O risco de guerra aberta na América Latina

HENRIQUE CASANOVA*

Sob o pretexto de combater o narcotráfico, os Estados Unidos decidem aumentar sua presença militar na América Latina.

A manobra visa reforçar sua dominância e influência em territórios tradicionalmente vassalos. O movimento
ocorre, porém, com políticas extremadas com as quais precisamos tomar muito cuidado.

Caça a Nicolas Maduro
Trump coloca a cabeça de Nicolas Maduro literalmente a prêmio, num episódio de relações internacionais que beira o absurdo para as tradições latinoamericanas.

As razões dessa tensão são, porém, há muito conhecidas. A Venezuela reúne dois fatores que a colocam em irremediável rota de colisão com os Estados Unidos: primeiro, ela possui as maiores reservas de petróleo
do mundo, mais até que a Arábia Saudita ou o Iran; segundo, o setor foi estatizado por Hugo Chaves em 2009 e até hoje as empresas norteamericanas não puderam se apropriar do importante recurso venezuelano.

É famoso o discurso de Trump, em 2023, num comício do partido Republicano na Carolina do Norte, onde ele diz que durante seu primeiro governo a Venezuela estava a ponto de colapsar e ele poderia ter se apropriado do petróleo, criticando o governo Democrata que ainda precisava comprá-lo.

Terrorismo na América Latina
Por outro, os EUA pressionam as legislações do continente, inclusive as do Brasil, a classificar as facções do crime organizado como “Terrorismo”.

Isso não é mero debate técnico. Segundo a lei dos Estados Unidos eles podem “legalmente” fazer intervenções militares em qualquer outra nação se a causa for o “combate ao terrorismo”.

Importante lembrar que mesmo em meio às turbulências do tarifaço ao Brasil, existe um exercício militar do exército norteamericano marcado para novembro na caatinga brasileira. Por que agora?
É interessante pontuar os contextos dessa investida norte-americana contra nosso continente. Lembremos primeiro da retumbante derrota da Otan na Guerra da Ucrânia e de como os EUA parecem finalmente dispostos a cessar o
conflito sem que a Rússia tenha sido fragilizada economicamente.

Já no Oriente Médio, o Imperialismo norte-americano parece ter ficado surpreso com a capacidade destrutiva dos contra-ataques iranianos a Israel, de modo que o cessar fogo não deverá ser quebrado naquele conflito nos
próximos meses e quem sabe anos.
A questão do Taiwan, onde os EUA esperavam poder iniciar uma guerra por procuração contra a China, semelhante ao que fazem na Ucrânia contra a
Rússia, perdeu força em função do Genocídio em Gaza e a ideia de guerra aberta contra a China parece ter sido temporariamente abandonada pela Casa Branca.
É nesse contexto que os EUA voltam-se ao seu quintal, tentando garantir seus interesses na América Latina e, com presença militar, atrapalhar os negócios da China no continente além de, quem sabe, finalmente emplacar as desejadas trocas de regime nos países que tem mostrado maior resistência aos seus interesses (a Venezuela com seu petróleo, principalmente).

*Jornalista e Geógrafo