GERALDO HASSE / JÁ 40 ANOS

Algumas vezes brinquei com Elmar Bones quando ele voltava animado de um almoço com alguma figura importante do Rio Grande do Sul. Após ouvi-lo comentar a perspectiva de fazer uma grande matéria que talvez abrisse as portas para uma série histórica de reportagem ou até um livro, como tantos feitos por JÁ Editores no século XXI, eu lhe perguntava se, findo o papo, não houve clima para colocar na mesa o tema crucial da sobrevivência da imprensa alternativa. “Pra tratar disso seria necessário um segundo encontro… e depois outro”, ele dizia, certo de que um jornalista de verdade não pode carregar também, além do caderninho de anotações ou do gravador, um talão de nota fiscal. Era uma brincadeira com certo fundo de verdade.

A imagem do dublê de repórter/corretor de reclames é exagerada, especialmente na imprensa alternativa, mas vale aqui como ilustração do dilema do jornalista autônomo ou independente que precisa fazer das tripas coração para sobreviver ou, na velha metáfora futebolística, bater o escanteio e correr pra cabecear. É impossível fazer as duas coisas ao mesmo tempo, pois sabemos que boas ideias não remuneram o capital. Prevalece a picaretagem.

Todos nós estamos cansados de saber que não é fácil arranjar aliados e que poucos, muito poucos se dispõem a apoiar projetos editoriais de longo prazo. Sem parceiros, la nave no va. E aqui estamos vendo o JÁ peludiando pra se manter vivo.  E lá se foram 40 anos.

Façamos um exercício rápido de memória: quantas organizações genuinamente jornalísticas se mantêm vivas no Brasil? A maior parte sucumbiu ou está acuada economicamente nesse momento de transição tecnológica.

O JÁ faz parte de um grupo de blogues e sites nanicos que sobrevivem basicamente graças ao apoio de leitores, mas cabe lembrar que resta outro caminho possível para sustentar o jornalismo tal como foi ensinado nas faculdades e praticado em boas casas do ramo: é o cooperativismo, o único capaz de unir jornalistas, artistas, publicitários, acadêmicos, anunciantes e leitores na busca democrática de um mundo mais igualitário, sustentável e feliz.

Neste momento em que o fascismo bate nas portas ameaçando banir os direitos fundamentais, me apraz lembrar a experiência da Coojornal, fundada em agosto de 1974 por algumas dezenas de jornalistas e logo incorporando centenas de associados dentro e fora do Rio Grande.

Sim, nossa cooperativa teve dissenções internas mas faliu mesmo por ação da ditadura militar, que coagiu o mercado a deixar de apoiar aquele modelo singular de negócio. Agora que estamos sob o jugo das grandes plataformas tecnológicas inspiradas pelo ideário neoliberal, creio portanto que faz sentido pensar em formas cooperativas de criação e debate de informações e ideias.