Enchente: jornal diz que disputa política atrasa obras e apoio a vítimas no RS

Eduardo Leite e seu vice Gabriel de Souza, pré-candidado à sucessão em 2026/Foto: Vitor Rosa/Secom

“Embates políticos prejudicam a recuperação do Rio Grande do Sul”. É o título do editorial do jornal O Globo desta quarta-feira, 30/05. Diz o texto:

“Um ano depois do desastre ambiental que atingiu 2 milhões em quase 500 municípios do Rio Grande do Sul, o enfrentamento entre o governador Eduardo Leite e o PT gaúcho tem prejudicado a recuperação do estado e o apoio às vítimas da tragédia. Várias obras de comportas, diques e proteção contra enchentes ainda não saíram do papel. Das casas prometidas aos desabrigados, mais da metade nem sequer foi contratada. Repasses estão parados na burocracia estatal, enquanto os mais vulneráveis sofrem as consequências dos embates políticos.

Ainda nos primeiros dias da tragédia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou como secretário para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul um adversário político de Eduardo Leite, o deputado petista Paulo Pimenta, então secretário de Comunicação da Presidência (Secom) e pré-candidato petista ao governo gaúcho. Leite passou a tratar de questões referentes ao apoio federal com um potencial adversário de seu grupo político na eleições do ano que vem. Em setembro, Pimenta foi substituído em Porto Alegre por outro petista, Maneco Hassen. Era grande o risco de que os planos eleitorais para 2026 prejudicassem o entendimento entre as burocracias de Porto Alegre e Brasília. É o que tem ocorrido.

O mais recente motivo de reclamações de Leite envolve a liberação de R$ 3 bilhões do fundo federal extraordinário de R$ 6,5 bilhões, criado para atender ao estado.

Petistas justificam o atraso alegando falta de projetos. Hassen afirma que foi preciso “cobranças mais incisivas e públicas” para que o governo estadual atendesse às exigências necessárias para a contratação das empresas. O assunto é tema de conflito entre PT e a base de Leite na Assembleia Legislativa. “Eduardo Leite não se mexeu para elaborar os projetos necessários”, diz nota de deputados petistas. O governador acusa a bancada do PT de usar a questão “de forma desonesta com interesses meramente eleitorais”. “É do conhecimento do governo federal que o estado está buscando a atualização dos projetos para ter acesso aos recursos do fundo”, afirma.

Enquanto transcorre o entrevero, há ainda 383 desabrigados, nove abrigos estão ativos e falta concluir obras importantes. Das dez comportas do sistema anticheias de Porto Alegre, sete não foram fechadas nem substituídas. Dos reforços necessários em quatro diques na cidade, apenas um será concluído em maio, e outro está com obras paralisadas pela Justiça. De 24,8 mil casas prometidas pelo programa Minha Casa, Minha Vida, apenas 10,6 mil foram entregues, contratadas ou estão em construção. E apenas na segunda-feira o governo gaúcho publicou edital para atualizar o projeto de engenharia do sistema de proteção contra cheias de Eldorado do Sul (Leite diz que a própria enchente criou a exigência de novos estudos para mitigar os impactos ambientais). Trechos de rodovias alagadas continuam bloqueados ou em péssimo estado. Há muito trabalho ainda. Sem dúvida o primeiro passo para executá-lo é superar as desavenças políticas e os interesses eleitorais”.