Em novembro, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping realizarão uma reunião bilateral, no Rio de Janeiro, para marcar os 50 anos de relações diplomáticas entre Brasil e China. Áreas como inteligência artificial, infraestrutura e transição energética compõem a carteira de prioridades do governo brasileiro.
A grande dúvida é se a cereja do bolo do encontro será o Brasil aderir ao “Cinturão Econômico da Rota da Seda e da Rota da Seda Marítima do Século XXI” (Cinturão e Rota). Pela importância do Brasil na América Latina, provavelmente a entrada influenciaria as relações regionais com a China.
As pressões dos Estados Unidos contrárias a adesão do Brasil são perceptíveis. Além da possível adesão à Rota da Seda, o Brasil está no Brics. O principal diplomata da China, Wang Yi, participou esta semana da 14ª reunião dos altos funcionários do BRICS responsáveis por questões de segurança e conselheiros de segurança nacional, em São Petersburgo, Rússia. Ele disse: “Os países do Brics devem promover firmemente a resolução política de questões críticas e respeitar as preocupações legítimas uns dos outros. Eles devem assumir a liderança em falar por justiça e lidar com os assuntos de forma justa no cenário internacional e defender conjuntamente um mundo multipolar igualitário e ordenado e uma globalização econômica universalmente benéfica e inclusiva.”
Atualmente, nota-se uma mudança nas relações do Brasil com a América Latina. A declaração conjunta de Lula com o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, cobrando a divulgação das atas de votação da eleição presidencial na Venezuela, confirma a alteração.
Outro fato foi a expulsão do embaixador do Brasil em Manágua pelo governo da Nicarágua, após o diplomata Breno Dias da Costa não comparecer ao aniversário de 45 anos da Revolução Sandinista. Ele estava no cargo desde o final de 2021, indicação do governo Bolsonaro. Durante sua sabatina no Senado, disse: “o desafio de incrementar o comércio passa antes pela situação política no país. É importante que o Brasil esteja lá para atuar na defesa e na garantia das liberdades democráticas e dos direitos humanos.” A reação do Itamaraty foi expulsar a chefe da Embaixada da Nicarágua no Brasil, Fulvia Patricia Castro Matus.
Parceiro antigo
Em entrevista recente, Lula afirmou que discussões estão em andamento sobre o estabelecimento de uma parceria estratégica de longo prazo com a China. “Temos como objetivo nos tornar uma economia mais forte do que nunca e precisamos buscar parceiros. Nós vamos discutir a ‘Rota da Seda’. Não vamos fechar os olhos, não. Nós vamos dizer: O que é que tem para nós? O que eu ganho? Porque essa é a discussão. Quando menciono a China, não é para competir com os Estados Unidos; em vez disso, quero os EUA e a China como aliados.” E complementou: “China é o maior parceiro comercial do Brasil há 15 anos.” Por enquanto, está aberta a possibilidade.
No entanto, o Brasil já tem negócios de bilhões de dólares com a China. Entre 2007 e 2022, empresas chinesas investiram US$ 71,6 bilhões no Brasil, com o setor de eletricidade absorvendo 45,5% do total, seguido pelas áreas de extração de petróleo (30,4%). A China também é parceira comercial do Rio Grande do Sul com quase US$ 5 bilhões em produtos gaúchos vendidos anualmente. Desde 2008, a China é o primeiro destino das exportações gaúchas.
Entre 2007 e 2020, as empresas chinesas investiram em 176 projetos no Brasil, que recebeu 47% dos investimentos da China na América do Sul. Os números mostram a importância econômica e geopolítica dos chineses na área chamada de “Quintal dos Estados Unidos”, um conceito muitas vezes utilizado em ciência política e nos contextos de relações internacionais para se referir à esfera de influência dos EUA. A China é o desafio geopolítico mais desafiador para o governo estadunidense. Os investimentos chineses em seu “quintal” preocupam e muito os EUA, principalmente com o processo em andamento de multipolaridade global.
Extensão da Rota da Seda
De maneira similar à Rota da Seda original da China (entre 130 a.C. e 1.453 d.C.), inicialmente o Cinturão e Rota visava promover a conectividade entre países asiáticos, europeus e africanos. Contudo, desde a Segunda Reunião Ministerial do Fórum China-CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), em 2018, ficou claro que a América Latina passou a ser considerada uma extensão natural da Rota da Seda. Segundo Wang Youming, diretor do Instituto de Países em Desenvolvimento do Instituto de Estudos Internacionais da China, o comércio da China com a América Latina e o Caribe (ALC) deve crescer 26 vezes entre 2000 e 2035, chegando a atingir US$ 700 bilhões, valores atuais.
Desde que Xi Jinping anunciou a nova Rota da Seda, em 2013, foram feitos fortes investimentos estatais em infraestrutura no exterior. A maior parte dos gastos (estimados em US$ 1 trilhão, ou cerca de R$ 5,06 trilhões) foi concentrada em projetos de transporte, como ferrovias e usinas energéticas.
Indo além de uma expansão meramente geográfica, a iniciativa Cinturão e Rota ganhou novos ares ao longo dos anos com o lançamento da Rota da Seda Digital, da Rota da Seda da Saúde, da Rota da Seda Verde e da Rota da Seda Polar. Suas cinco prioridades são: coordenação de políticas, conectividade de infraestrutura, comércio desimpedido, integração financeira e intercâmbio entre os povos, com mecanismos bilaterais e multilaterais.
Com Agência Brasil, Agência Senado e Global Times