Dilma chuta o balde

PINHEIRO DO VALE
Parece que a presidente afastada Dilma Rousseff resolveu chutar o balde. Desiludida com a possibilidade de recuperar a base parlamentar que lhe devolveria o cargo e estimulada pelos correligionários de que a melhor tática agora é deixar Michel Temer sucumbir na crise e olhar para as eleições de 2018.
Ao se aferrar ao bordão do golpe, Dilma se afasta de vez dos senadores que a traíram, mas que seriam a tábua de salvação caso voltassem atrás.
Neste caso a melhor tática seria recolher-se ao Palácio da Alvorada como a princesa da fábula e esperar que viesse o príncipe sapo para resgatá-la da maldição.
Mas a presidente não quer o papel de Bela Adormecida. Vai à luta nas ruas e junto à militância, nos mesmos moldes da última trincheira em que se defendeu antes do impeachment.
Isto não resolve para reconquistar o terço mínimo do Senado, mas tira das costas da esquerda o fardo da crise nos seus aspectos mais negativos que lhe ameaçavam os votos: o desemprego e a inflação.
O problema do PT é estancar a hemorragia de adeptos e simpatizantes. As agruras da crise que recaiu sobre o partido fizeram desabar sua plataforma de lançamento de 27% para os 8% ou 9% que ficaram com Dilma até o final.
A eleição municipal está aí e logo à frente a nacional, pois fechadas as urnas em outubro já começa a nova corrida para o Palácio do Planalto.
A presidente ficou muito animada com os resultados de sua jornada final, quando teve espaço diário no Jornal Nacional.
Ali o povo pela primeira vez a viu na telinha como ela é, a mulher braba e decidida que não se intimida, bem distante da tecnocrata tímida dos pronunciamentos oficiais lidos no primeiro mandato. A Dilma guerreira do refrão. Ela pensa em manter essa chama acesa.
Para isto ela precisa correr o País e falar duro denunciando os golpistas. Ou seja: esquecer-se de fazer média com os políticos que poderiam devolver-lhe o mandato.
Este movimento já estaria em curso, iniciando-se com sua pressa de voltar a Brasília, quando o plano era passar uns dias em Porto Alegre esperando esfriar o seu caldeirão, enquanto se bota lenha no fogão do Michel Temer.
As dúvidas são: onde conseguir recursos financeiros para cobrir os custos de suas viagens pelo país? Como presidente afastada, reduzida à condição de simples liderança esquerdista, ela terá o mesmo espaço no Jornal Nacional? Ninguém sabe responder, nem mesmo se pode usar o avião da FAB para esse projeto.
Nesta semana ela vai reunir seu ministério paralelo. Ainda não dá para saber o quanto será possível manter seus ex-colaboradores na ativa, pois como todos estão cobertos pelos salários da quarentena, por seis meses, talvez estejam impedidos.
Os juristas do PT estão examinando o caso.
Na verdade, os ativistas do partido estão se mobilizando para as campanhas municipais, até porque algumas vitórias poderiam amenizar as ameaças de desemprego que turvam o horizonte de muitos militantes.
Neste caso da campanha eleitoral, dizem ser melhor Dilma ficar como vítima, longe dos palanques. Não seria produtiva sua presença ostensiva no terreno minado dos comícios.
Nada disso, contudo, está resolvido, pois se espera a palavra final do ex-presidente Lula, que está afastado dos holofotes, mas não ausente de todas as articulações que ocorrem nos bastidores.
A prioridade de Lula é correr para recuperar o tempo perdido nos embates do impeachment e costurar as alianças nos municípios, que passam na maioria dos casos, pelos partidos traidores.
Na política brasileira, cada espaço é um espaço: nos municípios as legendas de aluguel têm força. Por isto, não vale muito a pena ficar dando pauladas nesses aliados a torto e a direto.
Os algozes da Câmara e do Senado têm muitas caras. Realpolitik é a força do ex-presidente Lula. Nos municípios ele pretende tecer o pano de fundo para 2018.

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