Oito deputados, sete deles integrantes da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa, inclusive a presidente, Zilá Breitenbach, participaram da “visita técnica” ao local onde a Copelmi pretende instalar a mina Guaiba, para extrair carvão a céu aberto de uma jazida, a 70 quilômetros de Porto Alegre.
Na base de um projeto ambicioso, que projeta investimentos de 4 bilhões de dólares no Estado, a mina Guaiba está também no centro de uma grande polêmica, pelos riscos ambientais decorrentes da mineração.
A visita, no dia do meio ambiente, foi proposta pelo deputado Gabriel de Souza, do MDB..
Assessores técnicos, jornalistas e diretores da Copelmi completaram a lotação de 42 lugares do ônibus que saiu da frente da Assembléia, às nove horas de quarta-feira, 5 de junho.

O roteiro incluiu visita a uma mina em final de operação, no município de Butiá (foto) e ao aterro sanitário em Minas do Leão, onde o lixo de 140 cidades gaúchas, inclusive Porto Alegre, é depositado na cava de uma mina já esgotada.
Uma parte já consolidada do aterro, está acoplada a uma usina, que produz 8 MW de energia elétrica a partir do gás metano gerado pelo lixo em decomposição.
A deputada Zilá, ocupando interinamente também a presidência da Assembléia, falou da importância da ida dos deputados à região nessa etapa do projeto, que está em licenciamento ambiental e ainda passará por duas audiências públicas, uma delas na Assembléia.
“Isso nos deixará mais preparados para o debate”, explicou, lembrando que a comissão de meio ambiente há muito acompanha junto aos órgãos técnicos do Estado o processo de licenciamento do projeto.
“Estamos abrindo as portas, para que todos os detalhes do projeto sejam debatidos e esclarecidos”, disse o diretor da Copelmi, Roberto Faria aos convidados.
Da quarta geração de uma família que minera carvão há mais de 100 anos no Rio Grande do Sul, Roberto Faria é responsável pela condução política do projeto da mina Guaiba, para explorar uma jazida de 200 milhões de toneladas de carvão que a Copelmi tem entre os municípios de Charqueadas e El Dorado.
“O carvão desta reserva é o que tem maior viabilidade técnica e econômica para abastecer um polo carboquímico, que é o caminho para um uso mais nobre do nosso carvão”, disse ele.
O polo carboquímico, que teria que contar com tecnologia e financiamento estrangeiros, é a segunda etapa do projeto para o qual se estima um investimento de mais de 4 bilhões de dólares.
A carboquímica é considerada uma “rota limpa” para o uso do carvão. O mineral passa por uma “queima pobre”, em que se reduz o oxigênio, para liberar o chamado gás de síntese, usado para geração de energia ou desdobrado em outras matérias primas, como a uréia e o metanol, que o Rio Grande do Sul importa.
A Copelmi começou a desenvolver o projeto com a sul-coreana Posco, em 2014, quando visitou também plantas na China e na Alemanha, integrando uma comitiva do governador Tarso Genro.
Em 2018 firmou um protocolo com a Ais Products, norte-americana, fornecedora de gases industriais, que produz gás de síntese em cinco plantas, na China, nos Estados Unidos e no Japão, movimentando 15 bilhões de dólares por ano.
Na mineração, a Copelmi ostenta um desempenho de padrão internacional. Da sociedade que manteve com a inglesa Rio Tinto Company, absorveu um padrão mundial na recuperação de áreas degradadas com a mineração. A lavra é feita em tiras e à medida que avança, a área escavada vai sendo recomposta. “Estive na Alemanha, não devemos nada a eles”, disse Roberto Faria.
A mineração de carvão numa área tão próxima do rio Jacuí e do Parque do Delta, no entanto, levanta questionamentos.
O deputado Sebastião Mello, que acompanhou a visita, levantou a questão da proximidade da mina com o rio Jacui, que desemboca no Guaiba bem na altura de uma das estações de captação de água para a população de Porto Alegre. “Análises foram feitas pelo DMAE e concluiram que não há risco de comprometimento”, respondeu Faria.
Citou um exemplo da qualidade da água que sai do processo de mineraçao: em Butiá, num período de sêca a Corsan fez testes na água de um lago formado numa cava de mineração e aprovou para o consumo, desde que devidamente tratada.
Numa entrevista ao Jornal do Comércio nesta quarta feira o professor Rualdo Menegaz, coordenador do Atlas Ambiental de Porto Alegre, dramatizou a questão: disse que o Guaiba, único manancial de água de que os portoalegrenses dispõem, já estão no limite de cargas poluentes. Qualquer acréscimo pode ser fatal.
A empresa, no entanto, garante que nenhum efluente resultante do processo de mineração chegará ao rio, antes de tratamento que permitirá devolver ao rio a água limpa, sem qualquer contaminação.
Além do carvão, serão extraídos areia e cascalho da mina que alcança uma extensão de 4,3 mil hectares. O ponto mais próximo estaria a 535 metros do Delta do Jacuí, mas os órgãos licenciadores exigiram um recuo de 100 metros, o que reduziu a reserva a ser minerada de 210 milhões de toneladas para 160 milhões de toneladas.
Um dos pontos mais polêmicos do projeto é que na área a ser minerada há um assentamento simbólico para o MST, o Assentamento Apolônio de Carvalho, homenagem a um líder histórico das lutas populares. As negociações tem sido intermediadas pelo INCRA.
A Copelmi fez um levantamento e diz que as áreas em que está o assentamento sofrem alagamentos e o abastecimento de água é precário. A empresa se compromete em reassentá-lo em outra área com mais infraestrutura.
O Eia Rima, que está em análise há quase cinco anos tem seis mil páginas. Nele trabalharam 92 técnicos.
A comitiva de deputados e jornalistas visitou também a Fazenda Butiá, apresentada pela empresa como um caso exemplar de seus cuidados com as áreas mineradas.
A mina foi aberta em 1987 e se esgotou em 2010. A área já está quase toda recuperada O proprietário planta soja e cria gado de corte. “A produtividade está na média da região, 60 sacos de soja por hectare”, garante Alexandre Grigorieff, diretor de operações da Copelmi, há 35 anos na empresa. Os campos verdejantes que se descortinam da estrada tornam difícil imaginar que havia uma cratera negra ali.
Na recobertura do terreno minerado tenta-se na medida do possível reconstituir a topografia original. Ainda há qualquer coisa de artificial na paisagem recém reconstituida, mas a vegetação sem dúvida é exuberante.
Nessa mina foram 500 hectares reabilitados, restando pouco mais de um ano de operação, quando o último buraco estará esgotado. Lá embaixo, na enorme cava, um trânsito intenso de caminhões que descem e sobem carregados de carvão para o benficiamento (trituraçao) a sete quilômetros dali.