Plataforma digital revela legado do fotógrafo Jacob Prudêncio Herrmann com cenas históricas do RS

Chalé da Praça XV - Bonde/ Divulgação

Um olhar que atravessa o tempo: as cidades, seus habitantes e seus silêncios registrados por uma lente sensível e apaixonada. É isso que o público poderá descobrir com o lançamento do projeto “Jacob Prudêncio Herrmann – O Olhar Revisitado”, que traz à luz mais de 1.000 fotografias inéditas feitas entre as décadas de 1930 e 1940 por um fotógrafo amador que, com sua câmera Zeiss-Ikon, eternizou cenas da vida urbana e do cotidiano em Porto Alegre, Litoral Gaúcho e Catarinense, além de outras cidades do Rio Grande do Sul

A iniciativa culmina na criação de uma plataforma digital pública e gratuita, onde as imagens serão acompanhadas de contextos históricos e interpretativos. Mais do que um resgate visual, o projeto propõe uma releitura de uma Porto Alegre distante, revelada pelo olhar atento e artístico de Jacob Prudêncio Herrmann.

O lançamento oficial acontece no dia 24 de abril, quinta-feira, às 18h30min, no Museu da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre. O evento marcará a primeira exibição pública da plataforma, permitindo ao público explorar virtualmente o extenso acervo fotográfico de Herrmann, cuidadosamente recuperado e organizado ao longo dos últimos meses.

Viaduto da Borges . Crédito Jacob Prudêncio/ Divulgação

Com curadoria e coordenação de pesquisa de Jorge Herrmann, artista visual e neto do fotógrafo, o projeto representa um marco para a preservação da memória urbana e da arte fotográfica gaúcha. Financiado com recursos da Lei Paulo Gustavo, por meio do Ministério da Cultura e da Secretaria de Estado da Cultura do RS, “Jacob Prudêncio Herrmann – O Olhar Revisitado” é uma oportunidade única de revisitar um passado quase esquecido — e, ao mesmo tempo, redescobrir a força documental e estética da fotografia.

Jacob Prudêncio Herrmann ficou conhecido por sua capacidade de capturar, com sensibilidade e rigor, aspectos do cotidiano e da transformação urbana. Embora tenha sido um fotógrafo de fins de semana, devido à sua rotina profissional, isso jamais limitou seu olhar. “Jacob era um fotógrafo de fins de semana, pois o seu trabalho impunha esta condição. Porém, isso em nada pareceu tê-lo limitado, pois tinha o dom do memorialista, que sabe estar fotografando uma realidade que precisa ser documentada”, destaca Jorge Herrmann.

Homens empoleirados acompanhando algum evento (talvez próximo ao Lago Guaíba)/Divulgação

E completa: “Foi registrando tipos humanos, costumes, eventos históricos, paisagens e fatos do dia a dia com uma sensibilidade surpreendente para um homem cujo cotidiano durante os dias de semana era bem outro. Talvez Jacob não tivesse exatamente essa ideia a seu próprio respeito, mas ao analisar suas fotografias, não consigo deixar de pensar que se tratava, mesmo, de um sensível artista.”

Lago Guaíba – Margem e cais ao fundo/Divulgação

Agora, esse legado se torna acessível a todos, abrindo janelas para uma Porto Alegre de outros tempos — uma cidade que pulsa nas imagens de Jacob, entre bondes, ruas de pedra e céus cruzados pelo Zepellin. Uma cidade viva, que volta a respirar pela força da memória e da arte.

A fala de especialistas

O acervo fotográfico de Jacob Prudêncio Herrmann é uma rica fonte para refletir sobre a evolução da cidade. O arquiteto Analino Zorzi, que integra a equipe de pesquisadores, destaca os aspectos arquitetônicos e urbanísticos mais marcantes que percebeu nas imagens analisadas e que ajudam a compreender o crescimento de Porto Alegre no final do Século XIX e início do XX: – Na variedade de imagens clicadas por Jacob Prudêncio Herrmann percebemos claramente os diversos momentos, com características distintas, da paisagem urbana e dos estilos arquitetônicos. Conseguimos acompanhar o que foi se desenvolvendo na cidade de Porto Alegre. O registro e a divulgação destas imagens colaboram com a conscientização do valor cultural que deve ser conferido às ações humanas. Esta produção cultural contribui indelevelmente para reforçar a compreensão de que somente pelo conhecimento e entendimento do passado, construiremos o futuro desta produção cultural, reforça.

Centro – Andradas / Divulgação

Jacob Prudêncio Herrmann foi um dos membros mais assíduos do Photo-Club Helios. A pesquisadora Luzia Rodeghiero, analisa o envolvimento dele com a fotografia na época e o seu papel dentro desse ambiente fotoclubista.  – Jacob era contador de profissão e sua presença foi constante nas reuniões do Photo-Club Helios, no período analisado. Acredito que sua qualificação e habilidade técnica em realizar os serviços contábeis para seus clientes contribuíam para seu perfil metódico e extremamente organizado como fotógrafo amador. Em cada um dos envelopes em que armazenou os negativos de vidro de sua produção, ele registrou os dados técnicos das fotografias, como o tempo de exposição, a abertura do diafragma da câmera, o horário em que fotografou, local e data, revela Rodeghiero.

Segundo a pesquisadora, essas características se uniam à grande sensibilidade de Herrmann para pensar e estudar as formas e os recursos técnicos necessários para capturar o instante que percebeu nas cenas que eternizou em fotografias. – Seu talento artístico, aliado ao conhecimento que era compartilhado e obtido nas reuniões do Helios, além de garantir a criação de imagens memoráveis, foi uma força persistente que contribuiu para a sobrevida do fotoclube até o limite imposto pelas circunstâncias que levaram à sua extinção, destaca Rodeghiero.

Morro Ricaldone – Delta do Jacuí/Divulgação

Kátia Becker Lorentz, responsável pela pesquisa histórica sobre processos fotográficos, ressalta “a qualidade, a escolha, a composição das imagens e a sensibilidade extrema em tudo que fotografou. Tem imagens que parecem pura poesia”, ressalta. Segundo ela, as imagens do acervo do Jacob Prudêncio Herrmann mostram uma Porto Alegre que já não existe mais, mas que pode ser conhecida através dos registros que ele deixou. – As cidades são desde muito o centro da vida econômica, política e social de uma comunidade. As fotografias de Jacob e suas relações com a cidade ajudam a compreender a história e a evolução urbana nas suas mais diversas funções, morfologia e tipologias. Possibilitam a visualização do espaço urbano, seus habitantes e seus costumes ao longo do tempo em que Jacob registrou suas imagens, afirma.

Meninos negros – Autoria duvidosa/ Divulgação

As museólogas Eroni Rodrigues e Isabel Ferrugem realizam o trabalho de indexação, catalogação e pesquisa do acervo fotográfico e documental de Jacob Prudêncio Herrmann. Para Eroni Rodrigues, os registros fotográficos de Jacob Prudêncio Herrmann se constituem em testemunhos das transformações ocorridas em diversos setores da sociedade, principalmente, da cidade de Porto Alegre. – Suas fotografias nos revelam uma cidade com as suas mais variadas nuances – costumes locais, crescimento da malha urbana, catástrofe climática, etc. E, dessa maneira, por suscitarem memórias de um passado, o acervo fotográfico representa uma valiosa fonte primária de informações, opina Eroni.

Agora, com o lançamento da plataforma digital, o olhar de Jacob Prudêncio Herrmann encontra novos olhos. Suas imagens, antes guardadas em negativos e álbuns familiares, ganham o mundo — oferecendo não apenas um registro visual do passado, mas uma ponte sensível entre gerações.

FICHA TÉCNICA:

 

Tommaso Mottironi: digitalização do acervo.  geração do website. diagramação e design gráfico de impressos.  acondicionamento do acervo.  produção executiva.

Jorge Herrmann: digitalização do acervo.  coordenação interdisciplinar.  curadoria. pesquisa estética do acervo. palestrante no evento de lançamento.

Eroni Rodrigues e Isabel Ferrugem: pesquisa museológica.  indexação, reorganização e catalogação do acervo.

Luzia Costa Rodeghiero: pesquisa histórica sobre o fotoclubismo.

Analino Zorzi: pesquisa arquitetônica sobre evolução urbana.

Kátia Becker Lorentz: pesquisa histórica sobre processos fotográficos.

José Nilton Teixeira: roteiro e locução de audiodescrição.

Silvia Mara Abreu: assessoria de imprensa .  plano de divulgação .  entrevistas.  clipping .

Carolina Marzulo e Ana Vieira: gestão de divulgação em redes sociais.

Claudia Herrmann e Jeff Minchef: organização e apresentação do projeto em escolas públicas de Porto Alegre.