É unânime a opinião de cronistas e comentaristas políticos em Brasília: está fora do governo o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, um dos homens mais próximos do presidente Jair Bolsonaro.
Muitos preveem até que sua exoneração estará em edição do Diário Oficial desta segunda-feira, 18.
O ministro, em todo caso, disse que só se considerará exonerado quando “ler o papel assinado”.
A queda do Gustavao Bebianno começou no início de janeiro quando uma reportagem da “Folha de S. Paulo” apontou quatro candidatas do PSL de Minas que teriam sido usadas como “laranjas”, com o consentimento do então presidente do partido no Estado, o atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.
As quatro candidatas, apurou o jornal, receberam R$ 279 mil durante a campanha e, mesmo assim, tiveram pouco mais de dois mil votos.
Na pista desse desvio, a Folha descobriu em Pernambuco, uma candidata que fez apenas dois votos, dela e do marido, embora tenha recebido R$ 400 mil do fundo partidário.
O repasse do dinheiro teria sido autorizado por Bebianno, à época presidente nacional do PSL, o partido nanico que na onda Bolsonaro saiu das últimas eleições com o presidente da República, 52 deputados federais e quatro senadores.
O fundo partidário é dinheiro público, o mau uso é crime eleitoral grave. A posição de Bebianno, no núcleo do governo, multiplicava a gravidade do caso.
Candidatos “laranja”, patrocinados pelo ministro da Secretária Geral, o homem funcionalmente mais perto do chefe de um governo eleito com a bandeira do combate à corrupção? Acendeu a luz vermelha.
Bebianno se declarou tranquilo, os fatos quando devidamente apurados iriam provar a lisura no uso do dinheiro da campanha.
Na quinta à noite, porém, a “candidata laranja” de Pernambuco apareceu no Jornal Nacional e não tinha um álibi convincente.
Apertado pelos repórteres sobre o impacto dentro do governo, Bebianno disse que havia falado três vezes com Bolsonaro sobre o assunto, dando a entender que não havia desgaste entre ele e o presidente.
Depois de 17 dias internado, para uma cirurgia que durou sete horas, Bolsonaro recebera alta naquela quinta-feira. Ia desembacar em Brasilia, no dia seguinte, e tinha aquela declaração do ministro jogando no seu colo as “laranjas” do PSL.
Imediatamente, Eduardo Bolsonaro, que acompanhava o pai no hospital, desmentiu o ministro, inclusive divulgando a gravação de uma ligação na qual o presidente diz que não pode conversar com o ministro por recomendação médica. Numa entrevista posterior, Bolsonaro confirmou o desmentido do filho.
Na fim tarde de sexta-feira, Bolsonaro se reuniu com Bebianno disposto a removê-lo do ministério. Ofereceu-lhe um cargo na Itaipu Binacional, onde um conselheiro pode ganhar R$ 45 mil. Bebianno recusou e a reunião se encerrou sem uma decisão.
“A tendência é a exoneração”, disse Bebianno no sábado de manhã. Mas queria ver o papel assinado.
Ao longo da crise seu estado de ânimo foi se alterando. Depois da reunião com o presidente, postou nas redes sociais um texto falando em lealdade, dando a entender que Bolsonaro fora desleal com ele.
Depois falou a “interlocutores” que vazaram para os repórteres declarações dramáticas. “Me enganei com Bolsonaro”, “Tenho que pedir desculpas por ter acreditado nele”. “É uma pessoa louca…”
Tudo isso alimentou a falta de novidades no fim de semana.
Na tarde de domingo, quando Brasília começa a pensar no dia seguinte, suas declarações já eram mais brandas e já não alimentavam as expectativas de que Gustavo Bebianno, o ex-professor de artes marciais, ao cair, vá promover algum estrondo que abale o governo.
“É hora de esfriar a cabeça”, disse ele aos repórteres que o interpelaram quando saía para almoçar.
O grave é que sai Bebianno, mas o problema dos candidatos “laranja” não se estanca (há pelo menos um ministro, o do Turismo, na berlinda) .
E a vitória do filho do presidente, com a exoneração de Bebianno, contrariando os auxiliares mais próximos, contribui para aumentar a confusão num governo que diz ter reformas urgentes para aprovar mas não consegue começar.
(Com informações da EBC, G1, Folha de S. Paulo)