O que fazem porta-aviões dos EUA no mar da China Meridional

Os Estados Unidos não enfrentavam uma ameaça à sua liderança mundial desde o fim da União Soviética, em 1991, quando se consolidaram como a única superpotência global. No entanto, a China, discretamente, vem crescendo à base de dois dígitos nos últimos 40 anos. Com a chegada ao poder de Xi Jinping, em 2013, a Casa Branca percebeu o tamanho do problema. Atualmente, presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem pesadelos diários em mandarim.

O programa Made in China 2025, lançado em 2015, prevê bilhões de dólares com o objetivo de transformar o país em uma potência industrial e tecnológica. A chamada Nova Rota da Seda é outro projeto da política externa do presidente chinês, com o objetivo de restabelecer conexões tradicionais por terra da China com outras partes da Ásia, da Europa e além. São cerca de 300 projetos avaliados em US$ 1 trilhão, financiados pelo Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, a instituição financeira multilateral criada por Pequim para fazer frente ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Esse cenário tem provocado movimentos, inclusive bélicos, de ambos os lados. Nos últimos dias, dois porta-aviões dos EUA realizam exercícios no mar da China Meridional. China e Estados Unidos acusaram-se de alimentar a tensão na hidrovia estratégica em um momento de relações tensas sobre tudo, desde o novo coronavírus e manifestações em Hong Kong contra o governo chinês.

Faz tempo que os navios da Marinha dos EUA realizam exercícios no Mar da China Meridional e, recentemente, havia três porta-aviões americanos na região. O mar do Sul da China é dos pontos de atrito mais tensos da Ásia-Pacifico.

Em julho de 2016, um tribunal de arbitragem de Haia decidiu que não havia base legal para a China reivindicar direitos históricos sobre as zonas marítimas naquela área, uma das principais disputas territoriais do sudeste asiático. Um dia após sofrer a derrota na disputa do mar do sul da China, o governo de Pequim ameaçou com a possibilidade de estabelecer uma zona de identificação e defesa aérea na região, provocando mais tensão na área.

Manila levou sua reivindicação ao Tribunal de Haia em 2013, porque Filipinas e China não conseguiram entrar num acordo sobre questão da soberania de grandes áreas do Mar da China Meridional. As disputas no Mar do Sul envolvem diversas ilhas e zonas econômicas exclusivas (mar territorial) entre diversos países da região, como a República Popular da China, a República da China (Taiwan), Filipinas, Vietnã, Brunei e Malásia.

Por trás está uma queda de braço entre os Estados Unidos, e sua principal desafiante no século 21. A China disse que não reconheceria a decisão do tribunal e que ela não seria cumprida. O secretário de defesa dos EUA à época, Ashton Carter, afirmou que a abordagem dos EUA na Ásia-Pacífico continuava de “comprometimento, força e inclusão”, mas ele também advertiu a China contra comportamentos provocativos no Mar do Sul: “Os Estados Unidos continuarão sendo o exército mais poderoso e principal garantidor de segurança da região por décadas a fio – e não deve haver dúvida quanto a isso.”

Segundo o doutor e mestre em Ciência Política, professor de Relações Internacionais, autor do livro China e Rússia no Pós-Guerra Fria, Diego Pautasso, em âmbito regional, estas aparentes ilhotas geram tamanha controvérsia em razão de questões importantes: reservas de 11 bilhões de barris de óleo e 190 trilhões de metros cúbicos de gás natural; rota marítima de extrema importância por onde passa cerca de U$5,3 trilhões de dólares do total anual de comércio do mundo; e alto potencial de exploração dos demais recursos naturais do mar.

O interesse do Ocidente sobre a região vem de muito tempo. A colonização de Macau teve início em meados do século 16, com uma ocupação gradual de navegadores portugueses que rapidamente trouxeram prosperidade a este pequeno território, tornando-o numa grande cidade e importante entreposto comercial entre a China, a Europa e o Japão.

Filipinas e Indonésia foram divididas por Espanha e Portugal em 1529. A divisão entre Malásia e Indonésia deve-se a britânicos e holandeses em 1842. A fronteira entre China e Vietnã foi imposta aos chineses pela França em 1887. As fronteiras filipinas foram decididas por Estados Unidos e Espanha em 1898. A fronteira entre Filipinas e Malásia foi traçada por Estados Unidos e britânicos em 1930.