Agapan defende casarões da Luciana de Abreu

A Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) manifestou-se contra a decisão do Tribunal de Justiça do Estado de autorizar a derrubada de um conjunto de seis casas, construídas na década de 1930, na rua Luciana de Abreu, no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
“Há razões de sobra para preservá-las: são patrimônio arquitetônico incontestável, estão em harmonia com o túnel verde da rua e em nome da manutenção dessas características houve uma enorme mobilização de cidadãos”, avalia o presidente da Agapan, Alfredo Gui Ferreira.
As casas da Luciana de Abreu foram construídas no século passado para abrigar as famílias dos mestres cervejeiros da Continental, que depois virou a Brahma, e cujo edifício hoje é ocupado pelo Shopping Total.
Segundo o pesquisador e professor Günter Weimer, o projeto dessas residências contou com a colaboração do arquiteto alemão Theodor Wiederspahn, o mesmo que assinou o projeto dos prédios da cervejaria (hoje shopping) e que em Porto Alegre foi ainda o responsável pelos belos contornos de edifícios marcantes como os que abrigam a Casa de Cultura Mario Quintana, o Memorial do Rio Grande do Sul, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, o Santander Cultural, a Faculdade de Medicina da UFRGS e o Edifício Ely, hoje loja da Tumelero em frente à rodoviária.
“Independente do valor arquitetônico, o fato é que essas construções fazem parte da memória do bairro e contribuem para que o Moinhos de Vento seja um dos locais mais queridos de Porto Alegre, como se viu na enorme mobilização de moradores e frequentadores do bairro.
Colocar essas casas abaixo será destruir a característica local, que é, aliás, o que as incorporadoras vendem aos seus compradores”, sublinha Cesar Cardia, militante da Agapan e um dos integrantes do movimento cidadão pelos túneis verde.
A construtora Goldztein projeta erguer um edifício de 16 andares onde está o casario da Luciana de Abreu. Embora a incorporadora seja obrigada a preservar o túnel verde formado pelas árvores da Luciana de Abreu, protegido pela legislação desde 2008 por um decreto do então prefeito José Fogaça, a Agapan alerta que o ambiente ficaria prejudicado pela construção, devido à densificação e verticalização da cidade, características que trazem consequências como a impermeabilização do solo e a saturação do trânsito na região.
Luta dos moradores dura uma década
Outro importante motivo para que o conjunto de casas da Luciana de Abreu seja preservado é a importante mobilização que a associação Moinhos Vive promoveu ao longo de dez anos pela manutenção das características históricas do bairro, com casarões e ruas arborizadas.
Por meio de um abaixo assinado, que chegou a contabilizar o apoio de seis mil pessoas, os moradores conquistaram o apoio do Ministério Público, que atesta o valor histórico, cultural e paisagístico do conjunto residencial e de seu entorno.
As casas chegaram a ser incluídas no inventário de imóveis listados para a preservação, determinadas por um estudo da Equipe do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do município, mas foram retiradas, contrariando a vontade popular.
A Agapan defende que a Prefeitura ouça os moradores e inclua os imóveis no inventário de Porto Alegre, solução que poderia tornar nula a decisão do Tribunal de Justiça. “É uma grande irresponsabilidade da gestão municipal não escutar o clamor da sociedade”, condena Cardia.
Da assessoria de imprensa da Agapan