CARLOS CARAMEZ
O meu amigo Dani Boy ou Daniel de Andrade Simões, que faleceu hoje, era um baiano gaúcho muito retado, talentoso fotógrafo e jornalista, que vai deixar muitas saudades e um acervo fotográfico importantíssimo.
Nascido em Rio Real(BA), adotou o Rio Grande do Sul como sua morada definitiva. Casou com a socióloga Carmem Crayd com quem teve os filhos José Daniel e Ana Creyde Simões e depois viveu com a historiadora Stela Petrasi, até os dias atuais.
Mudou para Salvador, ainda guri, onde começou a estudar como seminarista, mas devido a sua falta de vocação sacerdotal, foi mandado embora do colégio.
Continuou em Salvador e mais tarde foi trabalhar na Petrobrás, de onde foi expulso por imprimir panfletos do Partido Comunista. Caiu na clandestinidade e se tornou subversivo e militante aguerrido contra a ditadura militar. Acabou preso com armas, dinheiro de um assalto e livros sobre a luta armada, em Alagoinhas(BA), quando iria treinar camponeses para a guerrilha e encontrar o cap. Carlos Lamarca.
Não delatou ninguém, foi muito torturado e ficou preso cumprindo pena no quartel do Barbalho, no quartel de Amaralina e na penitenciária Lemos de Brito, em Salvador. Quando deixou a prisão adotou o nome fictício de “Reginaldo Farias”, para despistar a repressão e saiu clandestino do Brasil. Esteve exilado no Chile, Itália, Dinamarca, Alemanha e França onde estudou fotografia e cinema, em Vicennes, e conheceu Daniel Cohn Bendito, ” o vermelho”, líder das manifestações de maio de 68, na Europa. Depois foi para Moçambique, colaborar com a FRELIMO e trabalhar na AIM- Agência de Informações Moçambicana, sob a direção do escritor e poeta Mia Couto, que se tornou seu amigo para a vida toda. Na sua volta ao Brasil, depois da anistia, trabalhou no Amapá com a família Capibaribe e o jornalista Élcio Martins. Aqui no RS fundou a agência “Em Foco”, com os fotógrafos Eduardo Tavares e Pablo Fabian e depois a Gaya Produções Fotográficas com Stela Petrasi.
Trabalhou no Coojornal, Zero Hora e fundou o Jornal Denúncia com Carlos Alberto Kolecza. Também colaborou com os mais importantes veículos da imprensa brasileira.
Fizemos juntos um documentário sobre o sen. Teotônio Vilela, entre outras coisas. Éramos amigos e cúmplices. Daniel usava a máquina fotográfica como uma arma.
Seus clics certeiros e personagens únicos fazem parte da história da luta contra a ditadura brasileira e também retratam o Brasil de hoje, novamente ameaçado pela truculência militar golpista. Como ele gostava de falar, “Yankees Go Home, para sempre”.
A praia de Itapeva, onde ele morava e pescava, entre uma foto e outra, não será mais a mesma, nem continuará preservada e bonita, sem ele por lá. Chefia nós seguiremos juntos. Até…
Foto Mirian Fichtner.