Exposição do Centenário Farroupilha foi o ápice na construção das “bases” históricas e culturais do RGS

Texto: José Francisco Alves

A Exposição do Centenário Farroupilha foi o ápice na construção das “bases” históricas e culturais do Rio Grande do Sul como indissociáveis à herança e ao culto da epopeia farrapa (1835-1845). Desde pelo menos 1879 já havia essa tentativa, à vista da encomenda ao pintor Guilherme Litran para o retrato equestre do Gen. Bento Gonçalves. Em 1891, na Constituição Estadual, houve a previsão de um “monumento à memória de Bento Gonçalves e de seus gloriosos companheiros da cruzada de 1835”. Tal “ligação” das gerações subsequentes com os farroupilhas foi com o tempo sendo construída e instituída. E cada oportunidade, sempre com apoio de pinturas históricas, monumentos e celebrações, foi muito bem aproveitada pelos governantes em suas tentativas de inserção como “herdeiros” da estirpe farroupilha.

PÓRTICO DA EXPOSIÇÃO – Acervo do Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo – Fotografia atribuída a Olavo Dutra/ Divulgação

Porto Alegre, a “Leal e Valorosa”, resistiu bravamente aos

cercos farroupilhas. Porém, já no Centenário da Revolução

(1935) estava impregnada pelo “espírito farroupilha” que todos os sul rio-grandenses passaram a encarnar. Assim, a cidade envolveu-se totalmente na realização de uma exposição fantástica, capitaneada pelo Comissário Geral da Exposição, o prefeito Alberto Bins. O comissariado foi integrado também por Mário de Oliveira (Secretário-Geral), A. J. Renner (Seção da Indústria), Dario Brossard (Pecuária) e Walter Spalding (Cultura).

Para o evento, ergueram-se na Redenção pavilhões temporários. O principal foi o Pavilhão da Indústria Rio-grandense, com nada menos que 230m de frente, 60de profundidade e 14.040m2 construídos. Entre os demais, os pavilhões da Indústria Estrangeira, Agricultura do RS, Inspetoria Federal das Estradas de Ferro e Estrada de Ferro Centra do Brasil, Viação Férrea do RS e Departamento Nacional do Café. Dos estados, os pavilhões de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná, Pernambuco e Pará.

Houve também inúmeros estandes de serviços, diversões e entretenimento, como o suntuoso Cassino. Todos os pavilhões foram realizados sob a mesma influência de linguagem arquitetônica, numa interessante utilização local do art déco, o estilo moderno que teve sua divulga-ção mundial em 1925, com a “Exposition internationale des arts décoratifs et industriels modernes”, em Paris. Nesse sentido, destaca-se a articulação e a coordenação para que tal unidade estilística fosse orientada como o padrão da exposição farroupilha, dado que os projetistas dos pavilhões não foram os mes mos. À noite, os estandes e atrações possuíam uma iluminação de alto destaque, algo jamais visto na capital. Das demais construções, a mais icônica foi o pórtico monumental. Também foram edificados um auditório com concha acústica, restaurante, casa da vispora, “Casa do Gaúcho” e parque de diversões. Em frente à Rua Santana, havia o canódromo (corrida de cães).

Pavilhão Cultural da Exposição do Centenário Farroupilha 1935 – In Relatório de Alberto Bins 1936/ Divulgação

Também monumental, foi a exposição de animais de nossa agropecuária, uma “mini-Expointer” em plena Redenção. O Pavilhão Cultural foi reali-

zado no único prédio edificado para ser permanente e para abrigar, após a Exposição do Centenário Farroupilha, uma escola pública modelo, o hoje Instituto de Educação Flores da Cunha.

Sua entrada dava-se diretamente pela Av. Osvaldo Aranha, com ingresso próprio. A seção de artes plásticas do pavilhão foi uma das maiores exposições de arte já realizadas em Porto Alegre. Somente na Seção de Pintura, participaram 780 trabalhos.

Aquele contexto do Centenário Farroupilha tomou conta da cidade, influindo na autoestima local, sendo o mais grandioso evento que Porto Alegre já teve, proporcionalmente, a considerar o tamanho da capital à época, com estimados 313.500 habitantes.

Nas comemorações de 1935 houve uma onda de monumentos, em grande número de municípios gaúchos. Para o ambiente do Campo da Redenção, na oportunidade batizado de Parque Farroupilha, também monumentos foram inaugurados. Infelizmente, este significativo legado em forma de arte encontra-se hoje semidestruído, em farrapos. A principal obra foi a estátua equestre de Bento Gonçalves, encomendada a Antonio Caringi.

Esse monumento, em 1940, foi transferido para a Av. João Pessoa, junto à Praça Piratini. Com os anos, paulatinamente esta obra, realizada na Alemanha os

bronzes, foi esquecida por autoridades e sociedade. Foi completamente abandonado, furtadas peças e emporcalhado: uma vergonha à memória farroupilha é o que resta do monumento dedicado aquele que foi um dos mais destacados sul rio-grandenses, o Gen. Bento Gonçalves.

Vista geral da Exposição do Centenário Farroupilha 1935 – Foto do Acervo do Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo – Fotografia da Casa do Amador/ Divulgação

A história da Exposição do Centenário Farroupilha encontra-se em exibição na Casa da Memória Unimed Federação/RS, com a exibição de fotografias dos pavilhões, maquete do pórtico, obras de artistas da organização do Pavilhão Cultural e outros itens relativos ao evento.

Pavilhão da Indústria Estrangeira 1935 – Foto do Acervo do Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo atribuída à Foto Becker/ Divulgação

Também haverá mesa redonda sobre arquitetura e história, bem como uma visita orientada ao Parque Farroupilha. Trata-se de oportunidade de conhecer um evento que distancia-se no passado, é tratado com lendas e equívocos de interpretação e, por isso, precisa ser devidamente lembrado. Seu maior legado foi definitivamente fazer do Campo da Redenção um parque público, cujos primeiros elementos do anteprojeto de Alfred Agache, elaborado em 1928, foram construídos para a Exposição do Centenário Farroupilha.

O Pavilhão Cultural foi realizado no único prédio edificado para ser permanente e para abrigar, após a Exposição do Centenário Farroupilha, uma escola pública modelo, o hoje Instituto de Educação Flores da Cunha.

sábado A Exposição do Centenário Farroupilha

completa 90 anos

Encerramento da Exposição do Centenário Farroupilha em Relatório de Alberto Bins no ano de 1936

CP MEMÓRIA

 

“Exposição 90 de 35 – Arte,

História e Arquitetura na Exposição do Centenário Farroupilha

Curadoria de José Francisco Alves e Marco Aurélio Bier-

mann Pinto.

Visitação de segundas a sex-

tas, das 13h às 18h. Até dia 24 de outubro.

Casa da Memória Unimed Federação/RS. rua Santa Tere-

zinha, 263,