Quarenta e três pessoas compareceram ao Salão Mourisco, da Biblioteca Pública do Estado na tarde chuvosa de sábado, 13 de abril, para uma homenagem ao tenente coronel Alfeu Alcântara Monteiro.
“Ele é um mártir, um nacionalista, legalista, perdeu a vida por defender a democracia”, disse a sobrinha neta do militar, Isabela Monteiro.

Alfeu Monteiro, oficial de carreira exemplar na Força Aérea Brasileira, foi fuzilado na sala do comando da Base Aérea de Canoas no início da noite de 4 de abril de 1964. Tinha completado 42 anos três dias antes.
Sua sorte estava selada desde agosto de 1961, quando se colocou ao lado dos sargentos que esvaziaram os pneus dos aviões para não cumprir a ordem de bombardear o Palácio Piratini, em Porto Alegre, no episódio da Legalidade.
“Ali o Alfeu ficou marcado na paleta”, disse o o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke, no evento de sábado.
Em 1964, quando nova tentativa de golpe foi deflagrada, Monteiro assumiu o comando e colocou a Base Aérea de prontidão. Havia rumores de que João Goulart seria sequestrado quando desembarcasse em Porto Alegre, onde chegou no dia 2 de abril, para avaliar as chances de resistência ao golpe. Legalista, Monteiro tomou providências para defender o presidente.
Na tarde de 4 de abril, no momento em que o presidente João Goulart deixava o país rumo ao exílio no Uruguai, desembarcou na Base Aérea de Canoas o brigadeiro Nelson Lavanère-Wanderley e uma escolta de oficiais chefiados pelo coronel aviador Roberto Hipólito da Costa, que vinha “para segurar o Alfeu na bala”, conforme depoimento de uma testemunha.
Lavanère assumiu o comando e convocou o tenente coronel Monteiro para uma reunião.
O que aconteceu na sala do comandante da Base Aérea foi motivo de controvérsia durante muito tempo.
Um inquérito sigiloso feito no âmbito da Justiça Militar, concluiu que o coronel Roberto Costa atirou em legítima defesa, ante a tentativa de Alfeu de sacar o revólver ao receber voz de prisão.
Uma ação do Movimento de Justiça e Direitos Humanos em 2014, levou o Ministério Público Federal a reabrir o inquérito e reconstituir os fatos.
O resultado, depois de três anos de investigações, derrubou a versão da legítima defesa, concluindo que Monteiro foi fuzilado, inclusive recebendo quatro tiros pelas costas.
Ficou, oficialmente, reconhecido que ele foi o primeiro militar morto pela ditadura de 1964.
O evento de sábado, promovido pelo jornalista Landro Oviedo com apoio da Biblioteca Pública, pretende ser a primeira de uma série de iniciativas para resgatar a memória do tenente coronel Alfeu Monteiro, hoje praticamente esquecido.
Um busto dele, erguido na praça central de Canoas, foi roubado há vários anos e não mais recolocado.
A Câmara Municipal de Porto Alegre, por iniciativa dos então vereadores Raul Carrion e Manuela D’Ávila, chegou a discutir a colocação de uma estátua dele numa praça próxima ao aeroporto, mas o projeto não saiu do papel.
O movimento iniciado sábado para resgatar a memória de Alfeu Monteiro Alcântara tem o apoio de diversas entidades de defesa dos direitos humanos e da democracia, além de familiares e lideranças de Itaqui, onde o militar nasceu em 31 de março de 1922.
A vereadora Abigail Pereira (PCdoB), presente ao evento, anunciou que vai reapresentar na Câmara de Municipal o projeto de uma estátua para Alfeu Monteiro num logradouro da capital.