A taxa de desocupação de trabalhadores no trimestre móvel encerrado em agosto ficou em 5,6%, repetindo o menor patamar já registrado pela série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. No mesmo período do ano passado, o índice estava em 6,6%. Os dados foram divulgados nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A maior taxa já registrada foi de 14,9%, atingida em dois períodos: nos trimestres móveis encerrados em setembro de 2020 e em março de 2021, ambos durante a pandemia de covid-19, no governo de Jair Bolsonaro.
O país tinha, no final de agosto, 6,1 milhões de pessoas desocupadas, o menor contingente da série. Isso representa 605 mil pessoas a menos na procura de trabalho, em relação ao trimestre móvel anterior, terminado em maio. O número de ocupados chegou a 102,4 milhões. Com esse resultado, o nível da ocupação, que mede o percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar, ficou em 58,1%, se mantendo no nível mais alto da série histórica.
William Kratochwill, analista da pesquisa do IBGE, acredita que a estabilidade é algo recorrente em trimestres de meio de ano, momento de transição entre o período de demissões de temporários contratados para as festas do final do ano anterior e as novas contratações para este ano.
“Pode se dizer que o mercado está acomodado, em um momento de calmaria, se preparando para tomar as decisões para o segundo semestre, quando começam as novas contratações. A Pnad vem mostrando que o mercado está aquecido, resistente à taxa de juros alta. É um momento em que ele está favorável ao trabalhador. Pela ótica do trabalhador, uma taxa de desocupação não aumentar é sempre um bom sinal”, ressaltou.
O número de empregados com carteira assinada também foi recorde e alcançou 39,1 milhões de pessoas, com alta de mais 1,2 milhão em relação ao mesmo período do ano passado. Esse índice deixa claro que o mercado de trabalho está aquecido. Com menor disponibilidade de mão de obra, os patrões são obrigados a oferecer mais benefícios para os trabalhadores, como a carteira assinada.
Ao mesmo tempo, a taxa de informalidade – proporção de trabalhadores informais na população ocupada – ficou em 38%, acima dos 37,8% do trimestre móvel anterior. O mínimo aumento é explicado pelo crescimento do trabalhado por conta própria sem CNPJ, que chegou a 19,1 milhões de pessoas, 1,9% a mais que no trimestre móvel até maio.
Pode ser um sinal de que pessoas estão apostando no trabalho autônomo, como os motoristas de Uber e trabalhadores com menor escolaridade, geralmente nas atividades de comércio e alimentação. “Uma parcela de desalentados (pessoa que não procura emprego por achar que não conseguirá vaga) pode ter migrado, em parte, para a informalidade”, acredita Kratochwill.
Outro sinal de que o mercado está mais favorável aos trabalhadores é que os serviços domésticos foi a única categoria analisada pelo IBGE cujo número de vagas recuou tanto na comparação com o trimestre imediatamente anterior como com igual período do ano passado. Em relação a maio, por exemplo, houve queda de 3% no número de pessoas ocupadas – ou menos 174 mil trabalhando em casas de família, que apresenta características de trabalho análogo à escravidão, uma realidade que persiste no Brasil.
Níveis historicamente baixos
A taxa de desocupação no Brasil atingiu níveis historicamente baixos por uma combinação de fatores estruturais e conjunturais. Entre os principais motivos, destaca-se o mercado de trabalho brasileiro que absorveu trabalhadores em diferentes setores, quatro dos cinco grandes agrupamentos apresentaram resultado positivo. O setor de Serviços fechou o mês com 81.002 novos empregos; Comércio com 32.612; a Indústria 19.098 e Construção Civil ficou com 17.328.
Também o crescimento simultâneo do emprego com carteira assinada e do trabalho por conta própria amplia a ocupação total. Políticas como isenções para a indústria, programas de crédito subsidiado, e incentivos à construção civil e infraestrutura ajudaram a manter o nível de atividade e contratação. Programas sociais como Bolsa Família / Auxílio Brasil também sustentaram o consumo das famílias, aquecendo setores intensivos em mão de obra.
Além disso, a força de trabalho brasileira cresce menos, pois há menos jovens ingressando e mais pessoas saindo por aposentadoria. Isso reduz a pressão de oferta, facilitando quedas na taxa de desemprego mesmo com crescimento moderado da economia.
O rendimento médio real habitual chegou a R$ 3.488 no trimestre até agosto, considerado estável frente ao trimestre até maio, segundo o IBGE. Na comparação com igual trimestre de 2024, houve alta de 3,3%.
Com isso, a massa total de rendimento médio real no ano chegou a R$ 352,6 bilhões, avanço de 1,4% frente ao trimestre até maio e de 5,4% frente ao mesmo trimestre de 2024. Mesmo com o avanço, esse valor mostra que o Brasil é ainda um país com uma brutal concentração de renda.
Já o total da massa dos salários dos Estados Unidos, em 2024, foi de US$ 13,27 trilhões, aproximadamente R$ 70,84 trilhões. É preciso lembrar que apesar do crescimento da produtividade, os salários reais (ajustados pela inflação) para a maioria dos trabalhadores estadunidenses têm crescido muito lentamente desde meados da década de 1970. O salário mínimo federal está fixado em US$ 7,25 por hora desde 2009, sem reajuste há mais de 15 anos.
É surpreendente que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva consiga reduzir o desemprego a cada trimestre com todas as travas criadas pela pressão dos representantes de uma elite neocolonial, participantes do governo de coalizão, como o arcabouço fiscal e meta de inflação, que limitam os investimentos, e a manutenção da taxa básica de juros em 15% ao ano, bem acima dos índices inflacionários, impossibilitando o aumento do volume de crédito mais barato. Todas essas medidas promovem mais concentração de renda. Sem esquecer um Congresso hostil formado em sua maioria por políticos de oposição caricatos e de extrema direita.