O Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), instituição vinculada à Secretaria de Estado da
Cultura (Sedac), deu início ao plano de recuperação de danos causados pela tragédia climática que
assolou o Estado no mês de maio. A operação, conduzida por especialistas — entre eles
restauradores e conservadores —, envolve o resgate e o salvamento de obras, patrimônio e
documentos afetados pela água e pela umidade, além do restabelecimento das redes elétrica,
hidráulica e do sistema de climatização.
“Salvamos grande parte das obras, incluindo aquelas consideradas entre as mais afamadas e
lembradas, antes mesmo da água chegar à Praça da Alfândega. Mas, em termos de patrimônio, todas
as obras de um acervo são igualmente importantes. E essa operação que vem sendo conduzida por
especialistas nos garante agir com precisão e expertise, nos métodos e procedimentos de salvamento
e recuperação”, pontua o diretor-curador do MARGS, Francisco Dalcol, lembrando que uma
força-tarefa trabalhou na movimentação de centenas de peças e itens do Museu até o momento de
evacuação do prédio, na tarde de 03 de maio.
Apesar dos esforços da equipe e em virtude do grande volume de água que se acumulou na Praça da
Alfândega — no interior do térreo do MARGS, a medição chegou a 2 metros de altura —, a enchente
alagou o térreo da instituição, impactando diretamente o seu mobiliário, equipamentos,
documentos administrativos e obras do acervo em papel, entre gravuras, fotografias e desenhos.
Segundo Dalcol, a prioridade, neste momento, é atuar na estabilização dessas obras:
“Tudo está sendo tratado e restabelecido. Nos casos em que for necessário, e considerando
especificidades de tipologia e características das obras, elas serão restauradas ou ganharão novas
impressões”, ressalta.
O plano de recuperação de danos está sendo coordenado pela conservadora e restauradora Isis
Fófano Gama, do Departamento de Conservação e Memória do Patrimônio Cultural do Complexo
do Palácio Piratini, com a consultoria e atuação de Naida Corrêa, restauradora e conservadora que
atuou por 24 anos no MARGS.
A equipe é formada por funcionários do Museu, do Palácio, colaboradores da Sedac e externos. Professores e alunos do curso de Conservação e Restauro de
Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), e integrantes da Associação para
a Preservação do Patrimônio das Américas (APOYOnline) também auxiliam nos trabalhos.
“Nosso sentimento, neste momento, é de ambivalência, pois ao mesmo tempo que estamos tristes
por tudo o que aconteceu no nosso Estado, ficamos felizes quando nos deparamos com tantas
pessoas e instituições dispostas a ajudar nesse recomeço. Nossa parceria com a UFPel, por exemplo,
vem desde 2019, e esse comprometimento e disponibilidade da instituição são fundamentais para
que consigamos passar por esse momento sensível com a certeza de que o resultado será exitoso”,
avalia a secretária da Cultura Beatriz Araujo.
Diagnóstico e reconstrução
As equipes técnicas do Departamento de Memória e Patrimônio (DMP), do Sistema Estadual de
Museus (SEM) e do MARGS foram as responsáveis por mapear os impactos do desastre
meteorológico no Museu. Além das obras em papel guardadas em mapotecas — grandes gavetas
metálicas para armazenagem de obras em papel —, a água e a umidade atingiram as
documentações administrativas e do acervo, o estoque de publicações e os catálogos.
Agora, as obras estão no processo de secagem e estabilização. Posteriormente, caso necessário, elas
serão restauradas. Os próprios espaços expositivos do MARGS foram adaptados para dar lugar a
essa operação, como um grande laboratório. Já os documentos atingidos foram removidos do
prédio e congelados, para posterior procedimento de limpeza e restabelecimento.
A estrutura operacional do Museu, que também funcionava no térreo, foi igualmente
comprometida. São computadores, equipamentos, mobiliários, recursos e materiais de trabalho e
exposições. E ainda: partes das instalações elétrica, hidráulica, de lógica, telefonia, do sistemas de
climatização e do circuito interno de câmeras — tudo passará por uma vistoria rigorosa e voltará a
funcionar somente quando tiver operando em segurança.
O futuro do MARGS
Não há previsão para reabertura do MARGS ao público. A médio e longo prazo, o Museu passará
por uma ampla reorganização interna de seus espaços, que envolverá realocação das atividades e
funções que ocorriam no térreo. Um exemplo é a reserva técnica no cofre, que deverá ser
transferida para os andares superiores, como já funcionam as duas torres do terraço adaptadas e
climatizadas para esta finalidade.
Criado em 1954 e funcionando no prédio histórico tombado desde 1978, o Margs tem um um acervo
com mais de 5.700 obras desde a primeira metade do século 19, de diferentes linguagens das artes
visuais, incluindo ainda pintura, escultura, cerâmica, arte têxtil, objeto, instalação, arte digital, vídeo,
filme e design. Esse conjunto é composto por arte brasileira, com ênfase na produção de artistas
gaúchos, e também por obras de artistas estrangeiros. Ao final de 2022, o prédio havia passado por
reforma arquitetônica e ganhado pintura e novo sistema de climatização.