Alemanha amplia poder do executivo no combate da pandemia

A estratégia global de combate ao coronavírus está em cheque na Alemanha. Junto com ela, os próprios princípios do sólido sistema democrático parlamentarista do país, visto que a urgência do vírus impõe uma eficiência de autocracia. Enquanto aumenta o barulho da oposição por conta do segundo lockdown, o governo move as peças no tabuleiro político, visando o cumprimento das suas determinações.

Depois de Leipzig, foi a vez da capital Berlim receber nesta quarta-feira (18/11), dezenas de milhares de pessoas protestando contra as medidas do governo Merkel para a crise do Covid-19. Elas tentavam invadir o parlamento durante a sessão, conforme anunciado em redes sociais, e inviabilizar a votação da nova proposta da lei de proteção a infecções (Infektionsschutzgesetz).

Direitos fundamentais

Polícia usou canhões de água para molhar os demonstrantes na fria tarde de outono do dia 18/11 em Berlin. (dpa)

A polícia isolou o entorno do Bundestag, e um efetivo de 2.200 homens fez o serviço de conter e dispersar a multidão que se aglomerava nos arredores, se espalhando do Portão de Brandeburgo ao longo da avenida 17 de Junho. Gás de pimenta e três caminhões com canhões de água foram as ferramentas da tropa de choque na missão. 

Até o início da noite, ainda eram registrados pequenos incidentes, envolvendo manifestantes e policiais na região central. O distrito governamental da cidade continuava interditado para o tráfego e o público geral.  

Lá dentro, políticos da coalizão do governo e da oposição trocavam acusações e advertências. “Esse é o maior ataque aos direitos fundamentais dos cidadãos na história da república”, discursou Alexander Gauland, líder do Alternativa pela Alemanha (AfD), partido de extrema direita. “A proposta de lei do governo é um passe livre para arbitrariedades. Conceitos como “aprisionamento domiciliar” vão muito além de uma proposta para proteção da saúde pública e não devem fazer parte do texto da lei”, alertou o líder do partido Liberal (FDP), Christian Lindner. “Qualquer redução de direitos fundamentais requer o debate para aprovação ou rejeição no parlamento”, defendeu o deputado Jan Korte, do Die Linke, partido de esquerda, também contrário à proposta do governo.

Ponto de atrito

Água foi a principal arma da polícia alemã para dispersar a multidão, que queria invadir o parlamento e evitar a votação da nova lei de proteção a infecções (dpa).

O principal ponto de atrito é o parágrafo 28 do novo texto da lei, aprovada pela primeira vez em 2001. Ali estão especificadas as possibilidades do executivo numa crise como a atual. Obrigatoriedade do uso de máscara, confinamento radical e até o fechamento de setores inteiros, como a gastronomia. Tudo isso sem precisar consultar o parlamento ou outras instâncias da nação.

Desde o primeiro confinamento, não foram poucas as vezes em que o executivo federal viu suas determinações contrariadas por governos locais ou derrubadas em tribunais regionais, sob o argumento da inconstitucionalidade. Merkel quer agora, com a nova lei, garantir unidade e coesão para a política de combate à pandemia.

Mesmo com os protestos, dentro e fora do Bundestag, o texto principal acabou aprovado por ampla maioria no início da tarde. Em seguida, foi  acolhido e avaliado em tempo recorde, pelo Conselho Federal (Bundesrat), que reúne os governadores dos 16 estados da federação. À noite já tinha sido assinada e ratificada pelo presidente, Frank-Walter Steinmeier. Quinta-feira, dia 19 de novembro, entra em vigor. 

Apesar dos dilemas, lockdown alemão deve ser ampliado

“O corona mata quase exclusivamente pessoas acima dos 80 anos, que é a idade em que elas normalmente morrem aqui… dizendo de forma brutal, é como se estivéssemos salvando quem, em meio ano, estará morto de uma forma, ou de outra”, respondeu o matemático Boris Palmer, prefeito de Tübingen, pequeno e próspero município do estado de Baden-Württemberg no sudoeste da Alemanha. O político do partido verde (Bündnis’90/die Grünen) foi um dos entrevistados do jornalista Markus Lanz em seu programa na rede pública ZDF na noite de quarta-feira (11/11). 

Suas declarações, recebidas com indignação pelo establishment político-midiático presente e ausente no programa, são combustível para um debate que o país não consegue encaminhar. “Inaceitável. Todo ser humano, independente da idade tem direito à vida”, lacrou o quase octogenário ex-vice chanceler, Franz Müntefering, também entrevistado na noite.

Da esquerda para a direita: o jornalista Markuz Lanz, o ex-vice chanceler, Franz Müntefering, o político Boris Palmer, a jornalista Anja Maier e o astrofísico Heino Falcke, no programa do dia 11 de novembro na rede ZDF.

Idéia fixa

Palmer explicou que não repetiria a frase, pois a comoção que ela provocou ao final inviabilizou qualquer debate. “Mas existe um dilema relacionado com a estratégia global de combate da pandemia. Um receio bastante concreto, de que ela acabe causando mais perdas em vidas, do que as vidas que conseguimos salvar, seguindo as medidas que temos hoje em vigor”, insistiu. 

A idéia fixa, de que não há nenhuma outra alternativa, é o que indigna muita gente na Alemanha no momento. “Criamos um serviço de táxi subsidiado pela prefeitura, para que pessoas do grupo de risco não precisem usar o transporte público”, exemplificou o prefeito da cidade de 90 mil habitantes. Boris Palmer reclama que já tentou replicar soluções assim em nível federal, sem sucesso.

Razão do medo

“Nada me deixa mais doente que a solidão”, reclama o professor e músico brasileiro de 35 anos, João de Alencar Rego. Em tratamento de um câncer desde 2019, João está fazendo agora a última parte da quimioterapia. Duas vezes por semana precisa ir ao hospital onde foi operado. Para isso, usa o transporte público da capital Berlim, onde mora desde 2012, mesmo sendo parte do grupo de alto risco.

“Conseguir que o seguro de saúde (Krankenkasse) pague o táxi é uma burocracia gigantesca, e com sorte eles pagam metade”, conta ele. Para o músico, neste confinamento, a razão está do lado do medo. “Sempre uso máscara, lavo as mãos etc, me cuido, mas é difícil ver que os amigos passam aqui pra deixar as compras e só acenam de longe com máscara e vão embora… A gente fica mais doente alimentando esse pânico toda hora”.

Tarefa mamute

O gargalo da pandemia é o sistema de saúde. Na potência germânica da segunda onda não existem enfermeiros suficientes para atender todos os 30 mil leitos de tratamento intensivo disponíveis. Estimativas do próprio governo apontam um déficit de seis mil profissionais só para UTIs em todo país. “Pacientes do corona ficam mais tempo internados e requerem mais atenção. Isso afeta a demanda por mão de obra”, justifica o ministro da saúde, Jens Spahn (CDU).

O ministro da saúde da Alemanha, Jens Spahn.

O governo havia anunciado um plano para empregar 13 mil novos enfermeiros durante a primeira onda. Menos de três mil foram efetivados até o momento. O ministro Spahn propõe, caso necessário, fazer os enfermeiros continuarem trabalhando, mesmo quando infectados. Em sessão do parlamento (Bundestag) dia 06 de Novembro, ele já havia avisado:  “A pandemia é uma tarefa realmente gigantesca – e essa tarefa ainda não atingiu seu clímax”.

Últimas notícias

O fim de semana, como de costume, foi de apreensão. As imagens de UTIs lotadas em Nápoles, na vizinha Itália, onde o número de mortos ultrapassou a marca dos 500 por dia, aumentam o medo. Mesmo com o achatamento da curva e uma leve redução do total de óbitos, na Alemanha para os próximos dias é esperado o endurecimento das restrições. 

O barômetro político, enquete encomendada pela rede pública de comunicação ZDF, indica aceitação das medidas do governo por 58% da população. Segundo a pesquisa, 26% acham elas insuficientes e aprovariam restrições ainda mais severas. Acima de tudo, o otimismo de 85% dos alemães que, de acordo com o levantamento, acreditam que o país vai superar bem a crise.

Cresce oposição ao novo confinamento na Alemanha

“As medidas são adequadas e necessárias, e se aguentarmos de forma consequente esse mês, pode ser que consigamos romper essa segunda onda da gripe”, declarou Angela Merkel no dia em que começou o lockdown-light na Alemanha. “O sucesso dessa estratégia depende não só das regras em si, mas especialmente do cuidado da população em segui-las”, acrescentou a mulher que está há 15 anos à frente do poder na principal economia da Europa.

Merkel vem tendo dificuldades em se explicar. Primeiro, por que as medidas tomadas desde o fim do primeiro confinamento não funcionaram para evitar o segundo? Ou esclarecimento convincente sobre a diferença entre um cinema e uma igreja. Por que um não pode funcionar e o outro sim? No país inteiro, missas e cultos continuam permitidos, seguindo as medidas de higiene e distanciamento. Já exibições de cinema não, estão terminantemente proibidas. 

Movimento dos esquisitos

Como resultado, protestos têm aumentado em número, frequência e intensidade. O último, no início de novembro em Leipzig, quando dezenas de milhares de pessoas desafiaram a ordem da polícia para dispersar e marcharam pelo centro da cidade. O movimento, batizado pela grande imprensa de “Queerdenker Bewegung” (Movimento dos Pensadores Esquisitos), reúne na verdade pessoas de praticamente todos os espectros do pensamento político.

Protesto contra o lockdown light na Alemanha
“Pensadores Esquisitos” (Queerdenker) na Augustplatz em Leipzig dia 07 de novembro. (dpa)

“Em virtude da situação, optamos por recuar para evitar o conflito”, justificou o Comandante da Polícia Militar de Leipzig, Torsten Schultze. A polícia, no fim, foi a responsabilizada pelo fracasso em fazer valer a lei do distanciamento. No parlamento, políticos da coalisão cobraram melhor preparação para essas situações e fizeram ameaças veladas de endurecimento das medidas de controle.

Erik Flügge é um cientista político baseado em Stuttgart. Ele tem longa experiência no acompanhamento de casos polêmicos envolvendo decisões do governo. A mais significativa delas é o movimento contra a ampliação do sistema de transporte rodo-ferroviário da capital do estado de Baden-Wurttenberg, conhecido como Stuttgart 21. Projeto de 6,3 bilhões de Euros, que há 10 anos vem sendo impedido por diversas iniciativas populares no sul da Alemanha. “Não foram poucas as vezes em que o governo apresentou cálculos e dados errados para justificar suas posições. Ao longo do tempo as pessoas aprenderam que isso ocorre sistematicamente e construíram um consenso sobre as decisões governamentais”, explica o cientista.

Velha desconfiança

É inevitável a sensação de dejavú. Durante a primeira onda da pandemia, diversas questões foram simplesmente canceladas pela pecha conspiracionista. Mas a falta de respostas convincentes para simples fatos reacendem a desconfiança das pessoas. A mais polêmica no momento é a acusação de inconfiabilidade dos testes PCR (Polymerase-Chain-Reaction), aquele do cotonete.  

Não são raros os casos de pessoas doentes apresentarem resultado negativo. O mesmo para pessoas positivas assintomáticas. A melhor explicação para tais discrepâncias é relacionada com a realização do teste. Ou o cotonete acertou no canto errado da garganta, ou a quantidade de vírus ali ainda não era suficiente para ser detectada.

Apesar da incerteza, o PCR é o principal teste para o covid-19 na Alemanha. Por semana, mais de um milhão e meio são realizados. Fica estranho descobrir que o principal assessor do governo para a crise, o virólogo Christian Drosten, é também o detentor da patente do PCR test.

Conflitos de interesse 

O historiador suíço Daniele Ganser, conhecido por colecionar dados e fatos que contradizem versões oficiais em situações de crise, lembra que esse tipo de “business” não é nada novo. Em maio de 2009, a Organização Mundial da Saúde mudou o conceito de pandemia. Até então, ele dependia basicamente de um representativo número de mortos e doentes em nível global.

A partir desta data, bastava uma infecção se espalhar rapidamente pelo mundo para que o alerta da OMS fosse dado. “Um mês depois de mudar o conceito, a chefe da OMS na época, Margaret Chan, declarou a gripe do virus H1N1 como uma pandemia, o que possibilitou a venda de milhões de doses da vacina Tamiflu (Roche) para governos de todo o mundo”, conta Ganser.

O historiador Daniele Ganser é especializado em documentar mentiras e manipulacoes do aparato político-estatal. (F.Bachman)

“A OMS não é uma organização tão independente assim. Só a fundação Bill & Melinda Gates doam 700 milhões de dólares a cada ano para ela”, afirma o pesquisador, citando um levantamento da universidade John Hopkins nos Estados Unidos. Uma outra pesquisa, publicada no mês de Setembro pelo Instituto de Estudos Políticos em Washington, aponta durante a pandemia, para um acréscimo de 17 bilhões de dólares no patrimônio privado do homem que sonha vacinar 7 bilhões de pessoas contra a gripe do corona.

Nefasta estatística

A chanceler alemã dá de ombros para os conflitos de interesses, repetindo a mesma tática e argumentos da primeira onda. Apelos reiterados para que as pessoas mantenham distância e usem máscaras, num chamado irresistível à mútua solidariedade. No primeiro confinamento nenhuma das medidas funcionou. Mesmo com o lockdown radical o número de infectados continuou alto, empurrando a medida por três meses, sem que houvesse um número significativo de vítimas no final. 

Especialistas de várias áreas colecionam argumentos contra a estratégia do governo federal em Berlim. “Ao triplicar o número de testes, o que observamos foi o número de pessoas positivas também triplicar. O noticiário na televisão faz parecer que houve um aumento de três vezes no número de doentes nos hospitais, mas a maioria das pessoas testadas positivo não está doente”, declara Dr. Gerd Bosbach, matemático e um dos autores do livro “Mentiras com números” (Lügen mit Zahlen, Heyne/2012). 

Ainda que o número de mortos esteja em franca escalada, ultrapassando a marca de 200 por dia nessa segunda quinzena de novembro, uma outra lacuna continua aberta com relação a essa nefasta estatística. “Quando uma pessoa é um óbito do corona? Se ao saber do meu teste positivo, eu me assusto e caio do balcão do meu apartamento, eu sou um morto do corona. O mesmo vale para quem morre de derrame, ataque cardíaco, câncer etc”, escreve o médico epidemiologista Sucharit Bhakdi, em seu bestseller “Corona Fehlalarm?”(Alarme Falso). 

Epidemiologista Sucharit Bhakdi virou autor bestseller com seu questionamento sobre a política da pandemia na Alemanha.

O fenômeno remete a um experimento feito pelo médico legista Klaus Püschel, diretor do Instituto de Medicina Legal de Hamburgo. Durante duas semanas em abril, ele exumou os corpos das pessoas que haviam morrido por coronavírus com sua equipe. “Todos os cadáveres que examinamos tinham câncer, doenças pulmonares crônicas, diabetes, problemas do coração ou pressão. Nenhum sem longo prontuário médico”, declarou ele à imprensa na época. Só então os canais oficiais explicitaram que o número apresentado referia-se a pessoas mortas “com” corona.

Debate democrático 

Na arena política há um outro ponto importante no argumento da oposição, em relação a esse novo lockdown. “Frau Merkel, a senhora fala em debate democrático, mas ele deve ser democrático antes da decisão ser tomada e não depois”, criticou Christian Lindner, presidente do Partido Liberal (FDP), na sessão do parlamento na sexta-feira, 30 de outubro. 

Além de discordâncias quanto às medidas em si, a oposição acusa a forma como o governo vem conduzindo a crise, com a formação de um “gabinete de guerra”, e colocando cada vez mais militares no combate da infecção. Só em outubro e novembro, 2.600 soldados foram deslocados para ajudar no acompanhamento das ocorrências. No total, 15 mil militares já trabalham no combate da pandemia e o contingente vai aumentar nos próximos meses.

A gerente de projetos, Katharina Richter, recebeu semana passada a visita dos “soldados de saúde” em sua casa. Ela e o marido tinham sido testados positivo para covid-19 e estavam em quarentena. Os agentes foram à casa deles para testar as duas filhas do casal e inspecionar o cumprimento da determinação. “Foi tudo muito rápido e profissional”, conta ela.

Enquanto isso, nas ruas a situação é de desconforto. Não apenas pelo uso obrigatório da máscara, mas especialmente pelo controle policial ostensivo nesses primeiros dias de confinamento-light. “Palhaçada, isso é falta do que fazer. Por que a polícia não vai lá no ponto de tráfico que todo mundo sabe onde é, e acaba com aquilo? Ficar controlando velho que não usa máscara na rua é vergonhoso”, critica o empresário brasileiro, Lindomar Gomes.

Radicado em Berlim há 17 anos, Lindomar não nega a existência do vírus e a necessidade de ter cuidado, mas acha absurda a condução da crise pelo governo. “Se você anda de metrô ou ônibus, é impossível haver distanciamento, e a máscara só protege se for apropriada e usada de maneira adequada. Como a maioria faz, parece mais um teatro para bobos”, acredita ele.

Novo lockdown europeu atesta ineficácia de medidas alternativas

Depois de lutar por semanas para evitar um novo confinamento, a Alemanha, tida como exemplo no combate da pandemia, se rendeu novamente ao Covid-19, e agora assiste impotente a formação de uma tempestade perfeita. 

A Europa inteira foi sendo gradativamente fechada numa versão mais leve de confinamento, um lockdown-light. Em quase todas as capitais vigorava já desde o início de Outubro o toque de recolher,  obrigando bares e restaurantes a ficarem fechados à noite. Festas, shows e qualquer tipo de espetáculo que promova aglomerações estavam proibidos, ou deveriam se submeter a inconciliáveis restrições. Na última semana, por exemplo, o violonista brasileiro, Yamandú Costa se apresentou em Nüremberg para um público de 20 pessoas. O espetáculo, organizado pelo Clube do Choro da cidade, só pôde acontecer por conta de patrocínios privados, e o cachê do músico foi doado à campanha de apoio a artistas no Brasil.

Depois de um curto e reduzido funcionamento, teatros como o Maxim Gorki, em Berlim, estarao fechados novamente por um mês.

Em novembro nem mesmo eventos extraordinários como esse poderão acontecer. Além do fechamento completo dos estabelecimentos da gastronomia e entretenimento, está proibido o funcionamento de salões de beleza, academias de ginástica, estúdios de dança, centros de esporte e lazer. Toda hotelaria e o setor de turismo também estão congelados até o fim do mês. Apenas lojas, supermercados, farmácias, escolas e creches continuam funcionando, por isso a conotação light da medida anunciada na Quinta-feira (29/10) pela primeira ministra, Angela Merkel (CDU).

Visivelmente consternada ao fazer o pronunciamento, Merkel pediu desculpas e agradeceu os esforços de toda a população durante os meses passados, mantendo distanciamento, usando máscaras e desinfetando as mãos. “Infelizmente isso tudo já não basta, por isso a necessidade de tomar uma medida que permita quebrar essa segunda onda neste exato momento”, justificou a chanceler. Em seguida o governador de Berlin, Michael Müller (SPD) explicou a razão de escolas e creches continuarem abertas. “Durante o primeiro Lockdown observamos um aumento dramático dos casos de violência doméstica em todo o país. As crianças são as que mais sofrem em um confinamento. Devemos fazer qualquer esforço para evitar essa tragédia”, justificou o social democrata.

Consenso

Chanceler, Angela Merkel, anuncia segundo Lockdown na Alemanha

A medida foi tomada em consenso por todos os 16 governadores e o governo federal em Berlim. Horas depois do pronunciamento da primeira ministra e dos representantes dos governadores, os ministros da economia, Peter Altmeier (CDU), e das finanças, Olaf Scholz (SPD), apresentaram as medidas de auxílio para o período do confinamento. Serao 10 bilhões de Euros, distribuídos pelos Estados para os que forem diretamente afetados pela paralisação das atividades. Restaurantes, a exemplo, poderão pedir até 75% do seu faturamento em Novembro do ano anterior. Profissionais liberais e autônomos também devem comprovar seus custos do período para serem compensados. Em paralelo, funcionários de empresas que estiverem em dificuldade serão financiados pelo “Kurzarbeit”, compensação do governo que garante de 60% a 80% do salário, visando a manutenção dos postos de trabalho.  

Mesmo com a ajuda oferecida, a perspectiva de um segundo Lockdown acendeu os ânimos da população em cidades de toda Europa. Na Itália, o fechamento do comércio, a partir das 18 horas, decretado dia 23 de Outubro, provocou uma onda de protestos em Roma e Nápoles. No fim de semana seguinte foi a vez de Barcelona se incendiar por conta das medidas decretadas.

Protestos em Barcelona contra o segundo confinamento.

Na Alemanha as demonstrações contra a política pandêmica do governo são semanais, mas com raros casos de confronto com a polícia. E não foi pouco o que o corona vírus já tirou dos alemães. Oktoberfest, Karnaval de Colônia, Halloween, além dos tradicionais mercados de Natal, para citar os do último mês. Nem a convenção nacional da União Democrata-Cristã (CDU), partido da chanceler Angela Merkel escapou. O evento marcado para dezembro, reuniria milhares de delegados de todo o país em Stuttgart para a escolha do novo presidente do partido, e assim candidato a sucessor da mulher que está há 15 anos no poder. “Nosso apelo é para evitar todo e qualquer evento, viagem ou contato desnecessário, e não há nenhum motivo sensato para manter a data da convenção, ela pode ser realizada quando a pandemia estiver sob-controle”, defendeu Armin Laschet, governador da Renânia do Norte Westfália e um dos favoritos na disputa.

Máscaras como armas

Enquanto isso, policiais controlam o uso de máscaras até mesmo a céu aberto nas principais cidades. Dependendo do estado, a multa para quem desrespeitar a norma varia de 50,00 a 250,00 Euros. Ainda que não se tenha notícia de alguém multado, mais caro ainda é a punição para os que retornam das férias e não cumprem com as normas de higiene e segurança sanitária. Quem chega de viagem do Brasil, por exemplo, precisa ficar em quarentena por 14 dias. A multa para quem descumprir a norma pode chegar a 25 mil Euros.  

“Nossa única arma parece ser o uso da máscara”, sentenciou o jornalista Markus Lanz em seu tradicional programa de entrevistas na rede pública de comunicação ZDF na madrugada do dia 28 de Outubro. Ele tentava trazer à tona o debate sobre a ineficácia das medidas “alternativas” de distanciamento social. 

Apesar de todo apelo e controle, o número de infectados por dia dobrou em outubro. Só na última semana do mês, o número passou de 14 mil para mais de 19 mil pessoas infectadas diariamente, segundo o Robert Koch Institut, que faz a análise dos dados da pandemia no país. Independente do recorde de infectados, o número de mortos pelo vírus ainda é baixo. Pouco mais de 10.000 desde março, quando o número de infectados era três vezes menor que hoje. E é aí que mora o perigo. Uma rápida olhada em outro dado pode dar a pista para o que apavora as autoridades. Na segunda-feira, 26 de Outubro, 24 pessoas morreram pelo Corona vírus em todo o território alemão. Na sexta-feira (31/10), esse número já havia subido para 103 mortos. É esse número que coloca em alerta os experts do governo no momento. 

Independente dos resultados dessa versão leve do confinamento para o combate da pandemia, ela promete piorar ainda mais a saúde econômica dos alemães. Setores inteiros, que ainda operam sob condicionantes, acumulam cada vez mais prejuízos. A Lufthansa, que anunciava em abril a demissão de 10.000 pessoas, hoje já diz que o total de dispensados vai passar dos 30 mil. E isso, depois de receber 9,3 bilhões de Euros em ajuda governamental.

Entre fornecedores da indústria automobilística, as dispensas serão na mesma proporção. Gigantes como a Continental prevêem eliminar 30 mil postos de trabalho nos próximos anos. Mesmo número apontado pela icônica Daimler-Benz como necessário para se reequilibrar. Outras que vinham em dificuldades antes mesmo da pandemia, agora estão tendo que enxugar ao máximo os custos de mão de obra. Na Mahle, fabricante de máquinas e componentes automotores, o número de demissões chegará a 7.600 até o final do ano. Isso tudo sem aviso prévio e depois de a empresa ter financiado o salário dos empregados com o dinheiro do “Kurzarbeit” garantido pelo governo desde o início de março, acusa o poderoso sindicato dos metalúrgicos, IGMetall. 

O governo, que havia anunciado em Setembro o déficit recorde, 220 Bilhões de Euros em 2020, vai ter que rever as contas. Inclusive as projeções para os anos seguintes: 94 bilhões para 2021 e 53 bilhões em 2022. O ministro das finanças, Olaf Scholz já anunciou que déficit zero “só depois de 2023 pelo menos, e dependendo da conjuntura”. A Alemanha vinha apresentando déficit zero de suas contas públicas por três anos consecutivos. Outro sonho perdido na luta contra o vírus. 

Toque de recolher é nova tática para enfrentar a Covid na Alemanha

Nem máscaras, nem distanciamento, nem a paranóia de lavar e desinfetar as mãos a cada momento. Nada disso evitou que a tão temida e aguardada “segunda onda”  da Covid-19 chegasse com força total à Europa.

Na quarta-feira (07/10) o prefeito de Berlim, Michael Müller, anunciou as novas medidas de combate da pandemia. “Para evitarmos um novo confinamento total, teremos que restringir parcialmente a circulação de pessoas, especialmente à noite”, declarou o social-democrata.

A medida é considerada menos radical, em comparação com as tomadas em outras cidades do continente.

Em Madrid, por exemplo, já está valendo o lockdown total. Cidades do litoral do mediterrâneo, como Marselha, também fecharam todo o seu comércio por duas semanas.

Na capital da Alemanha, já na sexta-feira (09/10) estava valendo o toque de recolher entre as 23:00hs e as 06:00hs. Ficam também proibidos a venda e consumo de álcool na rua, mesmo em pequenos grupos.

Festas privadas, como casamentos e aniversários podem ter no máximo 10 convidados.

“Fizemos tudo o que as autoridades prescreveram. Aceitamos funcionar abaixo da capacidade para poder atender as medidas impostas. Mesmo assim, parece que nada adiantou”, reclama Giacinto D’Ambrosi, proprietário do Babbo Bar & Restaurante no bairro de Neukölln.

Desde a reabertura, D’Ambrosi vêm pouco a pouco recuperando o movimento de clientes. Apesar da boa retomada, ainda contabiliza 20% menos público do que em relação ao ano anterior. “Se as restrições se prolongarem muito, não sei se terei condições de manter o aluguel em dia”, prevê o italiano, radicado há 15 anos em Berlim.

O argumento usado para justificar a decisão, também adotada logo em seguida nas principais cidades da Alemanha, é dado pelos canais oficiais e suas complexas estatísticas. A vida noturna, com suas festas, encontros e confraternizações, é onde o vírus hoje se alastra.

Atualmente, a Alemanha contabiliza mais de quatro mil novos infectados por dia. O número quadruplicou em pouco mais de um mês. Vale perguntar, por que só agora o vírus chegou na boemia berlinense? Festas em parques, com milhares de pessoas sem máscara e dançando lado a lado são rotina na cidade desde o fim do Lockdown em Maio.

Também intriga o fato de que a culpa pelo aumento de infectados já foi de outros atores. Durante a temporada de verão (Junho a Agosto), pessoas que voltavam de suas férias eram apontadas como as principais responsáveis pela renitente gripe do Covid-19.

Em Maio, a vilã da crise na maior economia da Europa era a indústria de carnes. No caso das fábricas de salsichas, elas eram apontadas como as principais responsáveis pelo aumento do número de infecções, que havia dobrado no período, chegando a mais de 600 novos casos por dia. 

O presidente do Robert-Koch Institut, que controla oficialmente os dados da epidemia, Dr. Lothar Wieler, atribuiu o aumento às condições de funcionamento das empresas. Nessa época, em uma só empresa, a West Fleisch, 1.100 trabalhadores foram testados positivos para o corona vírus. Um mês depois, mais de 1.500 trabalhadores da Tonnies, maior fabricante de carnes e embutidos da Alemanha, apresentaram o vírus. 

O resultado: fábricas e comunidades do entorno colocadas em quarentena novamente. Uma tarefa ingrata para as autoridades, que além de fechar ruas e estações, precisaram brigar com as empresas, que se negavam a fornecer o endereço dos funcionários, a maioria deles estrangeiros temporários.

O caso acabou por representar um abalo moral para a indústria no país. Ele remete a outras questões escamoteadas pela política profissional da maioria dos partidos, e que dizem respeito à toda economia.

Como em outras atividades, os açougueiros dos grandes frigoríficos são quase todos trabalhadores temporários. No momento, a maioria deles vêm da Bulgária, Romênia, Kosovo. Há temporadas em que são poloneses, ucranianos, russos ou homens trazidos de outras partes do leste europeu, e que fazem o trabalho por um salário bem abaixo do mínimo.

As redes públicas de comunicação (ARD e ZDF), apuram casos de trabalhadores recebendo menos da metade dos 9,35 Euros por hora, determinados como salário mínimo para a categoria. 

Os trabalhadores são alojados coletivamente. Até oito pessoas dividem um único quarto de 20 metros quadrados. Foram encontrados casos em que acontecia até o rodízio de camas. Enquanto um trabalhava, o outro dormia. Bastou um desses trabalhadores ficar doente, para que a peste se espalhasse nos apertados espaços da linha de produção das salsicheiras.

Tudo isso agora é passado. Hoje, o número de infectados é oito vezes maior que o daquela época, como se o esforço feito até agora tivesse sido em vão. Mais intrigante do que isso, é o fato de que o aumento no número de infectados pelo Covid-19 não se reverte em um aumento no número de doentes graves. “No momento estamos observando um aumento das infecções na população adulta jovem, que normalmente não fica gravemente doente”, explica o guru do governo Merkel para o Corona, o virólogo Christian Drosten, do Instituto de Virologia da Charite em Berlim.

Drosten alerta que, caso o aumento dos infectados se mantenha, em dois meses o virus chegará a população mais velha. Importante dizer que o virólogo diz a mesma coisa há mais de três meses. Mesmo assim, ainda não houve aumento significativo do número de mortos pelo Corona na Alemanha.

Dança das máscaras ensaia fiasco na Alemanha

“A ciência é um dos quatro cantos da enganação, juntamente com a mídia, a política e a religião”
Noam Chomsky, Democracy Now. 

Para além do tombo econômico, com recuo de pelo menos 5,2% no PIB global, há impactos da pandemia que ainda não mostraram a cara. Máscaras que outrora escondiam criminosos ou protegiam médicos em salas de cirurgia, hoje são obrigatórias até nas ruas de países ricos e democráticos. O contato pessoal, antes tão importante para a saúde mental, hoje é visto como insalubre ou perigoso, coisa a ser evitada.

Amordaçada pelo medo, a maioria da população segue, na medida do possível, as medidas ditadas pelas autoridades. Na Alemanha, desde o fim do confinamento em Maio, o uso da máscara se tornou corriqueiro, seja pelo temor ao vírus ou à punição. A multa para quem andar sem a proteção no metrô é de 50 Euros. Para os alegres que promoverem festas, ou aglomeraçōes, desrespeitando as normas ditas de “segurança sanitária”, a pena sobe para 550 Euros e pode dar até cadeia.

A Chanceler Angela Merkel defende as punições severas. “Não podemos tolerar que algumas pessoas ponham em risco a saúde de seus próprios co-cidadãos”, declarou ela em entrevista coletiva no início de Setembro.

Efeitos colaterais

Mesmo com a pressão, cresce entre os alemães um sentimento de desconfiança, e a credibilidade do governo está irremediavelmente abalada, na medida em que a crise se prolonga com a chegada da tão esperada segunda onda da gripe. Na capital, Berlim, quatro bairros foram considerados áreas de risco na última semana e o país apresenta hoje níveis de infecção superiores aos do início da crise em Março.

A ameaça latente é de um novo confinamento. Questão na verdade recorrente. Ainda em Abril, quando os alemães se preparavam para iniciar a reabertura do comércio, jornalistas das redes públicas de comunicação já perguntavam sobre a pertinência das duras medidas adotadas. “O que estamos dispostos a sacrificar para salvar vidas? Eu não tenho essa resposta, mas é fundamental haver uma discussão que envolva toda a sociedade para decidirmos com quais perdas queremos arcar e quão longe pode ir o Estado na restrição da vida da população”, comentou Isabel Schayani, da rede pública ARD.

Desde então, os fatos só confirmam a pane que o Covid-19 provocou nos sistemas de saúde e governo do mundo todo. Questionado sobre os “efeitos colaterais” do confinamento, como a degradação acelerada da saúde de pessoas idosas colocadas em isolamento, o principal conselheiro do governo federal, o virólogo Christian Drosten, admite o erro, mas sem pedir desculpas. “Certamente poderíamos ter adotado medidas menos radicais para públicos específicos, mas por ser uma enfermidade nova, nāo sabíamos como ela iria se comportar na nossa sociedade”, argumenta o homem que acompanha o vírus do Corona desde a primeira epidemia de SARS na China, quase 20 anos atrás.

Christian Drosten
Christian Drosten, Chefe do Instituto de Virologia da Charité de Berlim, é o principal conselheiro do governo alemao na pandemia

Outras contradiçōes ocorridas no desenrolar da crise levantam dúvidas ainda maiores. O jornalista Markus Lanz deu munição para teorias da conspiração em seu programa de entrevistas do dia 21 de Maio. Exibida na rede pública de televisão ZDF (www.zdf.de), a transmissão reuniu virólogos, cientistas, políticos e jornalistas para comprovar a seguinte hipótese: “se todos usassem máscaras, a Alemanha não precisaria ter passado pelo confinamento total”. Um detalhe importante, o país não tinha máscaras suficientes nem para os seus profissionais de saúde nos primeiros meses da pandemia.

Contra-indicação

Hoje, com abundância de máscaras,  é crescente o número de médicos, de diversas especialidades, que se pronunciam contra a obrigatoriedade da medida. Um dos depoimentos mais contundentes dos últimos dias foi o da Neurologista Margareta Griesz-Brisson. Classificando a política de combate da pandemia como “absoluta catástrofe”, a médica que atende em Mülheim e Londres, chama atenção para obviedades ignoradas pelo discurso oficial de combate à gripe do Covid-19. “Nossa saúde está em grande parte em nossas próprias mãos, através de boa alimentação exercícios físicos, água limpa, a empatia e amor dos amigos e familiares e muito muito ar puro”, ensina.

Para ela as medidas do governo vão na contra-mão do conhecimento. “Produtos para desinfecção de mãos estão inundando o mercado sem que sejam respeitados os padrōes para os testes de segurança”, denuncia. Como resultado há uma explosão dos casos de problemas de pele na população. “O distanciamento generalizado é uma brutalidade sem paralelo na história da humanidade”, acrescenta a médica.

Mas segundo a Neurologista, a máscara é a pior de todas as medidas atualmente em vigor. Nas palavras dela, uma “contra-indicação médica”. “O ser humano pode ficar semanas sem comida, dias sem água, mas apenas alguns minutos sem ar”, lembra. “É conhecimento notório que o cérebro humano reage muito sensívelmente à falta de oxigênio”. Especializada em doenças degenerativas do sistema nervoso, Griesz-Brisson prevê um aumento exponencial dessas e de outras enfermidades relacionadas com a escassez de oxigênio no cérebro devido o uso prolongado de máscaras.

Dra. Margareta Griesz-Brisson
A neurologista Margareta Griesz-Brisson defende a suspencao da obrigatoriedade da máscara

Como uma das mais renomadas especialistas da área no Reino Unido, Dra. Griesz-Brisson explica que o uso da proteção respiratória afeta a saúde cerebral por duas razoes interdependentes. “Estressa a capacidade cerebral com a redução da quantidade de oxigênio e o aumento da quantidade de gás carbônico absorvido, o que de forma contínua e prolongada acelera o processo de envelhecimento do tecido cerebral”. Ela lembra ainda que as células nervosas dificilmente se regeneram, e por isso aquelas que forem “desligadas“ pelo stress de oxigênio continuo serão perdidas mais rapidamente.

Sobrevivi a Ceaucescu

“Eu não uso máscara. Preciso do meu cérebro para pensar e atender meus pacientes com a mente clara e nāo anestesiado pelo excesso de gás carbônico”, afirma. Em tom de apelo e desafiando a principal medida de contenção da pandemia do governo alemāo, Margareta Griesz Brisson defende a suspenção da obrigatoriedade da máscara, sob o argumento de que a escassez de oxigênio é prejudicial a qualquer cérebro, independente da idade, nacionalidade, classe ou mesmo condição fisiológica. 

Ao comentar a propaganda pela vacina emcampada pela primeira ministra Angela Merkel, ela indaga: “Frau Merkel, o que a senhora sabe sobre vacinas?! Quantos pais que tiveram seus filhos alijados por um erro na aplicação ou na fabricação de uma vacina a senhora já olhou nos olhos?! Vacinas nao sao panacéas a serem vendidas em mercados de Natal!”. 

Em uma crítica demolidora, a médica nascida na Romênia e naturalizada alemā, diz nāo temer nada, nem mesmo a opressāo autoritária de governos. “Eu sobrevivi a Ceausescu, nāo posso me calar agora diante de um governo comandado e aconselhado por uma física teórica, um médico veterinário, um virólogo de laboratório, um empresário de sofware, um administrador financeiro e um fabricante de carros elétricos”, completa ela, em alusāo aos principais responsáveis pela política de combate à pandemia na maior economia da Europa.

Anvisa dá três anos para gorduras trans, probidas desde 2015 nos Estados Unidos

A Anvisa deu três anos para que fabricantes eliminem as  “gorduras trans” dos alimentos industrializados no Brasil. Terão que reduzir a utilização até julho de 2021 e não poderão mais usá-las definitivamente a partir de 2023.
No mundo, 49 países já adotaram medidas regulatórias de restrição ao uso da gordura trans. Na Europa, o valor máximo é de 2% para todos os alimentos. Nos Estados Unidos esse tipo de gordura está proibido desde 2015.
A organização Mundial da Saúde estima que doenças provocadas pela ingestão excessiva de gorduras trans causam 500 mil mortes por anos
A gordura trans, também conhecida como gordura vegetal hidrogenada, é usada para melhorar o aspecto e também aumentar o prazo de validade de alimentos industrializados.
Resulta de um processo químico: óleos vegetais líquidos, como o óleo de soja, são transformados em gordura sólida com o uso de hidrogênio. Quanto mais hidrogenada, mais consistente a gordura fica.
Ela também aparece durante o aquecimento de óleos para a fritura doméstica ou industrial em processos que envolvem altas temperaturas por longos períodos.
A gordura trans eleva o colesterol ruim, reduz o colesterol bom e aumenta o risco de infarto e AVC.
A gordura trans está em alimentos como:

  • Biscoitos salgados, doces e outros alimentos assados
  • Pipoca de micro-ondas
  • Pizzas e salgados congelados
  • Manteiga vegetal e margarina em barra
  • Creme para café
  • Glacê pronto para uso
  • entre outros

Eliminação em etapas
A decisão da diretoria colegiada do órgão estabeleceu que o processo ocorrerá em duas etapas:
1) a adequação da indústria alimentícia ao limite de até 2% de gorduras trans sobre a quantidade total de gorduras do alimento produzido, o que deve ocorrer até 1 de julho de 2021;
2) a eliminação total de ácidos graxos trans da composição de produtos até 1º de janeiro de 2023
Atualmente não há quantidade máxima definida pela agência. Os produtos importados também precisarão seguir essas regras.
Para os óleos refinados, como os de soja e canola, por exemplo, os ácidos graxos trans não serão banidos.
A Anvisa decidiu estabelecer um limite diferente para esse grupo de produtos, levando em conta que os óleos vegetais passam por altas temperaturas no processo de refinamento, o que acaba produzindo a gordura trans, que não é adicionada de forma proposital.
Com isso, até 1° de julho de 2021, todos os óleos vegetais disponíveis nas prateleiras de supermercados deverão ter, no máximo, 2% de gordura trans na composição. O descumprimento dessas regras poderá acarretar advertências e até multas, a serem definidas pela agência.
O objetivo da Anvisa com as mudanças é reduzir a ingestão de gordura trans a menos de 1% do Valor Energético Total (VET) ingerido pela população diariamente, como recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a agência, essa ingestão hoje chega a quase 2% entre os adolescentes, por exemplo.
“Dependendo do recorte populacional que você faz, essa quantidade é bem mais alta. A gente tem grupos mais vulneráveis na população. Como a gordura trans tem um preço mais barato que os substitutos, as populações mais vulneráveis, que tem menor pode aquisitivo, acabam sendo mais expostas a esses alimentos com maior teor”, explica a Gerente Geral de Alimentos da Anvisa, Thalita Lima.
Por que é difícil zerar o consumo de gordura trans?
A gordura trans é aquela que tem origem no processo industrial. É quando se adiciona hidrogênio aos óleos vegetais líquidos para que eles fiquem com consistência sólida.
É isso que, muitas vezes, deixa crocante, dá textura e um prazo maior de validade para biscoitos, pipoca de microondas, pratos congelados, massas instantâneas e chocolates. Os ácidos graxos trans também surgem no processo de refinamento dos óleos vegetais e no aquecimento para fritura doméstica ou industrial de alguns produtos.
Mas também existe a gordura trans natural, que surge no processo de digestão dos animais ruminantes (por exemplo: boi, carneiro, cabra) e está presente em carnes, leite e queijos.
“São quantidades pequenas, que não oferecem tanto risco aos consumidores, mas que estão naturalmente presentes na alimentação”, explica Thalita.
Risco de desenvolvimento de doenças
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de gordura trans acima de 1% do Valor Energético Total que uma pessoa ingere diariamente já aumenta de forma significativa o risco de desenvolvimento e morte por doenças cardiovasculares, principalmente as que atingem os vasos sanguíneos do coração. Isso porque, ao ser ingerido, esse tipo de gordura favorece o aumento do colesterol ruim (LDL) e diminui o colesterol bom (HL).
Em maio deste ano, a OMS alertou que pelo menos 5 bilhões de pessoas no mundo correm risco de desenvolver doenças relacionadas ao consumo de gordura trans. A organização estima que o ingrediente cause 500 mil mortes por ano no mundo.
No Brasil, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte e de internação hospitalar. Em 2015, foram 424.058 óbitos causado por enfarte agudo do miocárdio, hipertensão, arritmias e outras complicações cardiovasculares, 31% do total.
O que o consumidor deve fazer
Atenção aos rótulos e lista de ingredientes! Na tabela nutricional, ela aparece como gordura trans, de acordo com a porção especificada pelo fabricante. Mas se nessa porção não houver quantidade superior a 0,2 gramas de ácidos graxos trans, o fabricante não é obrigado a informar que há gordura trans naquele produto.
Por isso, o consumidor deve ficar atento à lista de ingredientes. E olha que lá a gordura trans pode ganhar outros três nomes: gordura vegetal, gordura hidrogenada, ou gordura parcialmente hidrogenada. “Não aparecer na tabela nutricional não significa que não há gordura trans naquele alimento”, alerta a Gerente Geral de Alimentos da Anvisa, Thalita Lima.
Mudanças nas regras de rotulagem nutricional já estão sendo discutidas pela Anvisa e devem ser votadas ainda no primeiro semestre de 2020.
Produção brasileira
De acordo com a Anvisa, o volume de produção anual de gordura trans no Brasil caiu de 591.244 toneladas em 2013 para 516.525 toneladas em 2017. A estimativa é que, em 2026, a produção seja de 71.865 toneladas.
Apesar da redução, o Brasil é o país das Américas com maior volume de produção de gordura trans, representando quase 35% e superando os Estados Unidos.
A Associação Nacional de Restaurantes tem números de 2016 que mostram que 61% dos serviços de alimentação usam gordura trans no preparo de bolos, massas de pizza, molhos, risotos e proteínas empanadas.
(Com Agência Brasil)

Crédito alavanca investimentos em energias renováveis

O  Fundo Clima, linha de crédito do Banco Mundial, repassada no Brasil pelo BNDES, está na origem da expansão geométrica de projetos de energia eólica e solar, nos últimos cinco anos.
Com juros de 3,4% ao ano, é um crédito para pequenos projetos, com limite de valores para pessoas jurídicas: até R$ 4 milhões ao ano de faturamento.
Na pessoa física são projetos pequenos, não têm limite de valor. Em torno de R$ 50 mil é a média.
Para projetos maiores há a linha do Finame Energias Renováveis. Tem que estar cadastrado e assegurar um índice de nacionalização no projeto, para estimular a indústria nacional de equipamentos nesse setor.
A maioria dos projetos em busca de financiamento no Banrisul estão enquadrados no CDC Sustentabilidade. Juros de 4,3% ao ano, 72 meses para pagar, com seis meses de carência. A média dos projetos financiados pelo Banrisul  é  de R$ 1 milhão, mais ou menos.
Os projetos de energia eólica financeiramente transitam num outro patamar, na ordem dos R$ 100 milhões.
Esse mercado é movimentado por empresas especializadas que prospectam os locais onde há vento que torne viável uma usina eólica.
Elas formatam pacotes com o potencial de energia medido, o custo, o licenciamento, a rentabilidade e saem em busca do investidor. Muitas vezes têm até o contrato de concessão e vendem para o fundo de investimento.
Uma estimativa não oficial, que circula entre os operadores dos bancos, é de que os projetos de energia eólica já aprovados, com recursos e em fase de implantação somam R$ 1 bilhão em investimentos.
Os projetos em elaboração, sendo preparados para disputar os próximos leilões de energia, somam mais de R$ 5 bilhões.
Nos projetos de energia eólica, como os valores são muito maiores, acima de 100 milhões, é inevitável o envolvimento do BNDES.
No Estado, os repassadores dos programas são o Banrisul, o BRDE e Badesul.