Texto: Higino Barros- Fotos: Tânia Meinerz
O quadrinista e cartunista carioca Ota esteve em Porto Alegre no início dessa semana e retornou ao Rio de Janeiro, onde mora, na quarta-feira. Ele veio à capital gaúcha para tratar de uma versão para o cinema do documentário a ser feito sobre uma obra sua impressa, o “Relatório Ota do Sexo”, de 2010. Que ele define como “um documentário maluco, que mistura Roger Rabbit com documentário do History Channel, vozes de dubladores famosos e de Relatório Ota”.
Otacílio Costa d’Assunção Barros, o Ota, está com 64 anos, é referência entre seus pares, já que foi editor responsável e um dos autores mais cultuados da versão brasileira da revista humorística Mad. Atualmente ele faz um trabalho independente, longe das grandes editoras, mas igualmente mordaz como no passado. Tanto na internet como em edições impressas. Seu público tem a média de 35 a 45 anos, mas ele diz que com novos personagens como “A garota bipolar” está formando leitores das novas gerações.
A Mad era uma espécie de Bíblia do quadrinho norte-americano dos anos 1970. A edição brasileira nasceu em 1974, pleno período de censura e ditadura militar. Optou por um humor iconoclasta, irreverente e calcado em comportamento, em vez do humor político vigente na época, que tentara furar a barreira rígida da censura. É comum para ele ouvir depoimentos de pessoas que dizem que foram influenciados na profissão de desenhista de quadrinhos graças à Mad.
Para celebrar a estadia dele em Porto Alegre, cartunistas gaúchos, da Grafar, entre eles, Leandro Bierhals , o Bier, Edgar Vasques, Santiago, Fábio Zimbres e outros, se reuniram na terça-feira, no bar Parangolé, na Cidade Baixa. Na oportunidade Ota falou com a reportagem do JÁ.
Pergunta: O que viestes fazer em Porto Alegre?
Resposta: Vim para uma reunião sobre uma versão de um documentário que será feito, um documentário maluco, que mistura Roger Rabbit com documentário do History Channel, vozes de dubladores famosos e do Relatório Ota. Vai ter animações, entrevistas com pessoas falando sobre taras sexuais. Por falar nisso, quem quiser participar é só nos procurar nas redes sociais. Vai ter mulheres falando que traem maridos, velhinhas relatando como era no tempo delas, que só podia transar na moita. Espero que esse filme vá causar, como se diz hoje…
Pergunta: Os leitores de quadrinhos lembram do teu trabalho na Mad. Fale um pouco disso:
Resposta: A Mad não existe mais no Brasil, no Estados Unidos continua saindo. Há dez anos me afastei da revista, em 2008. Mas fiquei 38 anos trabalhando nela e foi onde publiquei o Relatório Ota, que me tornou conhecido no País. Eu falava de sexo, drogas, ecologia, energia nuclear, qualquer assunto da moda, da época virava tema de relatório.
Pergunta: Há quanto tempo está na profissão? E o como vê a cena do quadrinho brasileiro hoje, com o advento das redes sociais?
Resposta: Estou em atividade há 49 anos, vou completar 50, já que comecei bem cedo. Com a internet a gente abrange um número maior de leitores. Antes era preciso comprar uma revista na banca. Esse público enorme da internet pode viralizar sua publicação e embora não receba diretamente por isso, crio um público que acaba comprando minhas revistas e publicações impressas. Ando com elas embaixo do braço em feira de quadrinhos pelo País e onde me convidam. Eu já tenho uma certa fama, vender impresso não é tão difícil para mim. Mas para quem está começando agora é um pouco mais complicado. O certo é que o mundo está mudando e a gente tem que se adaptar. É o que estou fazendo.