O mundo saudou a vitória da democracia brasileira, mas relação com EUA é um desafio

A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e os sete envolvidos diretos na trama golpista que tentou mantê-lo no poder, em 2023, mereceu manchetes no mundo inteiro. Não é para menos.

Pela primeira vez na história do país, estão sendo punidos  militares e civis por tentarem impedir à força a posse de um governo eleito.

“A condenação é um marco para a maior nação da América Latina. Em pelo menos 15 golpes e tentativas de golpe com ligações militares desde que o Brasil derrubou a monarquia em 1889, quinta-feira marcou a primeira vez que os líderes de uma dessas conspirações foram condenados”, destacou o New York Times, o mais influente jornal americano.

Mas o destaque não é só por isso. É também, e principalmente, pelo contexto internacional  em que a condenação inédita ocorre.

A decisão do STF,  ao contrariar explicitamente o presidente norteamericano, (que considera Bolsonaro perseguido político e ameaça com retaliações), amplia a um grau absolutamente inédito o desalinhamento do Brasil com os Estados Unidos.

Desde que, em defesa de Bolsonaro, Donald Trump aumentou em 50% as tarifas dos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, as divergências só tem aumentado. E quanto mais Trump pressiona e ameaça, mais o governo brasileiro se inclina para seus parceiros do Brics e para o multilateralismo, nas relações comerciais, e o não intervencionismo, nas relações políticas.  As últimas manifestações do presidente Lula são explícitas nesse sentido.

A posição que o Brasil alcançou no tabuleiro das disputas internacionais, também é inédita em seus 525 anos de história. Hoje o pais é um protagonista, decisivo sob certos aspectos, nesse movimento do Sul global por uma nova ordem econômica. Por suas intensas relações com a China, líder do bloco, o Brasil adquiriu uma posição estratégica para os negócios chineses em toda a América Latina. Posição que o coloca na contramão dos interesses norte-americanos, especialmente sob a presidência de Donald Trump, que quer revigorar a hegemonia dos EUA no continente. Sobreviver a esse conflito é agora o grande desafio da democracia brasileira.(E.B.)