Prometida oficialmente para meados de 2015, a maior obra de engenharia rodoviária em andamento no Sul do país – a Ponte de Laguna na BR-101 SC – transformou-se num congestionamento permanente que na maior parte dos dias úteis supera 10 quilômetros em cada sentido do tráfego. Nos fins de semana do verão, os motoristas gastam mais tempo parados na travessia de Laguna do que na viagem de 270 quilômetros entre Torres e Florianópolis.
A colocação emergencial de balsas poderia ser uma alternativa para o trânsito regional. Outra opção seria alargar/pavimentar a rota Capivari de Baixo-Imaruí-Imbituba, contornando (por dentro) o trombo criado pela falta de planejamento dos órgãos públicos responsáveis – o DNIT e a ANTT.
Iniciada em 2004, a duplicação da BR-101 Sul está concluída em sua maior parte, mas ficaram inexplicavelmente para o fim algumas das obras mais complexas. Orçada em R$ 590 milhões, a ponte de 2.800 metros em Laguna está sendo construída com recursos do PAC-2 por um consórcio liderado pela Camargo Correa Construções e Comércio, que tem 60% do empreendimento e conta com a participação da Aterpa, M. Martins e Construbase.
Sobrepreço
Depois da licitação – a preço fixo, sem aditivos nem trololó, segundo o novo Regime Diferenciado de Contratações (RDC) -, o Tribunal de Contas da União acusou um exagero de R$ 30 milhões no custo estimado da mão-de-obra da região de Laguna.
Como os pronunciamentos do TCU não pesam como sentenças, mas costumam desencadear processos do Ministério Público, a diferença de R$ 30 milhões permanece boiando como matéria vencida nas águas da laguna catarinense, onde, aliás, abunda o camarão. As empreiteiras e o próprio DNIT alegam ter fixado os valores da mão-de-obra acima da média regional porque não havia gente especializada em número suficiente em Laguna e arredores, tanto que dos 1.200 trabalhadores contratados 650 vieram de fora.
Até do exterior vieram técnicos e máquinas para ajudar na obra. Se as empreiteiras são nacionais, a tecnologia é global. Uma treliça espanhola foi alugada para instalar as 14 aduelas da ponte estaiada, com vão para passagem de barcos de pesca.
Uma perfuratriz alemã faz os furos de 70 metros de profundidade onde são fixadas as estacas dos mastros da ponte. Cada tubulão consome 300 metros cúbicos de concreto, gerando os pilares mais robustos da BR-101. Nas águas rasas da laguna (apenas 3,50 metros de profundidade), operam 30 balsas.
Esta será a terceira ponte naquele ponto do litoral catarinense. A primeira, metálica, foi construída há mais de 100 anos para o transporte ferroviário e jaz sem uso, corroída pela maresia, à vista dos viajantes que seguem usando a ponte rodoviária construída em 1948 no mesmo aterro da nova linha ferroviária estendida em 1938.
Lacunas catarinas
Fora a ponte de Laguna, ainda restam as seguintes lacunas na BR-101 em território catarinense:
→ o lote 29, licitado em 2004, que envolve o trecho Sombrio-Araranguá e inclui o contorno desta última cidade, cuja população exigiu que a rodovia deixasse o perímetro urbano – deve ser entregue este ano;
→ o túnel (500 metros) do Morro do Formigão, em Tubarão, a ser entregue em maio de 2015, conforme o contrato;
→ a construção do túnel (2.200 metros) do Morro dos Cavalos, perto de Florianópolis, onde existe uma comunidade indígena. É obra que deve demorar quatro anos para ser executada a um custo estimado entre R$ 400 e 450 milhões. A licitação foi autorizada pela licença (ambiental) prévia emitida em 29 de agosto último, mas falta realizar a concorrência. Após a decisão sobre quem vai tocar a obra, será preciso esperar a licença ambiental de instalação, ainda sujeita a discussões entre órgãos estaduais e federais. Na melhor das hipóteses, o túnel fica pronto em fins de 2018.
Geraldo Hasse