Morte das abelhas: apicultores querem levar agrotóxicos à Justiça

Em evento inédito no CTG Cancela da Tradição, de Mata, mais de uma centena de apicultores do centro-oeste gaúcho prejudicados por venenos agrícolas autorizaram um grupo de ativistas ambientais e entidades técnicas a processar judicialmente usuários, comerciantes e fabricantes de agrotóxicos.
“Estamos aqui para dar o pontapé inicial numa briga que vai longe”, disse o veterano advogado Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, que está completando 40 anos de existência.
“É uma briga contra cachorros grandes”, completou, salientando que “a briga é justa” porque, “atualmente, o agrotóxico é antissocial, ele desorganiza a cadeia alimentar e atenta contra o direito elementar à vida”.
Durante cinco horas, os apicultores de Mata, Jaguari, Santiago e arredores receberam subsídios e instruções sobre o que precisam fazer para ressarcir-se de danos provocados por agrotóxicos.
Eles já haviam gravado depoimentos em vídeo sobre os prejuízos sofridos na última temporada primavera-verão, quando perderam centenas de colméias envenenadas por inseticidas aplicados a lavouras de soja.
Cada colmeia com mel é avaliada em pelo menos R$ 800. O problema não se resume às perdas materiais, mas aos riscos ambientais de longo prazo.
“Se não agirmos hoje, dentro de 50 anos teremos 50% menos insetos do que hoje”, disse José Renato Barcelos, professor de Direito que esteve em Mata representando a APISBio (Articulação para a Preservação da Integridade dos Seres e da Biodiversidade), a mais nova entidade ambiental, liderada por cientistas como Luis Fernando Wolff, agrônomo da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas.  Wolff é o autor de “Medidas Para Combater a Mortandade das Abelhas na Região Sul”, folheto editado em 2018 pela Embrapa.
Também foram registradas manifestações do ecólogo Antonio Liborio Philomena, professor aposentado da Furg de Rio Grande; Gustavo Diehl, veterinário do Programa Nacional de Sanidade Apícola do Ministério da Agricultura; Ana Lucia de Paula Ribeiro, agrônoma fitossanitarista em São Vicente do Sul; Althen Teixeira Filho, professor de veterinária na UFPel; Jeronimo Tybusch, professor de pós-graduação em Direito na UFSM; Pedro Kunkel, guardião de sementes crioulas do Movimento dos Pequenos Agricultores.
Dando caráter internacional ao encontro, estiveram presentes ainda o vereador uruguaio Julio Roberto Cabral Barreto, do departamento de San José; e um representante da União Internacional dos Trabalhadores na Alimentação (UITA).
O evento de Mata foi gravado pelo site no Face Book do Coletivo Catarse, que transmitiu on line diversos trechos das falas.

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