Ambientalistas convocam ato pela reabertura do serpentário da FZB

Duas espécimes de Cruzeira, do NOPA/ Mariano Pairet

Cleber Dioni Tentardini 
Ambientalistas estão organizando uma manifestação para protestar contra o fechamento da área de visitação das serpentes, o serpentário da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, que completa um ano neste mês de janeiro.
O ato vai acontecer na quinta-feira, dia 25, às 10h30, em frente ao prédio da Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMA), na av. Borges de Medeiros, 261, Centro de Porto Alegre.
Integrantes do Instituto CuricacaMoGDeMA – Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente, InGá Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais e da Comunidade RS organizaram um evento no Facebook para mobilizar a população.

Área de visitação do Serpentário está interditada há um ano/  Cleber Dioni

‘O serpentário é um dos espaços que desperta interesse direto, ainda é muito procurado pelos visitantes da FZB, que ficam decepcionados ao saber que continua fechado, depois de tanto tempo. Isso é um absurdo, o serpentário da FZB não pode ficar fechado para a comunidade gaúcha, porque faz parte da divulgação do trabalho de pesquisa com ofídios, compartilha o conhecimento sobre biodiversidade e trabalha a educação ambiental’, diz o texto do evento.
Na noite de 18 de janeiro de 2017, houve uma tentativa de arrombamento da sala de exposição do serpentário, até hoje não esclarecida. A porta foi danificada e pedras arremessadas contra os abrigos das cobras, mas as grades de ferro impediram o acesso e maiores danos. Desde então permanece fechado. 

As diretorias da SEMA e da FZB já sinalizaram com desinteresse pela reabertura do espaço, inclusive houve uma tentativa frustrada de transferir as serpentes para o Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro.
As cerca de 350 serpentes, de 16 espécies, são mantidas no Núcleo de Ofiologia de Porto Alegre (NOPA), da FZB, que continua em funcionamento.
Juiz Eugênio Terra (de azul) vistoriou em agosto as instalações do NOPA e serpentário /Cleber Dioni

Estado não fornece mais peçonha para produção de soro antiofídico 
Além da interdição da área de visitações, também foi suspenso o envio de veneno das serpentes nativas ao Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro, porque a Fundação Zoobotânica não renovou o convênio com o laboratório carioca, reduzindo a matéria-prima para produção de soro antiofídico fornecido ao Ministério da Saúde, que redistribui aos hospitais do Estado.
A parceria entre FZB e IVB foi firmada em setembro de 2009 e previa, além da remessa de peçonha, um acordo de cooperação técnico-científica permitindo o intercâmbio entre técnicos, bolsistas e pesquisadores das duas instituições.
Público podia acompanhar as extrações de peçonha/Mariano Pairet

A remessa do material ocorria de duas a três vezes por ano, de acordo com a demanda do Vital Brazil.
Veneno sendo extraído de uma serpente do NOPA/Mariano Pairet

“Os venenos das cobras mudam de acordo com a espécie e região de incidência. Aqui no RS tem cascavéis com uma concentração maior da substância chamada Crotamina. Essa toxina é um diferencial para produção de soro mais eficaz”, lembrou o biólogo Roberto Oliveira.
NOPA, criado por Thales de Lema, foi pioneiro no país
O NOPA foi criado em 1987 pelo professor Thales de Lema, um dos pioneiros do Museu de Ciências Naturais, da FZB. Com verba do Ministério da Saúde, Lema montou um laboratório de pesquisas e extração de veneno de serpente, a peçonha, para fornecer aos centros produtores de soro antiofídico nacionais. Em seguida, o professor organizou a Rede Nacional de Núcleos de Ofiologia( RENNO), criando nos estados núcleos similares ao NOPA.
“A FZB tem uma história brilhante de lutas e conquistas e possui um acervo científico invejável e internacionalmente usado”, ressalta Thales de Lema, especialista no estudo de anfíbios e répteis, e que ao lado de Ludwig Buckup deram início a maioria das coleções do MCN e lançaram a Revista Iheringia, as séries de Zoologia (1956) e de Botânica (1958).
Lema chegou a ser convidado pelo Laboratório Farmacêutico do Rio Grande do Sul (Lafergs) para criar o soro antiofídico gaúcho, tanto para uso humano como veterinário, mas não chegou a concluir o trabalho porque aposentou-se e assumiu como professor, em dedicação exclusiva, do Programa de Pós-Graduação em Zoologia da PUC, criando as linhas de pesquisa em Ictiologia e Herpetologia.

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