Antônio Alberi Malfi

Natural de Passo Fundo (RS), militou na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Preso em 1970, foi condenado pela 3ª Auditoria Militar de Santa Maria. Cumprida a pena, continuou sendo perseguido, tendo que exilar-se nos seguintes países: Chile, México, Bélgica e Argentina. Casado com Ieda Maria Andreatta Maffi. Após retornar do exílio, foi professor universitário, na Universidade de Ijuí, de Cultura Brasileira, Literatura Brasileira, Literatura Latino Americana, Literatura Portuguesa e Literatura Africana de Língua Portuguesa. Ativista político e dos Direitos Humanos, elegeu-se prefeito municipal de Braga (RS), por dois mandatos (1983/88 e 1993/96). Autor de um livro de poesias, escrito durante a prisão, que foi confiscado pelos militares.
Dos Motivos
Escrevemos porque nos falta o tempo
de purgar a grande dor coletiva
e na poesia que fazemos
trazemos nossa esperança rediviva.
Fazer versos é mais que manifesto:
hoje, é luta e testemunhos.
É um cerrar de punhos
e um grito de protesto.
Cantemos, pois, com a certa convicção
de que calar é mais trágico e atroz.
Infeliz o que sabe a canção
e, no entanto, emudece a voz.
Cicatrizes
Crava-se na memória
o espinho
e a dor escorre
como sangue.
Na desesperança desencarnada
de uma terra seca de searas
pedras sobre pedras
O suor é o sonho.
As manhãs e as claras madrugadas
foram apenas festas que a noite castrou.
O espinho encravado no miolo da esperança
na sutura dos ossos
no pêndulo do nervo
na paz do sangue
na sagração dos dias
na origem do pasmo
na confluência da dor
nas raízes da terra
e na carnadura da pedra
agride nossas cicatrizes.
No eixo do tempo,
a memória.
Mas não serei eu
agreste e perdido
que há de lavar o sangue
das mãos que mataram nos porões
do tempo.
Da dor vertida no peito
feito lágrima e fel
sabem o fio da faca
e prumo da História.
Da noite, sabemos nós
que viemos do mundo dos abismos
carregando almas naufragadas
salitre nas feridas
mágoas no peito
e engasgo na garganta.
Nós, que de muito plantar
no escuro da noite
as palavras que nos marcavam
os sonhos que nos embalavam
e os mitos que nos mantinham
restamo-nos, sobreviventes,
amanhecendo cicatrizes.
 
Precariedade
As precárias palavras
no papel
concentram a vontade do canto.
Mas nada se revela
nesta noite de mudez
que não sejam inúteis, velhos
e cansados gestos.
O nó na garganta.
A espinha do peixe
não fere mais que o silêncio.
Tudo é provisório
nesta noite.
Eu. Você. O ditador.
E o nó.
 

Um comentário em “Antônio Alberi Malfi”

  1. A VPR (Vanuarda popular revolucionária) foi um grupelho que promovia assaltos armados e roubos de bancos. Participou de assaltos e do sequestro do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, em dezembro de 1970, e também foi responsável pelo sequestro do cônsul-geral do Japão em São Paulo, Nobuo Okuchi
    Este grupo, do qual participaram Carlos Lamarca e a ex presidente Dilma Rousseff, assassinou em 26 de junho de 1968 o soldado Mário Kozel Filho, em um atentado ao Quartel General do II Exército, em São Paulo.
    Queriam implantar o regime comunista no Brasil, seguindo a cartilha marxista leninista.
    Hoje seus componentes, os mesmos que roubaram e mataram, foram indenizados nos governos da petralhada e centenas (ou talvez milhares) recebem aposentadoria paga com o dinheiro do trabalhador brasileiro.Isso mesmo. Com o teu dinheiro, com o meu dinheiro, com o nosso dinheiro.

Deixe uma resposta para MauroCancelar resposta