rafael Ferreira Lopes Filho)

 

Tradicional “Banca do Clovão” foi removida para acelerar obras no Viaduto da Borges

Na noite de quarta-feira 17 de abril de 2024 foi realocada a “Banca do Clovão”, quiosque para venda de jornais e revistas que desde 1977 ocupava um espaço na calçada, ao pé do Viaduto da Borges, ponto de referência daquela região do centro histórico.

Foi deslocada 20 metros  para a esquina da avenida Borges de Medeiros com a rua Fernando Machado.

A mudança foi feita por uma equipe da Concrejato, a empresa responsável pela reforma do Viaduto, que acelerou as obras e precisava liberar o espaço onde estava a banca, junto à escadaria.

A operação durou 40 minutos. Um caminhão guindaste ergueu a estrutura de ferro e assentou no novo lugar bem na esquina, com muito mais visibilidade.  A mudança é temporária, enquanto durarem as obras, mas agradou: “Bem que eu podia ficar aqui, né?”, disse o proprietário da banca, Clóvis Antônio Fernandes da Silva, o conhecido Clovão, que acompanhou toda a operação. Ele tinha 27 anos quando conseguiu a concessão da banca de jornais num dos pontos mais cobiçados da cidade, na Borges, junto ao Viaduto Otávio Rocha. “Vi todas essas mudanças que transformaram o centro”, diz ele. Ali, viveu o auge das bancas de jornais e revistas impressas. “Vendia 50 Veja por semana”. Aos 77 anos, vive o ocaso desse modelo de negócios, cujo futuro é incerto: “Hoje não vendo cinco Veja por semana. Jornal, então, só pra cachorro.” Ele não desacredita de um revival dos impressos, pela saturação do digital, mesmo assim, diz ele, as bancas têm que se reinventar, como já está acontecendo. “Hoje o pessoal vive mais da venda de camiseta, boné, água mineral, acho que  vai ser por aí”.