O "caso Queiroz" e os negócios imobiliários de Flávio Bolsonaro

O deputado e agora senador eleito Flávio Bolsonaro escolheu a Record e a Rede TV para dar suas explicações sobre as “movimentações atípicas” em sua conta bancária, reveladas pelo Jornal Nacional, da Globo.

As duas entrevistas, que Flávio Bolsonaro deu na noite de domingo,  ainda estavam nas manchetes às seis da manhã desta segunda feira quando o G1 lançou mais combustível na crise – que começou há um mês envolvendo um ex-motorista de Flávio e já atinge a imagem do presidente da República, Jair Bolsonaro.

O novo lance traz de volta à cena o ex-policial militar Fabrício Queiroz, ex-segurança e motorista de Flávio Bolsonaro na Assembléia do Rio e amigo íntimo da familia.

Segundo a nova denúncia, em reportagem do G1,  Queiroz recebeu irregularmente R$ 16,8 mil de auxílio-educação, entre 2007 e 2011, quando trabalhava para o deputado estadual agora senador eleito Flávio Bolsonaro.

O montante foi recebido por Queiroz como auxílio-educação da filha Nathália Melo de Queiroz. Ela, no entanto, não tinha direito ao benefício porque trabalhava — e trabalhava na Alerj, e indicada pelo pai.

Queiroz teve de ressarcir o valor, com parcelas que foram pagas até 2015, após um inquérito concluído em 2012 na Assembleia.

“Nathália também era empregada no gabinete de Flávio, depois passou ao setor de taquigrafia da Alerj e voltou ao gabinete do filho do atual presidente da República. Na época, ela estudava Educação Física na Universidade Castelo Branco no turno vespertino”, segundo a reportagem.

 O “caso Queiroz” veio à público em dezembro, embora a investigação tenha começado no início de 2018. 
O movimento financeiro em sua conta, muito acima de seus rendimentos, levou à suspeita de que ele funcionava como laranja, recolhendo parte do dinheiro dos funcionários do gabinete (vinte funcionários, segundo o próprio Flávio Bolsonaro) para o deputado.
A prática é bastante comum em vários Estados, conhecida como “rachadinha” e está sendo investigada pelo MP do Rio de Janeiro 

Até agora, Queiroz  não atendeu às intimações para depor, alegando problemas de saúde. Na única entrevista que deu até agora, ao SBT, Queiroz disse que é “um cara de negócios”.

“Eu sou um cara de negócios. Eu faço dinheiro. Eu faço, assim, eu compro, revendo, compro, revendo. Compro carro, revendo carro. Eu sempre fui assim. Sempre”.

O procurador-geral Eduardo Gussem  disse na semana passada que o Ministério Público não precisa ouvir os depoimentos do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz para apresentar uma denúncia no caso das movimentações financeiras suspeitas.

Gussen foi reconduzido ao cargo no dia 14 de janeiro. Ele disse que a investigação é baseada em “provas documentais consistentes” e os depoimentos seriam para apresentar versões das defesas dos acusados.

As investigações estão suspensas desde quinta-feira (17), quando Flávio Bolsonaro recorreu ao STF para pedir a suspensão das investigações, pedido aceito pelo ministro do STF Luiz Fux, no plantão. A decisão final será do ministro Marco Aurélio Melo no dia 1º de fevereiro.

No sábado, novos detalhes dos relatórios do Coaf vazados para a Globo, foram divulgados no JN agora revelando “movimentações atípicas” na conta de Flávio Bolsonaro.

O pagamento de um título de mais de R$ 1 milhão, sem credor identificado e uma série de depósitos de R$ 2 mil totalizando R$ 96 mil reais em apenas cinco dias, sem depositante identificado.

No mesmo dia a Folha de São Paulo revelou, com base em pesquisa nos cartórios, que  entre 2014 e 2017 Flávio Bolsonaro comprou R$ 4,2 milhões em imóveis, exatamente no período em que o Coaf identificou movimentações financeiras que chegaram a R$ 7 milhões, na conta de Queiroz.

 “Deixou de ser investigação para virar perseguição e atingir o presidente da República”, queixou-se o deputado, agora senador eleito pelo Rio de Janeiro. 
“Não tenho nada para esconder de ninguém”, afirmou, enquanto mostrava um papel que afirmou ser o contrato de um apartamento com a Caixa Econômica Federal. “Eu vou pedir reserva porque quero apresentar isso para as autoridades, antes de apresentar à imprensa”.
Sua explicação, porém, é vaga:
“É um apartamento que eu comprei na planta. Quando você compra um apartamento na planta, o financiamento fica com a construtora. Quando sai o Habite-se, que é quando a Caixa pode fazer o financiamento… A Caixa paga a dívida com a construtora e deixo de ser devedor da construtora e passo a ser devedor da Caixa. Quem fez essa operação foi a Caixa Econômica, não foi dinheiro meu”, afirmou ele à Record. “Aparece porque o CPF é meu, mas não é o meu dinheiro”, diz.
Sobre a série de 48 depósitos, ele diz que a origem do dinheiro vem de lucros da empresa dele e de parte de um imóvel que vendeu no valor 2,4 milhões de reais. “Se colocava de 2.000 em 2.000 reais porque era o limite do caixa eletrônico. Se fosse dinheiro ilícito eu depositaria na minha conta?”, questionou na Rede TV.
O filho do presidente afirmou ainda que em seu gabinete não existia a prática de funcionários contratados passarem parte do que ganham para o responsável pela contratação. “No meu gabinete não, todo mundo sabe que comigo não tem sacanagem”
Ele diz que não recorreu ao foro privilegiado para paralisar as investigações. Apenas pediu para que o STF determinasse qual a instância correta para a investigação prosseguir. “Não tenho nada a esconder, só quero isenção do tratamento comigo”, afirmou.
As entrevistas de Flávio aconteceram após um encontro dele com Jair Bolsonaro. “Meu pai me dá a estratégia. Ele diz: a estratégia é a verdade”, disse à Rede TV.
Na manhã desta segunda-feira, o general Hamilton Mourão, vice-presidente eleito, assumiu a presidência por conta da viagem de Bolsonaro ao Forum Econômico Mundial, em Davos.
Ele tratou de afastar a crise do governo.

“É preciso dizer que o caso Flávio Bolsonaro não tem nada a ver com o governo”, declarou Mourão.

 

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