A participação do dólar estadunidense caiu para 56,3% das reservas cambiais globais alocadas entre abril e junho de 2025, o que corresponde a uma queda de 1,5 ponto percentual em relação ao trimestre anterior. Esse percentual é o menor desde 1995, marcando uma mínima histórica de três décadas.
As quedas constantes alimentam um debate sobre se o dólar pode estar correndo o risco de perder seu status de moeda de reserva mundial preferida e o ponto central do sistema monetário global, embora a recente queda tenha ocorrido em grande parte devido a movimentos cambiais e não à venda ativa por parte dos bancos centrais, conforme o relatório de estabilidade financeira divulgado nesta semana pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
O índice DXY — uma medida de referência do desempenho do dólar estadunidense em relação ao euro e às moedas do Japão, Reino Unido, Canadá, Suécia e Suíça — caiu mais de 10% no primeiro semestre do ano, sua maior queda desde 1973.
O dólar desvalorizou 7,9% em relação ao euro no segundo trimestre e 10,6% no primeiro semestre. Ele caiu 9,6% em relação ao franco suíço no segundo trimestre e mais de 11% nos primeiros seis meses, seu pior desempenho no primeiro semestre em relação ao franco em mais de uma década.
Isso significa que, mesmo os bancos centrais não alterando seus portfólios, o valor de suas participações não denominadas em dólares aumentou, resultando em uma diminuição correspondente na moeda norte-americana.
O FMI vem destacando três fontes de vulnerabilidade no mercado global de câmbio que aumentam o risco de choques cambiais e reduzem a previsibilidade da liquidez em dólar.
- Incerteza macrofinanceira, com instabilidade nas políticas monetárias, juros altos prolongados e volatilidade nas expectativas sobre crescimento global;
- Expansão das instituições financeiras não bancárias, como fundos de investimento, fundos de hedge e plataformas de cripto ativos, que atuam fora da regulação tradicional.
- Riscos operacionais relacionados a tecnologia, cibersegurança e liquidez, especialmente em mercados emergentes.
Reservas internacionais
O uso do dólar nas reservas internacionais caiu de cerca de 71% em 1999 para 56,3% em 2025. A China, Rússia, Índia e países do Golfo têm ampliado liquidações em moedas locais, especialmente em comércio de energia. A expansão de ativos digitais e stablecoins também cria rotas financeiras fora do sistema bancário tradicional baseado no dólar.
Os países integrantes do bloco econômico BRICS estão usando moedas nacionais em 65% dos acordos comerciais mútuos. O presidente russo Vladimir Putin alertou que o uso político do dólar por Washington por meio de sanções e negação de acesso dos países ao sistema financeiro ocidental foi um “grande erro” que os forçará “a procurar outras alternativas, que é o que está acontecendo”.
Além disso, o dólar está se desvalorizando porque os fundamentos da economia estadunidense (juros, déficits e dívida) estão pressionados, enquanto cresce o movimento global de diversificação de moedas e ativos.
Em 2020, a participação do dólar nas reservas mantidas pelos bancos centrais já havia caído para 59% — naquele momento o nível mais baixo em 25 anos, de acordo com o levantamento do FMI. Se as mudanças nas reservas dos bancos centrais continuarem, inevitavelmente afetarão os mercados de câmbio e principalmente de títulos do governo dos Estados Unidos.
O alerta do FMI reflete um sistema financeiro global mais complexo, fragmentado e vulnerável, no qual o domínio do dólar está sendo lentamente erodido, não por substituição direta, mas por diversificação de instrumentos e moedas.