DÉCIO GUIMARÃES/ Saudades do Brasil

Mudei eu, ou mudou tudo, de uma hora para outra, e não me avisaram?. Só assim se explica esta nova versão do brasileiro e do país que chamamos Brasil.

Por estes caminhos e descaminhos da vida, sofremos e ficamos abalados com o surgimento da pandemia.
Que devastou o mundo, e tocou fogo na cozinha e nos quartos de todos nós. Deixou-nos desamparados, e sentados à beira do caminho, como diz a música do
inesquecível mestre Erasmo Carlos.
Estamos ainda apagando incêndios, e procurando entender o que se passou, e quais são as sequelas e ensinamentos que nos deixou o Coronavírus.
Houve uma mudança brusca na vida do brasileiro, trocamos abruptamente de rotina, e do modo como víamos o Mundo.
Nossa interação com o Planeta, e com seus habitantes e o meio ambiente, também, sofreram interrupções.
Acrescente-se a tudo isso às eleições presidenciais, e a forma como reagiram as partes envolvidas.
No meio da realidade que grita por mudanças, e persegue um novo caminho, encontramos pessoas e organizações que têm dificuldade em aceitar o resultado do pleito.
Dia após dia, desde o encerramento das urnas, pessoas e organizações resolveram abrigar-se em frente aos quarteis e assemelhados, numa forma de protestar, e dizer que era preciso outra solução, armada, para que não se promovam mudanças “que retiram a liberdade e são contra a Família.”
Ignoram eles que houve eleição, onde foram escolhidos e aprovados nomes, de maneira incontestável, portanto, não é mais possível voltar atrás e dar outro veredicto.

Mas o que mais impressiona a nós outros, que não frequentamos quarteis e nem fazemos barricadas, é o desapego à Democracia e seus valores intrínsecos, que
demonstram os seguidores do candidato derrotado.
Segundo o ex-Primeiro Ministro Winston Churchill ‘“A democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que foram tentadas.”
Então, o momento que se segue é o de obedecer ao rito normal de país democrático, que é visto pelo Mundo como um parceiro a ser admitido no concerto das nações.
A alternância do poder e a mudança, via transição, de governo para o outro, devem servir de modelo a ser ensinado nas escolas e obedecido por todos os cidadãos.
A forma com está sendo conduzida a transição, coloca em xeque as opções acima referidas, pois numa atitude negacionista e revanchista, somos mantidos em um estado de tensão, o que nos obriga a chamar às falas os dirigentes de fim de mandato.
Passado mais de mês do fechamento das urnas, e da divulgação do resultado, era natural que se obedecesse ao rito normal da sucessão.
Como ainda não foi superado o evento eleitoral, é preciso trazer à baila uma reflexão episódios marcantes da história, que muito bem podem servir de exemplo para as
gerações vindouras.
Ou, como afirma o jornalista Charles W. Brow, num recente artigo na Folha de S.Paulo, “A democracia está sendo salva pela pura força de vontade de pessoas que estão escalando uma montanha que nunca deveria ter sido colocada diante delas“.
Desde do advento da democracia em nosso país, depois de 1964, os períodos eleitorais sempre sofreram percalços, e deixaram um rastro de discórdia.
O que se viu em 2022, na eleição presidencial, com candidaturas bastante heterodoxas, conflitantes e de matizes bem delineadas, não deveriam trazer nenhuma surpresa. Mas não foi o que aconteceu.
E o Brasil como fica, diante desta situação?
É preciso relembrar que temos instituições sólidas, pessoas de bom senso em lugares estratégicos, e um país de fazer inveja.
Sim, temos manguezais, praias, somo produtores de alimentos, fazemos carnavais e festas regionais.
Temos, também, pessoas famintas, favelas e pessoas morrendo de covid, além de uma dívida social impagável.
No entanto, somos incensados em todos os lugares que andamos, seja pelo futebol-arte, seja pela música atemporal, ou pela resiliência em ressignificar as vontades do povo, pelos exemplos de solidariedade e compaixão.

Muitos deles foram, exemplarmente, mencionados durante a pandemia, como o pedido de socorro no Amazonas, ou pelo histórico da vacinação ordeira e pacífica, e, por último, mas não menos importante, eleições livres e limpas.

Mas que Diabo aconteceu com as pessoas que, ao contrário dos demais, insistem e vocalizam falsas promessas, clichês de um politica equivocada, pedindo à volta dos militares, e clamando por um processo que se mostrou equivocado ao longo da história.
Ser de direita, também, requer obediência ao rito democráticos, ganhar ou perder é do jogo eleitoral, mas ficar se lamentando em porta de quartel, ultrapassa todos os limites da consciência cidadã.
Volte Brasil a ser o que você sempre foi, não ao passado de triste memória, ele só servirá para relembrar o que não deveríamos repetir.
Volta Brasil, sinto saudade!

*Décio Guimarães é advogado e poeta

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