Primeiro clássico do escritor e poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe, Os sofrimentos do jovem Werther (publicado em 1774) ganha versão adaptada do coletivo Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta FavelA…. O espetáculo estreia nesta sexta-feira, dia 22 e segue em temporada nos dias 23 e 30 de novembro; e 07 e 14 de dezembro, na Sala 1 da Casa de Descentralização da Cultura – KZA D (rua Santa Terezinha, 711), sempre às 20h. A montagem contou com recursos do Edital Bolsa Funarte de Apoio a Ações Artísticas Continuadas 2024 e do Edital Sedac/LPG nº 10/2023. Por isso, as sessões dos dias 22 e 23 ocorrem com entrada franca. Nas demais datas, os ingressos custam R$ 60,00.
Romance epistolar (narrado através de cartas), a obra aborda o tema da impossibilidade do amor e se tornou o marco inicial do romantismo na Europa, desencadeando a fama de Goethe. Na adaptação realizada pelo grupo gaúcho, a dramaturgia segue a linha principal do roteiro original, mas desmonta a lógica do texto e traz à tona questões como o feminismo, a solidão, a busca do indivíduo pela liberdade de usufruir de sua vida em meio ao sistema em que está inserido, e a própria função do artista na sociedade.

O processo de montagem de Os sofrimentos do jovem Werther, que foi concebido com direção coletiva, iniciou em janeiro deste ano e esteve inserido no contexto da oficina Teatro de Vivência, ministrada pelas atrizes Danielle Rosa, Pâmela Bratz e Ketelin Abbady, que integram o coletivo e estão no elenco, formado ainda por outros dois integrantes do grupo – Sandro Marques e Thomaz Rosa –, além de Marco Olgini – este, remanescente da oficina, que contou com 20 participantes.
Na trama, o jovem pintor Werther nutre uma paixão devastadora por sua amiga Charlotte, sem poder fazer nada além de sonhar. Colocada pelo coletivo teatral como ponto central da narrativa, a personagem é noiva do advogado Albert e pivô de uma comovente história de sofrimentos na burguesia da Civilização Ocidental. No decorrer do enredo, Werther termina por se desesperar e passa a apresentar-se como irracional e suicida: para ele, a vida só tem sentido com sua amada. Charlotte, por sua vez, fica dividida entre os dois homens, mantendo o compromisso com aquele a quem foi prometida em casamento, mas sentindo uma grande afinidade pelo amigo.

Ao mesmo tempo em que segue o papel imposto pelo patriarcado, a protagonista do espetáculo se revela – no íntimo – dona de si e de seus desejos. “Nos demos conta que não tinha como falar do homem no papel central, mas sim da mulher, que sempre está à mercê, subalterna, numa posição que não é justa para ela”, pontua Danielle. A atriz destaca que, na peça, surgem outras personagens femininas que também arcam com opressão em outras posições. “É importante e necessário falar desta relação de como foi antes de nós, com nossas avós, nossas bisavós; é nossa bandeira de amor livre, da não-monogamia, da liberdade sexual, de culto, de trabalho, da mulher não se submeter”, sinaliza. “Por outro lado, o personagem Werther é, de forma metafórica, a representação das pessoas que se apaixonam e sonham, vivendo em um mundo que clama por transformação – que é o nosso caso, como artistas que buscam isso através do teatro”, emenda.
Trabalhando há 16 anos com temas que sirvam de terreno fértil para a discussão de seus anseios, o grupo Levanta FavelA… bebe nas fontes do Teatro do Absurdo, do Teatro da Crueldade (de Antonin Artaud), do Teatro Épico (de Bertolt Brecht) e do Teatro do Oprimido (de Augusto Boal). No caso da atual montagem, o coletivo investe nas duas primeiras linguagens para, no decorrer de dez cenas, apresentar uma dramaturgia densa, lírica e essencialmente psicológica, ao mesmo tempo em que celebra e insere na cena referências de matriz afro, com ênfase em Cosme e Damião, duas divindades da Umbanda protetoras das crianças.

“Ainda que sempre com uma pitada de contemporaneidade e nonsense, gostamos de buscar nos clássicos a inspiração para falar de nossas inquietações”, revela Marques. “Vínhamos, há algum tempo, abordando a temática da saúde mental em nossas discussões em grupo, a partir do evento da pandemia de Covid-19, que impactou muitas pessoas nesse sentido”, ressalta o ator, ao se referir sobre o tema do suicídio, visto até hoje, pela maioria das pessoas, como controverso.
Os sofrimentos do jovem Werther
Direção coletiva
Datas: 22/11, 23/11, 30/11, 07/12 e 14/12
Horário: 20h
Local: Casa de Descentralização da Cultura – KZA D (Santa Terezinha, 711)
Ingressos*: R$ 60,00
*entrada franca somente nos dias 22 e 23 de novembro
FICHA TÉCNICA
Elenco: Sandro Marques, Danielle Rosa, Pâmela Bratz, Ketelin Abbady, Thomaz Rosa e Marco Olgini
Iluminação: Alexandre Malta
Sonoplastia: Ricardo Padilha
Contrarregragem: Antônia Alonso
Cenário: o grupo
Produção: o grupo
Sobre a Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta FavelA…:
Coletivo criado em 2008, em Porto Alegre, com Teatro de Rua, Teatro de Vivência e Intervenções Cênicas. Com forte engajamento com movimentos sociais, o grupo coloca na sua estética e linguagem a discussão política sobre questões atuais e pertinentes ao contexto social contemporâneo, fazendo da cultura uma ferramenta de discussão social. Ao longo de sua trajetória, realizou 16 espetáculos: Margem Abandonada Medeamaterial Paisagem com Argonautas, Tebas, O Beijo no Asfalto, Lua de Mel em Buenos Aires A Mulher Crucificada O Beijo da Besta, Malone Morre, A Babá e o Iceberg, Em Busca de Christa T, O Canto da Terra, A Árvore em Fogo, Futebol, nossa Paixão, A Belíssima Fábula de Xuá-Xuá A Fêmea Pré-Humana Que Descobriu o Teatro, Sepé: Guarani Kuery Mbaraeté!, Populares Temem Invasão das Salsichas Gigantes, Manual do Guerrilheiro Urbano, Maria Suas Filhas e Seus Filhos e Don Juan.
