O lucro líquido total estimado pelo mercado dos bancos Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil, para 2025, é de R$ 99,8 bilhões. Itaú Unibanco, R$ 47,6 bilhões; Bradesco, R$ 24,7 bilhões; Santander Brasil, R$ 15,5 bilhões e Banco do Brasil, R$ 12 bilhões.
Ao pinçar alguns números dos balanços do Santander e do Bradesco, como exemplo, é possível perceber que a taxa básica de juros, a Selic, muito acima da inflação é responsável por uma parte substancial dos lucros bilionários.
O Santander Brasil obteve lucro líquido gerencial de R$ 4,0 bilhões no terceiro trimestre de 2025, o que representa alta de 9,6% na comparação com o segundo trimestre e de 9,4% ante o mesmo trimestre do ano anterior. O que mais chamou atenção foi a composição da margem financeira bruta (receitas com crédito menos custo de captação), que somou R$ 15,2 bilhões no período. A margem com clientes (aquela relacionada às operações de crédito e captações de clientes) subiu cerca de 11,1% na comparação anual, para aproximadamente R$ 16,6 bilhões.
O Bradesco registrou lucro líquido recorrente de R$ 6,2 bilhões no terceiro trimestre de 2025, alta de 2,3% na comparação trimestral e 18,8% em relação a igual período do ano passado. Esse número foi impulsionado pela boa performance também da margem financeira — fundamentalmente a margem com clientes — R$ 18,6 bilhões. A carteira de crédito expandiu (9,6% a/a) e o spread médio (a diferença entre taxa cobrada do cliente e custo de captação) melhorou.
A margem financeira bruta é a receita dos juros, antes de deduzir despesas administrativas, provisões e impostos. É o que o banco ganha com empréstimos, financiamentos, títulos, aplicações e captações. Já a margem com clientes é a parte dessa margem vinda diretamente das operações com o público (crédito, conta corrente, cartões, etc.).
A Selic, hoje em 15% ao ano, é a taxa que remunera os títulos públicos federais — ou seja, quanto o governo paga para tomar dinheiro emprestado no mercado. Os bancos, quando têm “sobras de caixa” (recursos não emprestados), aplicam esse dinheiro em operações compromissadas ou em títulos do Tesouro, que rendem basicamente a Selic.
Isso cria um piso de rentabilidade para o sistema financeiro: qualquer aplicação ou empréstimo deve render acima da Selic, senão o banco preferirá deixar o dinheiro aplicado junto ao Banco Central. Com a Selic a 15% e o IPCA em 5,17%, o ganho real (descontada a inflação) é 9,83 pontos percentuais. Ou seja, o poder de compra do banco (ou de quem aplica em títulos públicos) aumenta em quase 10% ao ano, um rendimento real altíssimo.
Como o banco pode ganhar 15% sem risco algum emprestando ao governo, ele só empresta ao público acima disso, para compensar o risco de inadimplência, custos administrativos e lucro. Por isso, taxas de empréstimo pessoal, cheque especial, cartão de crédito e crédito rotativo ficam muito acima de 15% — frequentemente até mais de 100% ao ano.
O efeito macroeconômico disso é que os bancos ganham muito com aplicações de sobra de caixa; desestimula o crédito produtivo, encarecendo investimentos e consumo; eleva o custo da dívida pública, pois o governo paga juros muito altos e mantém a renda financeira muito mais atrativa do que a renda produtiva.
Operações compromissadas
O Bradesco, como os demais bancos, não indica explicitamente as operações compromissadas no seu balanço. No entanto, as Demonstrações Financeiras Consolidadas do Bradesco (acumulado do ano em 30/09/2025), informa que as rendas de aplicações em operações compromissadas foram de R$ 22,80 bilhões, conforme o site Investidor 10.
As operações compromissadas do Banco Central significam remuneração da sobra de caixa diária dos bancos, com o argumento defendido pelo mercado de regular a liquidez e a oferta de moeda. O BC vende um título para um banco com o compromisso de recomprá-lo. A operação tem um prazo curto, geralmente um dia, e é revertida no dia seguinte quando o título é recomprado/revendido, com os juros acordados.
De 2003 a 2022, segundo o Tribunal de Contas da União, o custo dessas operações diárias ao Banco Central foi de R$ 1,15 trilhão. Segundo as demonstrações financeiras do BC, em 2023, a despesa com Compromisso de Recompra (juros) foi de R$ 156,8 bilhões e, em 2024, R$ 153,2 bilhões.
Para completar, essa operação é incluída no cômputo da dívida pública federal. Quanto mais essas operações o BC realiza, mais a dívida pública é afetada.