andres vince
A posse de Michel Temer refletiu uma importante mudança de atitude na política de segurança pública do estado do Rio Grande do Sul. Em dois dias de manifestações pacíficas, duas violentas e desnecessárias repressões policiais.
A primeira repressão só multiplicou o número de pessoas da segunda manifestação. Se na quinta-feira eram centenas, no dia seguinte eram milhares. E a repressão aumentou na mesma medida. Nova saraivada de bombas e balas de borracha, mas, desta feita, foram realizadas prisões. Três perigosas manifestantes foram humilhadas, eletrocutadas e arrastadas pela avenida Perimetral. Mais tarde, uma outra cidadã desavisada, foi prestar queixa da violência policial e recebeu voz de prisão. Seria, no mínimo, hilário, se não fosse real.
Segundo o tenente-coronel Mário Ikeda, comandante do Comando de Policiamento da Capital, “a ação da BM foi natural, com artefatos não letais, exatamente para garantir a segurança dos manifestantes”. Ikeda alega que o uso da força ocorreu porque “um pequeno grupo permaneceu com intuito de permanecer bloqueando a via”. Desviar o trânsito nem pensar, coronel?
Havia a necessidade urgente de desocupar aquela via às 21h de uma sexta-feira? Valeu correr o risco de uma tragédia para que uma minoria de motoristas não fossem importunados, em detrimento de uma maioria que estava expressando sua insatisfação? Quem será responsabilizado se tudo sair do controle? Não há responsáveis, pois tudo é tratado na maior naturalidade, literalmente. O que não dá pra explicar como “natural” é a presença de um agente da polícia militar infiltrado e insuflando os manifestantes a agir com violência. Isso revela uma tremenda má fé.
Porém, sem sombra de dúvida, é uma mudança radical de postura. Até semana passada, haviam ocorrido pelo menos três manifestações sem nenhum tipo de confusão. Por que a BM decidiu agora simplesmente atacar os manifestantes? Falo em ataque porque foi exatamente isso que aconteceu. Não houve o menor aviso, nenhum pedido para desocupar a avenida, nenhum tipo de negociação, que poderia ser facilmente intermediada pela EPTC.
É preocupante que toda imprensa trate o assunto como confronto. Entendo por confronto quando há ataques de ambos os lados. Não houve reação por parte dos manifestantes. A maioria dispersou com as bombas e as balas. Meia dúzia ficou pra fazer jus ao lema “vai ter luta”. E, mesmo assim, policiais também foram feridos. E se a reação fosse maior? Se houvesse contra ataque? E se a BM fosse encurralada pelos manifestantes? O que aconteceria? São perguntas que eu nem quero imaginar a resposta. Mas, parece que o governo estadual e o alto comando da BM, também não. É muita irresponsabilidade, sempre acobertada descaradamente pela imprensa amiga, rápida no gatilho em justificar a ação truculenta. Nossa querida ZH por exemplo, cunhou a intrigante manchete: “Protesto contra Temer tem ação da Brigada Militar com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo”. Parece até que a BM é a atração de alguma festa. Na linha de apoio: “Polícia iniciou ação para desobstruir vias na Cidade Baixa”. Um primor.
O uso de força policial passou de ultimo recurso para primeira medida assim que Temer tomou posse. Parece clara a nova política, afinal, é o governo da união dos gaúchos, e agora, dos brasileiros.
A PM paulista faz escola de repressão na capital dos gaúchos. Disposição parece que já há. Só ficam faltando o efetivo treinado, o equipamento adequado e o salário em dia.