Mino Carta, mestre de todos nós

Mino Carta não gostava de ser chamado de mestre, mas ele não foi outra coisa senão o grande mestre de duas gerações de jornalistas brasileiros, entre os quais orgulhosamente me incluo.

Tinha 24 anos, era um “foca” provinciano quando o conheci, em São Paulo, no curso da Editora Abril, em 1968. Ele formava a equipe que ia fazer a Veja.

Lembro de sua figura elegante, um Mastroiani, rumo à sua sala no fundo da redação, no sexto andar Abril, onde ele reuniu uma seleção de editores de primeira linha: Sérgio Pompeu, Luís Garcia, Renato Pompeu, Sebastião Gomes Pinto, Leo Gilson Ribeiro, José Ramos Tinhorão, Carmo Chagas, Geraldo Mayrink, Ulisses Alves de Souza, Bernardo Kuscinsky, Roberto Muggiatti, Henrique Caban… Mino Carta regia aquele grupo, brilhante e heterogêno, com  maestria. Não era diretor de ficar no gabinete dando ordens. De portas abertas, discutia em voz alta, as vezes italianamente aos gritos, raramente perdendo o humor. Acompanhava todo o processo, da reunião de pauta ao fechamento. Em cima de sua mesa tinha sempre os diagramas, onde ia desenhando página a página da revista.

Fiquei quatro anos na Veja e posso dizer que ali me formei. Com Mino e aquele grupo, percebi o jornalismo, com suas responsabilidades, seus riscos e suas ilusões.

Não tínhamos proximidade e, nos últimos anos, nos encontramos esporádicamente. A última vez que fui a São Paulo, em julho, ele já não recebia visitas.

Como profissional, porém, acompanhei-o sempre, como uma referência segura e inspiradora, que ele foi e será sempre para todos os que exercem esse difícil e espinhoso ofício de “informar o que acontece”.

(Texto que escrevi a pedido do meu amigo Luís Augusto Fischer para a revista Parêntesis)